Tudo é e Não é

O título é abstracto, o livro também, ou melhor, não é, ou melhor, será? Manuel Alegre lançou Tudo é e Não é em 2013, concretizando um regresso – esperado por muitos – à cultura e à literatura desligada de politiquices. O livro é tudo e não é nada, mas passo a explicar o conceito, caros Leitores Sombra.

Ao ler a obra, vamos modificando o nosso estado de espírito em cada palavra, em cada frase, em cada virar de página. Com uma escrita muito pessoal, Manuel Alegre consegue-nos colocar num ritmo alucinante, queremos ler cada vez mais rápido e, sendo um livro pequeno, queremos saber tudo. Será a narrativa um sonho? Será a narrativa formada apenas nos devaneios do autor, roçando o patamar da escrita criativa? Será a narrativa uma épica história de suspense? Na verdade, é isto tudo. Não contem com uma história consistente, com uma daquelas personagens que nos acompanha para a vida. Não. Com este livro temos uma daquelas obras que podem permanecer na nossa secretária toda a vida. Porque vai haver, passado um mês, um ano, uma década, vontade de o ler outra vez, garanto.

Manuel Alegre conta-nos a obsessão de António Valadares, a personagem principal de Tudo é e Não é. Um escritor que vive num, aparente, sonho recorrente de onde não consegue escapar. António Valadares enlouquece numa busca incessante para dar sentido a episódios desligados uns dos outros, a sistemas que não estão interligados, a histórias desconstruídas na sua origem. Chegamos a um mundo onde personagens reais e personagens do foro imaginário se confundem e se misturam. Há tempo para uma discussão entre Lenine e Trotski, há tempo para passarmos em manifestações em Lisboa, há tempo para uma viagem ao nosso interior como seres humanos obsessivos e, claramente, complexos.

No entanto, há que o dizer, este não é a melhor obra de Manuel Alegre. Essencialmente, porque não nos traz nenhuma novidade, nada que não tenhamos lido noutras ocasiões, em histórias do mesmo autor com datas antecedentes à deste livro. Quem começar a ler, agora, Manuel Alegre vai ficar surpreendido com um livro muito bem escrito, poético mesmo sendo em prosa, introspectivo e sensato na insensatez, mas, para quem já leu outros trabalhos, vai, provavelmente, achar que este é apenas mais um no enorme espólio do poeta português.

Aconselho, então, a que sonhem. Explorem os caminhos entre a ficção e a realidade, este livro vai ajudar-vos nessa demanda.

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