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Tempo de decrepitude

Há quarenta anos que Portugal tenta avançar, em termos absolutos e em muita coisa o conseguiu, em termos de equipamentos sociais, de infraestruturas de que não dispunha e mesmo num poder de compra, hoje, por vezes, difícil de reconhecer. Contudo, a dificuldade nesse reconhecimento é sempre perturbada com todos os problemas que uma crise profunda no país e nas famílias acarreta.

E se avançou em indicadores económicos, financeiro e sociais, muito parece ainda por fazer em termos de modernidade e de atitude social responsável e de toda a postura perante o que outros fazem e que tem implicações sobre a nossa vida, por sermos todos a contribuir com o parco que temos e o muito que pagamos.

O contexto actual de Portugal, das nossas contas públicas e das nossas dificuldades privadas, é bem mais instável do que as areias e terras pantanosas a que um dia Guterres se referiu.

E o problema, que não é um, obviamente, mas muito, acumulados por dezenas de anos de disparates cometidos por quem supostamente deveria estar bem preparado e de quem se confirmou um amadorismo por um lado, e uma intenção perversa em interesse próprio ou de grupo, por outro, é, o problema, que andámos em avanços e recuos, financeiro e económicos e, consequentemente sociais, demasiadas vezes. E já não seria de esperar que ainda estivéssemos neste mesmo impasse e neste ponto da nossa sempre prometida evolução.

A Europa foi uma promessa e, hoje, começa a ser bem mais uma dúvida, mas para alguns, sempre com medo de assumir uma ideia arriscada, é sempre o único caminho e o El Dourado do nosso futuro. Um futuro sempre em promessa e nunca uma autêntica realidade. E não é que chegámos a um momento em que já nem é a Europa, nem a solução total, nem o problema que não conseguimos aceitar e resolver, de acordo com a nossa especificidade?

Passámos por uma indescritível tomada de Poder executivo pelos Partidos que perderam as eleições, mas o pior ainda está a chegar. Se os eleitores não votaram maioritariamente na solução governativa actual, os que assaltaram o Poder com o apoio de uma Constituição que permite desmentir e desprezar a escolha de um povo, fazem de todos os dias a ignorância e a negação do que não foi a opção deste mesmo povo.

Não basta a inqualificável atitude de desconstruir, de repor e de desmantelar tudo o que um Governo lícito e legitimo anterior tinha executado. Na Educação, na Saúde, na Segurança Social, na Economia, nas Finanças, na Agricultura, na Cultura e em quase todas as áreas de intervenção governativa. Isto, numa atitude arrogante e profundamente anti-democrática.

Nada é suficiente, quando a única ideia consistente não é ideia alguma, mas tão-só uma vontade de tudo contrariar, de tudo desfazer por ter sido feito por um adversário político, no que se transformam adversários em inimigos e nos faz sentir existir um quase desejo de eliminação de qualquer pensamento divergente de todos os que não sejam socialistas.

Não é simplesmente possível que alguém faça tudo tão mal que logo na alternância governativa uma alteração diametralmente oposta se tenha de verificar. E a arrogância com que tudo se passa é por demais evidente pela realidade de tanta destruição do anteriormente feito passar por mãos de quem efectivamente perdeu as eleições.

Um país que se pretende democrático não pode ter uma Constituição que permita um Governo contra a vontade popular e ainda esse Governo se ocupe em desmantelar ao milímetro tudo o que outros, agora já inimigo e não adversário, com o ódio que uma democracia genuína não devia permitir. Contendas políticos, adversários numa democracia evoluída, ou no mínimo civilizada, não se auto-contradizem, porque sempre há um interesse maior que é o do Estado e dos que o constituem, sempre há um rumo que identifica um país. E se o não há, então é um país sem rumo, num caminho de desorientação, de caos e de decadência.

E é nessa senda decadente que nos revemos hoje. Não tem qualquer consistência alterarem-se exames e provas de um quinto para um sexto ano, de um oitavo para um nono e de novo se reverter, seja de que anos se trate. A inconsistência de tanto disparate segue a par com a falta de rumo, que vem da falta de coerência ou mesmo inteligência, por escassa que possa ser. Tomar medidas avulsas apenas para ser do contra e numa ginástica de vã demonstração de que se uns estão certos ou outros estavam totalmente errados, seria por si mesmo justificação de demissão de um Governo, tratasse-se de um país com consistente civilidade.

No entanto, esta inconsistência e incoerência de quem nos governa não parece preocupar um povo que mais se leva pelo vão encantamento de recuperação de algum rendimento, mesmo que ele não tenha, também, base sustentável para se manter nos anos vindouros.

Todas as medidas governativas actuais pretendem apenas demonstrar um caminho utópico, em que duvido que os seus actores acreditem, mas em que insistem, a bem de interesses que já vieram à luz defender, tanta desgovernação e tanto caos. Uma impossível e acelerada destruição financeira se irá abater sobre Portugal de uma forma bem mais violenta e, porventura, insustentável para quem já empobreceu e regrediu na sua vida, algumas dezenas de anos.

Os pequenos avanços deste país são sempre negados pelos enormes recuos que se sucedem, para apenas servir vaidades e interesses ilícitos de grupos ligados aos governantes.

As eleições presidenciais, com previsível vitória de um candidato, são outro sinal de uma decadente circunstância e triste conjuntura. Nem o candidato virtualmente vencedor esteve à altura dos seus desempenhos como agente político dos últimos anos, que, aliás, lhe granjearam o prestígio que falta a todos os outros.

Há um envelhecimento precoce nesta democracia, um desencanto preocupante e, sobretudo, uma falta de rumo como país, que confunde qualquer analista internacional, que faz vacilar um investidor externo e que retira qualquer confiança a investidores internos, ou a quadros de valor que podiam constituir uma esperança de futuro, num país que nunca seguiu sem recuos nessa senda de modernidade e de sucesso económico e social.

O desnorte atingiu Portugal desde o famigerado Sócrates e, desde aí, o rumo nunca mais se encontrou. À urgente e tão necessitada clarividência política, sucedeu o disparate e a destruição permanente de alguma coisa que se tivesse estruturado ou construído.

Não se vislumbra uma rotação e inversão desta tendência, e o país fermenta mais uma desgraça. Eminente. Encontramo-nos num labirinto e até parece que não iremos ter ajuda externa para dele sairmos.

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