Slow Living – Viver Devagar

Logo pela manhã, naquela aldeia do interior do Alentejo, as pessoas conversam na rua enquanto esperam a carrinha do padeiro. Do outro lado da casa, no quintal que dá para o campo, apenas se ouve o som dos pássaros. Com uma chávena de café acabado de fazer na cafeteira Italiana, aprecia-se a paisagem numa pausa da leitura de um livro. Pouco depois, o pão quentinho chega. Ainda a fumegar, derrete a manteiga num ápice e traz à memória recordações de infância. Uma das vizinhas não está e o padeiro deixa o saco do pão pendurado na porta. Paga ao final da semana. Ali existe total confiança, companheirismo e cooperação. A meio da manhã o vizinho que tem uma horta traz alguns produtos acabados de colher para partilhar o excedente com quem quiser.

Entretanto, o forno a lenha já quentinho recebe os bolos amassados no dia anterior e que ficaram a fintar durante a noite. Almoça-se sem pressas. Depois do almoço, o “homem da fruta”, que também tem uma mercearia ambulante na sua carrinha comprida de caixa aberta, chega com mais abastecimento para esta população já desprovida de qualquer loja num raio de 15km pelo menos.

À tarde, na taberna antiga, canta-se à desgarrada. Cante Alentejano, Fado, o que o vinho a copo ao fim de muitos copos apelar. Petisca-se o que houver: torresmos, chouriça assada, moelas em molho de tomate, azeitonas, queijos… sempre a acompanhar com pão tradicional.

Ao fim do dia algumas pessoas fazem caminhadas pelo campo à volta da aldeia. Apanham flores, espargos e poejos na época deles. O passeio só é interrompido pelos rebanhos de ovelhas que se atravessam no caminho para regressar aos casões onde comem e dormem.

Á noite, no Verão, as pessoas reúnem-se na rua para conviver ao serão. As crianças brincam às escondidas e ao peão. Os adolescentes vão de bicicleta até às aldeias próximas.

No Inverno, os serões são restritos à volta da lareira de cada casa, onde também se curam as carnes da matança do porco. Ao Domingo, fazem-se torradas no lume de chão e chocolate quente numa panela de barro pequena. Na grande, um Cozido à Portuguesa ou Sopa da Panela que dá para várias refeições da semana.

Esta rotina que parece ter ficado nos anos 80/90 ainda existe ou tem vindo a ser recuperada por muitas pessoas em busca da felicidade que essa simplicidade proporciona e é apenas um exemplo.

Há uma tendência crescente no mundo de explorar a experiência de abrandar o ritmo e viver “mais devagar”. A verdade é que temos vivido num ritmo frenético em que já não temos tempo para nada do que seja além da nossa rotina diária, e quando paramos estamos tão absorvidos pelos estímulos constantes da televisão ou da internet que nos esquecemos de usufruir de tempo útil em nosso proveito. Será assim tão difícil “combater” esse turbilhão de coisas em que estamos envolvidos e parar um pouco para cuidarmos de nós? Basta queremos e permitirmo-nos a nós próprios um pouco de ócio. Para tal existem diversas estratégias – e locais- à nossa disposição para nos ajudar a encontrar o equilíbrio essencial para a nossa sanidade física e mental. Todas as conhecemos e sabemos da sua necessidade.

Temos em Portugal imensos lugares onde podemos passar o tempo necessário para nos reorganizarmos e recuperarmos a essência de respeitar o nosso próprio ritmo. Ou simplesmente mudar de vida.

No Alentejo respeita-se o ritmo da Natureza. Com vagar.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico
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