Há uns tempos, comecei a ouvir tanto barulho, onde só se ouvia o silêncio. Poucos foram aqueles que continuaram fiéis ao seu eterno sorriso e muitos deixaram de mostrar tantos dentes, quando se divertiam.
A casa ficou cheia, cheia de nada. Um vazio que em palavras daria alguns minutos de silêncio.
Caiu em desuso chegar a cama e dormir. Isso era antes. Antes das colunas terem sido postas em Off, da música ter acabado de tocar e da última nota ter sido proferida. Não houve aplausos, ou melhor, houve irónicos e pouco sentidos. Dignos de uma crónica do Eça.
Com tão pouco, faz-se tanto, mas sempre com tanto barulho por dentro e cá fora só se houve a estrada. Essa continua. E que rica e grande estrada.
A portagem cara, que aqui ninguém dá nada a ninguém, e não há aqui estabilizador de velocidade. Essa vai ao sabor do vento, pode ser que alguém nos apanhe.
Pode ser que no silêncio se ouça o barulho de alguém que corre atrás de nós com uma novidade de última hora: a estrada principal foi cortada e terás de caminhar por o atalho que achares mais pertinente.
Não penses que há escapatórias para repousares nem muito menos lugar para mudares o sentido. Caminha, em frente, e, se possível, não faças muito barulho. Deixa que o vento seja tão forte que encha o carro de barulho e todos possam ir calados.
Espera que o combustível acabe, que os pneus comecem a derrapar e que até a buzina já tenha perdido o pio.
Continua, veloz, forte e com o melhor motor do mercado e passarás sem ninguém dar por ti a gritar com aquele que fez uma ultrapassagem e nem sinalizou.