Estamos em contexto real: Sarah (Rachel Weisz) obedece, até à exaustão, aos caprichos da rainha Anne (Olivia Colman), não por amor e serventia genuína à realeza, mas por meros interesses e jogos de poder. Até que Abigail (a maravilhosa Emma Stone) aparece em pleno palácio, clamando auxílio à prima Sarah, em busca de emprego. Rapidamente se percebe que os encantos de Abigail a iam levar longe e, aos poucos, a posição de Sarah ia sendo posta em causa.
O título do filme, “The Favourite“, (em português “A Favorita”), não é inocente e, ao longo do filme, vamos percebendo, de forma pouco surpreendente (pela genialidade e amplitude intelectual do maestro da antecâmara, Yorgos Lanthimos) que este não dá ponta sem nó.
Um filme com um argumento extraordinário (no sentido lato da palavra), que vai pecando, no entanto, por falta de clímax dramático, apesar da incomensurável e inegável criatividade/originalidade do guião. Não é que saiba a pouco, mas deixa o essencial em aberto. Os alicerces, o que sustenta a potencial obra-prima, são as interpretações do trio talentoso e amoroso (deixo este último termo para os curiosos cinéfilos que derem uma oportunidade à película), motivando três merecidas nomeações para a grande noite dos Óscares.
Dá para perceber como o Amor, ou a ilusão dele — dessa força e essência da humanidade — pode decerto ser bastante volátil e baseado numa conduta de profunda hipocrisia sentimental. O que importava era agradar à rainha para subir na vida e ir ganhando renome junto da nobreza.
O célebre realizador grego, Yorgos Lanthimos, argumentista do esplêndido sucesso “The Lobster” (2015), excêntrico na forma, visionário no conteúdo, abre as portas a uma narrativa que deixa um certo vazio no espectador, por não conseguir elevar a sua obra intelectual a um desenlace coerente e sentimentalmente certeiro.