A ideia de que a Terra é plana é quase tão antiga como a História em si. Este conceito antigo tem existência documentada nas grandes civilizações da humanidade. Porém, como se iniciou este paradigma astronómico? Ou seria apenas uma reflexão do conhecimento do nosso planeta na altura?
Todas as civilizações têm uma história diferente sobre a formação do planeta. E, no entanto, todas são iguais. Existia uma massa terrestre, que estava rodeada de água e, se se viajasse tempo suficiente, ir-se-ia cair no abismo. Esta ideia é comum à mitologia grega, egípcia e nórdica, entre outras. Na mitologia egípcia Nu, a personificação do abismo aquático rodeia as terras secas e nelas se desenvolveram as civilizações. A mitologia nórdica, porém, já apresenta mais diferenças. Para além de um mar a circundar a massa terrestre, acrescenta depois desse mar uma serpente de proporções gigantescas e uma árvore central (Yggdrasill) que age como o eixo dos diversos mundos. Na Ilíada, quando Homero descreve o escudo de Aquiles, descreve uma Terra plana e rodeada por Oceano (uma das divindades primordiais). Contudo, não foi só Homero que pensava que a Terra era plana. Hesíodo, Tales de Mileto, Ésquilo e muitos outros filósofos também o achavam. De forma, resumida é esta a visão do mundo na ideia da Terra plana.
No entanto, existiram sempre defensores da ideia de Terra plana, assim como outros que a contradiziam. Pitágoras e Parménides reconheceram que a Terra era esférica e essa ideia passou a ser aceite na Grécia clássica. Eratóstenes leva a ideia mais longe e calcula a circunferência da Terra. Crates de Malos sugere que a Terra está dividida em continentes habitados, mas separados por oceanos. Oposto ao mundo habitado (oikomene) existiria uma região inatingível, devido a uma zona tórrida, denominada de antípodas. Esta ideia teve uma enorme influência no pensamento medieval. Por sua vez, Lactâncio, grande conselheiro do Imperador Constantino, goza abertamente com esta ideia perguntando aos defensores desta ideia por que razão os habitantes das antípodas não caem para aquela parte baixa do céu. Santo Agostinho, um dos grandes filósofos da Igreja, também é adverso da ideia considerando-a uma fábula. Como tal, a Igreja não vê com bons olhos os defensores da terra esférica, sem, no entanto, a considerar heresia. Só com a chegada dos sábios de Constantinopla e consequente alvorada do Renascimento é que esta ideia passa a ser mais bem aceite.
Para os povos das antigas civilizações a ideia de uma Terra plana era perfeitamente legítima, podendo a mesma ser explicada pela visão do mar como uma planície infinita. A inexistência de aparelhos astronómicos que pudessem provar a esfericidade do planeta ditou a perpetuação desta ideia durante séculos. Não podemos, no entanto, considerar a ideia de uma Terra plana como um reflexo do conhecimento do nosso planeta naquela época. Não é justo, os antigos não possuíam nem um décimo da tecnologia que possuímos actualmente. E mesmo com toda a tecnologia que possuímos não temos um grande conhecimento sobre o nosso planeta.