Perdida num tempo que não tem horas, oscilo entre o antes e o depois, numa maré que me ondula por caminhos que não conheço, mas que também não me são estranhos. Deixo que o tempo me guie por um trilho que pode ser tudo ou nada, pode ser vida ou a falta dela, há momentos em que é importante simplesmente deixar-nos ir, sem grandes questões ou duvidas, ir por ir, sem razão e sem porquê.
A vida é demasiado dura e séria para ser sempre vivida da mesma forma. Sufoco nas horas do dia que me submergem para o fundo de uma agonia que não tem explicação. Sofro, porque sim e porque não, apenas por duas razões, mas são o suficiente para me desalentar e fazer perder o sorriso.
Cansada deste ritmo que apenas nos empurra para a frente, em que nos esquecemos de viver, e vamos simplesmente passando por entre os dias. Cedo ou tarde vamos aprender que tudo passa, tudo menos o que é importante, porque o que é importante prevalece, na realidade ou na nossa memória.
O regresso aos dias da infância é por vezes o bálsamo tão necessário à continuidade de uma vida “saudável”, emocionalmente falando, escasseia o tempo, aquele do relógio que nos condiciona e oprime nas ações, porque nunca há tempo, porque não é possível, enfim, a culpa não é nossa é do tempo que escasseia.
Ou será que a culpa é efetivamente nossa? Há momentos em que páro um pouco a pensar naqueles que mudaram toda a sua vida para ser felizes, será que é preciso mudar tudo para ser feliz? Porque não podemos nós ser felizes com o que somos e temos? Que espécie é esta a nossa raça humana, que nunca está contente com nada e pouca coisa nos satisfaz?
O deambular dos pensamentos permite por vezes arrumar as ideias, e articular melhor o que fazer daqui a pouco, mas é precisa a disciplina, para que o façamos de uma forma realmente sã, que não nos deixe envolver pelos nossos múltiplos afazeres e consequentemente deles fazer uma desculpa para tudo e para nada.
Somos quem tem a responsabilidade da nossa vida e com o que dela fazemos, é um dos melhores presentes que a idade nos confere, a serenidade de perceber quando devemos ou queremos ir ou fazer o que quer que seja. Perdidas no tempo, as inseguranças do que pode ser bem visto ou bem entendido, li algures que depois dos 40 as mulheres (pelo menos a maioria delas) começam a ter a maturidade de aceitar ou fazer, apenas o que lhes dá mais gozo.
E é essa a aprendizagem que eu tenho que fazer, aprender a dividir espaços e áreas emocionais, profissionais e até socias, no entanto, sem nunca esquecer o meu tempo e o meu espaço, para me ouvir, para estar apenas sozinha, no fundo para poder disfrutar da minha companhia. Se não estivermos bem connosco próprios nunca estaremos bem com os outros.
E acredito que esse é um dos grandes motivos da sociedade inquieta, egoísta e revoltada que temos, a falta de tempo e espaço, para que cada um se escute e se compreenda antes de mais, a si próprio apenas, depois disso estará preparado para a vida em sociedade.