O Dakar continua a ser umas das grandes provas desportivas do Mundo. A última edição contou com a participação de 665 competidores, de 53 nacionalidades. Um evento que é transmitido em 190 países num total de 1.200 horas de transmissão televisiva.
Esta prova de endurance começou em 1979, através de Thierry Sabine, o piloto francês que, em 1977, se perdeu no deserto da Libéria, quando competia no rali Abidjan-Nice. Quando regressou a França, o motociclista criou o conceito da prova. Assim, em 1979, nasceu o rali Paris-Dakar, partindo do Place du Trocaderó para uma aventura de 10.000 quilómetros até ao Senegal. A primeira edição contou com a participação de 182 veículos e o vencedor desta prova foi Cyril Neveu, ao volante de uma Yamaha 500 XT, tornando-se o primeiro de 74 competidores a chegar à capital Senegalesa.
Rapidamente, esta prova captou a atenção de milhões de pessoas. O fascínio criado pela aventura “de loucos”, os cenários e a participação de grande figuras do desporto motorizado, como Jacky Ickx, Henri Pescarolo, Thierry de Montcorgé, ou Ari Vatanen, o detentor do recorde de 4 vitórias. Algo que ainda hoje não foi batido.
Quem não se recorda da União Metálo-Mecânica? Em 1982, foi a vez da estreia portuguesa, a equipa UMM liderada por José Megre representar as cores nacionais nos desertos. As prestações dos pilotos lusos atraíram a atenção dos portugueses para as provas todo-o-terreno. Em 1991, através de António Lopes, Portugal esteve representado na categoria das motos.
A prova imortalizou Stéphane Peterhansel, que detém o recorde de 11 vitórias, 3 delas consecutivas, sendo que a segunda aconteceu em 1992, numa edição especial de 12.427 quilómetros, percorridos em 10 países e que teve final na Cidade do Cabo. O africano Hubert Auriol foi o primeiro homem a conquistar o Dakar em motorizada e automóvel. Nesta edição, ao volante de um Nissan, Teresa Cupertino tornou-se na primeira mulher portuguesa a entrar em prova.
Depois da edição especial que atravessou o continente africano, foi a vez de, pela primeira vez, a partida ter sido feita fora de Paris, no ano de 1995, o Paris-Dakar arrancou de Granada. No ano seguinte, foi a vez de Carlos Sousa, um nome incontornável do desporto, que detém o melhor lugar nacional na prova. Na edição de 1997, o roteiro foi Dakar-Dakar (lago Rosa) uma prova de 6.509 quilómetros, um ano em que assistimos pela primeira vez à vitória, na “Taça das Senhoras”, de Joana Lemos.
É na edição do milénio (Senegal-Egipto) que o mundo assiste à vitória do Buggy, pela primeira vez. Numa final faraónica ao pés das pirâmides de Gizeh, Jean-Louis Schlesser entrou para a história como o único homem a vencer o Dakar, ao volante deste tipo de veículo.
O Dakar é constituído por histórias de superação e, desde a sua primeira edição, conta com a participação de mulheres (7 na primeira edição), mas é no ano de 2001 que Jutta Kleinschmidt entra para a história da prova e do desporto mundial ao vencer a geral da prova, tornando-se assim a “Miss Dakar”. A atleta que já tinha participado nas edições anteriores, vencendo uma etapa em 1997, contou que a Mitsubishi lhe havia dado “carta branca” para aquele dia.
Pela mão de Joana Lemos, através da João Lagos Sports, o Dakar descobre Portugal e, em 2006, a partida é dada em Lisboa, um evento que mobilizou muitos portugueses que, há muitos anos, vinham acompanhando a prova através da televisão. Nesse ano, o número de participantes portugueses aumentou e Ruben Faria venceu uma etapa no Algarve. No ano seguinte, a prova voltou a ter partida na capital portuguesa. Em 2008, o Dakar conhece uma nova rota, já que, por motivos de segurança, a organização é obrigada a cancelar a prova na véspera do primeiro dia de prova. Ao choque dos participantes, veio a juntar-se a confirmação do pior, um ataque terrorista em Nouakchott, Mauritânia. A instabilidade em África leva a que o Dakar mude para a América Latina e, a partir de 2009, a prova passou a realizar-se entre a Argentina e o Chile. Neste novo formato, assistimos aos triunfos de Marc Coma, Giniel De Villiers, Carlos Sainz, Nasser Al Attiyah, Paulo Gonçalves, entre outros.
A fazer história desde o final da década de 70, o Dakar suscitou várias paixões e surpresas, assim como a participação da princesa Carolina do Mónaco, em 1985, ou de Mark Tatcher, que, em 1982, desapareceu, durante 6 dias. Neste livro de histórias do Dakar, é impossível ignorar as linhas escritas a sangue, em 36 anos são contadas 61 fatalidades, incluíndo a do criador da prova, Thierry Sabine, que descreveu que a prova é “um desafio para aqueles que vão e um sonho para aqueles que ficam para trás”.
Apesar da polémica que o Dakar gera, o desafio de Thierry Sabine continua vivo e a fazer sonhar milhões.