Apreciei um destes dias um cenário em dias de férias, que resultou neste texto de hoje: estava numa esplanada a fazer uma das coisas que mais gosto me dá prazer na vida, observar o que acontece em minha volta.
E este quadro de hoje era o de uma família, pais, avós e um menino de 6 ou 7 anos, não tinha mais do que isso. Enquanto aguardava que o marido regressasse, já não sei bem de onde, sentada numa das cadeiras da esplanada da piscina, observava o panorama bem na minha frente.
Os avós sentados e o menino também, os pais em pé, a mãe muito preocupada em manter ocupado o seu menino, que apenas queria brincar com um pequeno carrinho que tinha na mão, em corridas imaginárias sobre a mesa, onde se encontravam três chávenas de café.
Perguntava a mãe ao seu filho: “Queres ir para a piscina ou para o parque?”, ao que o pequeno respondia com um muito ligeiro encolher de ombros, quase inexistente e sem forças, continuando na sua brincadeira, deliciado ao fazer o carrinho deslizar na mesa, por entre as chávenas do café.
Insistia a mãe quase em tom preocupado: “Tens de decidir o que queres fazer, tens de fazer qualquer coisa!” O pequeno encolhe os ombros e continuou na sua brincadeira, completamente alheado do que lhe estava a ser dito.
Alguém que explique a estas mães, que tendem a manter as suas crianças sempre numa rotina de tarefas e de ocupações constantes, ainda que algumas sejam lúdicas, que é necessário ter tempo para viver. Estas crianças precisam de tempo, simplesmente para estar no seu mundo, muitas vezes até mesmo sem fazer nada, precisamos de ter tempo desocupado, não temos de estar sempre a fazer qualquer coisa.
Deixem, por favor, as crianças respirar, existir e aproveitar alguns momentos de tranquilidade que a sua infância possa ter. Naquele momento, o menino apenas queria estar a brincar com o seu carrinho, na sua pista imaginária, quem sabe a fazer uma grande corrida. A imaginação dele a funcionar e talvez ele fosse um condutor famoso que teria nas suas mãos a viatura mais fabulosa do universo, e ninguém consegue perceber isso, além dele.
Ouvi em tempos um especialista dizer que as crianças também precisam de ter tempo para não fazer nada, ficar simplesmente quietos, deixar a cabeça funcionar sem pressões nem mil tarefas que lhes ocupam todo o dia, todos os dias, até nas férias.
Uma criança feliz é aquela que brinca, que gosta de criar fantasias com as suas brincadeiras, mas tem também que ter tempo para ser criança, tempo para sonhar e para se imaginar em aventuras e fantasias fabulosas.
Basta deixar-lhe algum tempo livre, com disponibilidade para viver, sem pressas nem obrigações, terão o seu tempo para essas coisas.
Se até durante as férias, a criança tem de se manter ocupada com mil atividades, ainda que não letivas, então como conseguirá ter tempo para ser criança e viver verdadeiramente a sua infância?
Não sou naturalmente uma mãe perfeita, nem tenho essa pretensão. Mas esta distinção e conhecimento do espaço que os miúdos precisam de ter, é para mim primordial, e sempre a tive muito presente.
A noção da importância dos momentos de ócio para a melhoria do nosso bem estar emocional, confere a garantia de que as condições estão criadas para um mais saudável desenvolvimento, se irão resultar ou não, já não depende apenas de nós. Importante para nós é saber que garantimos todas as condições para que as nossas crianças sejam muito felizes.