Sempre tive um pouco a mania de ver filmes que não fossem mainstream, ou de massas. Tenho a ideia que talvez não se considerasse tanto esse tipo de cinema como nos dias de hoje. O que agora podemos apelidar de cinema de autor e que é acolhido por uma maior faixa populacional, e bem, era antes apelidado de esquisito, chato, ou aborrecido. Não digo que não gosto de ver um bom filme de super-heróis, sentado no sofá, ou que já não levei umas grandes secas com “fitas” aclamadas pela crítica. O antigo cinema King era um dos locias da capital onde se poderia assistir a cinema de qualidade, para variados gostos. Seria uma elite aquela que o frequentava. Pessoas que conheciam algum cinema, que tinham os horizontes já rasgados pelo querer conhecer e descobrir. Por gostarem de ampliar as suas referências.
Estávamos em Outubro de 2008. Mais uma vez fui ao King. Lembro-me que por esses dias, nos EUA, Barack Obama concorria contra John McCain para a presidência dos Estados Unidos da América. Muitas pessoas com quem falava ansiavam pela sua eleição, pela sua mensagem nova, fresca. Tinha algo de Mágico. Quarenta e cinco anos depois da marcha da liberdade de Martin Luther King, ele era candidato ao mais alto cargo na nação. Seria um feito. A escolha por um dos candidatos parecia-me óbvia, quando se liam e ouviam as demais propostas, retrógradas e perigosas
Depois de eleito a 20 de Janeiro de 2009, Barack Obama não viria a concretizar muito do que pensara e viria a desapontar muitos dos seus apoiantes. Goste-se mais ou menos dele, não se pode, contudo, negar a sua singularidade, a sua nova maneira de comunicar e pensar na política. Recorde-se a sua proposta para a saúde no chamado Obama Care, que pretende estender cuidados de saúde mínimos a toda a população. Algo que deveria ser universal, num país desenvolvido.
Pois nesse dia de Outubro, em que voltara ao King, e Obama era assunto frequente, quando me preparava para visionar o filme, escutei, de uma fila atrás: “O Obama, presidente dos Estados Unidos da América? Era o que faltava agora, elegerem um preto!“
Voltei-me. Não o esperava ouvir de um jovem frequentador do King. Tal como Obama, também a frase me marcou. E não me faz esquecer que a estupidez também gosta de cinema europeu.