Solo, episódio Star Wars

Foi com um misto de ceticismo e entusiasmo que me sentei na sala de cinema, para assistir a mais uma história Star Wars. Ceticismo, devido ao sabor agridoce reminiscente do filme “O Último Jedi”. Entusiasmo, porque afinal de contas, este seria um filme 100% dedicado à melhor personagem Star Wars de sempre: o rebelde, o resmungão mas charmoso, Han Solo. Ora, então, analisemos esta origins story que ninguém pediu, mas já que é Star Wars, pagamos o bilhete de bom gosto.

O filme decorre anos antes de Han se juntar à rebelião. Preso ao modo de vida criminoso do planeta Corellia, o jovem Han, tal como todos os outros pobres coitados, tem de roubar para sobreviver em troca de proteção de Lady Proxima, uma espécie de alien lagarta gigante, com muito mau humor. Apesar de tudo, Han tem a companhia da sua cara metade “pré-Leia”: a bela e intrépida Qi´ra (Emily Clarke). Juntos, sonham em deixar tudo para trás, comprar uma nave e viver uma vida emocionante de aventuras pelo espaço sideral. Quando a primeira oportunidade de escape se apresenta, depois de uma perseguição em carros planadores, tão típica de Star Wars, Qi’ra acaba por ser apanhada e Han promete voltar para a salvar.

Avançamos uns poucos anos no tempo e Han parece estar ainda muito longe de conseguir resgatar a sua amada ou de sequer pilotar uma nave. É no meio de uma batalha em Mimban que dá de caras com um grupo de mercenários. Estão ali para roubar uma AT-Hauler (nave de carga), para levar a cabo o golpe do século. Entre eles está Tobias Beckett, o líder. O papel, interpretado por Woody Harrelson encaixa que nem uma luva. O ator, cuja prestação em “Bem vindo à Zombieland” está no meu top 10, consegue com o seu típico humor sarcástico, fazer-nos importar por uma personagem que ao fim e ao cabo será mais mau da fita do que mentor de Han.

Também é aqui, no meio da guerra de lama de Mimban, que se dá o encontro mais esperado de sempre (sim, de sempre!): Han conhece Chewbacca (Joonas Suotamo). Sem spoilers, claro, mas é este o momento que catapulta o jovem Solo para a sequência de eventos que o tornam, anos mais tarde, o melhor piloto da galáxia. Porque Han sem Chewbacca, é uma ideia inconcebível. Foi então, como uma groupie histérica, que lancei um guinchinho de contentamento, quando surgiu a familiar cabeça peluda na tela. Eu e toda a plateia.

Este filme capta-nos precisamente por este momentos de “fan service”. Cenas que já sabemos perfeitamente que vêm aí, mas não conseguimos evitar aplaudir. Cenas como a origem do duo maravilha ou a primeira vez que Han tem um vislumbre da Millenium Falcon. O filme não faz o mínimo esforço de aprofundar mais as personagens que já conhecemos tão bem. Correm-se zero riscos. Ao fim e ao cabo, Star Wars tem agora a “luvinha branca” de Mickey Mouse a pairar sobre tudo, não é?  

Teorias da conspiração à parte, a prestação de Alden Ehrenreich não é má, tendo em conta que o papel originalmente desenvolvido pelo gigante que é Harrison Ford, é de uma responsabilidade esmagadora. Ehrenreich consegue ser credível numa versão mais ingénua e jovem de Han Solo: tem o charme, os trejeitos e as falas bem estudadas, sem ser uma completa cópia da interpretação de Ford. Aliás, este jovem Solo é mil vezes mais positivo que o Solo que conhecemos, não tão rabugento, como estamos habituados. Ainda bem. Se é para ver cópias, contento-me com o original. Harrison Ford será sempre Han Solo, tal como Sigourney Weaver será sempre Ripley ou Daniel Radcliffe, Harry Potter e Tobey Maguire o pior Homem-Aranha de sempre…

Aliás, a verdadeira estrela aqui é Daniel Glover que, em toda a sua glória, aparece em cena no papel de uma versão baby face de Lando Calrissian (o original capitão da Millenium Falcon): outra personagem com “big shoes to fill” e… fá-lo na perfeição! O ator tem percorrido um longo caminho desde os seus dias em Community (quem poderá alguma vez esquecer o épico “Troy and Abed in the morning”?). Seja como Troy, Lando, mcDJ ou Childish Gambino, perguntamo-nos se há algo que ele não saiba fazer (talvez crochet? Que digo! De certeza que os seus pontos altos duplos são mesmerizantes…).

Emilia Clarke, como Qi´ra, fica aquém da sua performance como “mother of dragons”, mas Paul Bettany como o crime lord Dryden Vos já é outra coisa. O pouco tempo que aparece no ecrã, deixa-nos a desejar por mais: há algo “delicioso” num mau da fita com maneiras e etiqueta, género The Merovingian aka The Frenchman (“Matrix Reloaded”).

Todo o filme se estende em cena atrás de cena, raramente coesas: muita ação, pouca história, mas de fácil digestão, com uns quantos momentos de gargalhada e emoção. Apesar de tudo, é um filme que voltaria a ver senão pela nostalgia inevitável de rever as épicas personagens da primeira trilogia.

 

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