Um Jantar de Natal com menos Quilos

Recebi uma mensagem em que dizia que euzinha deveria entregar um artigo com uma ementa de Natal, mas (e vejam a ressalva, que este meu editor deve pensar que sou um super-herói) deveria ser algo com poucas calorias. Oh, Mãezinha, mas desde quando é que uma ceia de Natal tem poucas calorias? Alguém me diz? Na altura nem liguei muito, mas, na hora de escolher o menu, vi-me em apuros, porque todas as ideias que tive eram super-calóricas.

Vontade de esganar o meu editor foi pouco, no momento em que me apercebi dos problemas que tinha em mãos. No entanto, gosto pouco de chorar sobre o leite derramado e, por isso, toca de meter mãos à obra.

Toda a gente sabe que o problema do Natal não é apenas comer muito. O maior deles todos é o trabalho que se tem, principalmente se a nossa mesa calhar na rifa do ano em questão. Falo por experiência própria, porque stresso sempre nessa época festiva: imensas coisas para fazer e uma mania irritante de não delegar. Óbvio que o dia nunca tem horas que chegue… Por isso, este ano e sendo que somos apenas dois, resolvi pautar-me pela lei do menor esforço, que suponho que seja o eureka da maior parte de nós na cozinha. Psiu! Esqueçam as pastelarias e a comida já feita, que eu não falei em nada disso. Tudo caseiro, mas simples. Ai…

Vamos começar por um vinho quente e uma bebida fria. Eu cá gosto de cozinhar de copo na mão. É um ritual. Por isso, de há uns tempos para cá, farta de beber garrafas sozinha, resolvi fazer algo mais requintado: uma mistura perfumada que fui aprimorando, com 1/3 de Brasil, 1/3 de Cuba e outro terço de cor; passo a explicar:

Para cada copo:

Uma lima partida em quatro, macerada com duas colheres de sopa de açúcar e dois raminhos de hortelã. Misture 50 ml de rum e 125 ml de um xarope de fruta à vossa escolha. Cá em casa, costumo utilizar xarope de kiwi e lima, que fica uma delícia. Por fim, 4 framboesas (que podem ser congeladas, ou não) e Gelo… muito gelo. Para quem tem crianças, como é o meu caso, substituto o rum, só por xarope.

Bom e já temos a bebida para começar a cozinhar. O vinho virá mais para o final da noite.

Vamos às entradas?

Adoro queijo. Uma tábua de queijos e um vinho fazem as minhas delícias. No entanto, descobri com um amigo que existe uma forma muito mais rápida de fazer uma entrada, fazendo do queijo, o rei da mesma.

Por isso, corto metade de um queijo amanteigado às fatias grossas, pode ser de mistura ou não, consoante o que preferirem, e disponho numa assadeira que possa ir ao forno. Depois, vamos fazer magia com pimenta, alho em pó, um pouco de sal e muuuuiiiiittttoooos orégãos. Coloque por cima a mistura dos temperos e leve ao forno dez minutos antes de se sentarem à mesa, até tostar levemente. Acompanhe com pão, tostas, crostini, ou faça palitos de vegetais crus, para mergulhar no queijo derretido.

Bem, Miguel, estou a portar-me bem. Agora sim vou estragar tudo…

royce-category-potatochip-mildbitter-mood3Ora, no México é muito usual juntar chocolate a tudo e eu tenho um pequeno miminho para miúdos e graúdos. Apenas com uma barra de chocolate amargo para culinária, um pacote de compra de batatas fritas (comprem dos grandes, pois não vai sobrar uma para contar a história), um pouco de flor de sal e pimenta moída no momento… queram saber para quê?

Então, parto o chocolate em pedacinhos e coloco num recipiente que possa ir ao micro-ondas. Na temperatura máxima, marco 30 segundos de cada vez e vou mexendo até que o chocolate derreta completamente. Depois de derretido, abro o pacote das batatas, passo metade de cada batata no chocolate e coloco a secar numa bancada por cima de papel vegetal. Espalho um pouco de pimenta e flor de sal (muiiiito pouco) no chocolate, em cada batata

Pronto, Miguel, agora vou portar-me bem outra vez.

O que vem de seguida é a minha dor de cabeça: o Bacalhau… vou-vos ser muito franca. É daquelas coisas que nãoBacalhau aprecio… mas todos os anos era eu que o cozinhava, por isso feliz ou infelizmente é algo que cozinho de forma relativamente fácil.

Para este Natal, resolvi fazer um bacalhau, que se viu grego para chegar à mesa:

Ingredientes:

  • 400 grs. de bacalhau demolhado e desfiado;
  • 1 pacote grande de batata palha, ou 400 grs. de batata cozida;
  • 1 alho francês;
  • Azeite (no caso de a receita ser feita na Bimby, bastam 50 ml);
  • 1 caldo de peixe;
  • 1 cebola grande;
  • 3 ovos cozidos;
  • 200 ml. de natas;
  • 2 iogurtes gregos naturais (250 grs);
  • 100 grs. de cenoura, ou uma cenoura média;
  • Sal, pimenta e noz-moscada q.b;
  • Pão ralado, ou queijo ralado q.b.;
  • 1 copo de água (sensivelmente 200 ml.)

Preparação:

Pré aqueço o forno a 200º. Pico a cenoura, a cebola e o alho francês, junto o azeite e refogo até a cebola e o alho começarem a ficar translúcidos. Misturo o bacalhau já desfiado, junto o caldo de peixe e a água e deixo refogar por mais 15 minutos. Reservo o líquido resultante do refogado e coloco o bacalhau de parte.

Junto numa caçarola as natas, os iogurtes, o caldo resultante da cozedura e as gemas de ovos desfeitas e coloco ao lume, mexendo sempre até obter um creme homogéneo. Disponho num tabuleiro as camadas de bacalhau, alternando com as batatas e as claras cozidas. Cubro com o creme anteriormente preparado e pão ralado, ou queijo. E voilá! Forno para gratinar.

Enquanto o Bacalhau gratina e se prepara outra bebida (sim, que a primeira já se foi há muito), vamos preparar a sobremesa?

Vocês já sabem: as filhoses, os sonhos, são aqueles doces que são muito bons feitos pelas nossas mães, avós, tias. São aquele tipo de iguaria que, por mais que eu faça, é como a sopa de feijão da mãe, em que a dela supera qualquer uma. Por isso, nem me aventuro, já sei que é da casa dela que eles vêm directamente para a minha mesa. É por essa razão que vou fazer algo que adoro nesta altura do ano: Azevias. No entanto, antes de começarmos, uma pequena história…

Fotogr.0034Num dos Natais que passei no Alentejo, em que fiquei encarregue da ceia de Natal e em que mais uma vez não quis delegar a ninguém, depois de ter feito tudo, percebi que me tinha esquecido das azevias. Juro-vos que, quando olhei para o recheio e percebi que ainda tinha de ir amassar a massa e fritá-la, desejei ter o anel do Hobbit e evaporar-me dali para fora. No entanto, em cinco minutos tinha a solução ideal e muito menos calórica: se em vez de azevias, fizesse uma tarte? O recheio já estava feito, só tinha de fazer uma massa quebrada. Assim como o pensei, fi-lo. Posso dizer-vos que me deu muitíssimo menos trabalho e ficou bastante mais saudável. Querem ver?

Precisam de uma base de massa quebrada já preparada e os seguintes ingredientes para o recheio:

  • 500g de grão cozido;
  • 400g de açúcar branco;
  • 1 Casca de limão;
  • 2 Paus de canela;
  • 150g de amêndoas;
  • 2 Gemas;
  • Canela em pó para polvilhar

Trituro as amêndoas e o grão já cozido. Adiciono o açúcar, os paus de canela, a casca de limão, a amêndoa e as gemas e levo ao lume, mexendo até ficar no ponto. Pois, o que é o ponto, não é? É estar cremoso o suficiente para sabermos que vai solidificar, quando arrefecer, nem muito líquido, nem muito sólido. Coloco de parte, para arrefecer e estendo a massa comprada sobre uma forma de tarte. E pronto, é só levar ao forno a 180º, para cozer a massa e tostar um pouco o recheio. Para ficar com aquele toque de Natal, depois de fria, é só espalhar por cima um pouco de açúcar e canela em pó.

Com tudo isto, falta-nos algo para acompanhar a nossa sobremesa: o nosso vinho quente com especiarias. É uma óptima forma de beber vinho no Inverno e pode ser mais, ou menos doce, ou colocar as especiarias a gosto.

Eis como se faz:

Num tacho, coloco o conteúdo de uma garrafa de vinho tinto (passo a publicidade, mas gosto de usar vinho alentejano), 250 ml de Cognac, ou Brandy, uma laranja cortada às rodelas finas com casca, o sumo de outra, tendo o cuidado de guardar a casca para utilizar mais tarde, 1 Estrela de Anis, 3 paus de canela, 2 cabeças de Cravinho e 150 ml de Mel. Deixo aquecer e ferver lentamente durante 10 minutos. Pronto, está feito. Agora, basta colocar no copo que vão servir, com um pouco da casca da laranja que reservámos anteriormente.

É frugal? Sim, é, mas, meus amigos, costuma dizer-se que o Natal é quando um Homem quer e eu diria mais: a ceia é como um Homem quiser. O principal é termos junto de nós os que amamos, que é para mim, o ingrediente principal deste jantar.

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