Para quem segue – e cada vez são mais os aficionados no nosso país – a liga norte-americana de basquetebol (NBA) falar dos Philadelphia 76ers (Sixers) é sinónimo de derrotas. Nas últimas dez temporadas os Sixers são das equipas com mais derrotas no seu currículo e daquelas que poucos arriscam assumir como sendo das suas favoritas. E se disser que isto é apenas uma travessia no deserto, que tantas outras grandes equipas, noutros desportos, também passam, ou passaram? Ou se for ainda mais longe e disser que os Sixers são maiores que, por exemplo, os Dallas Mavericks de Dirk Nowitzki, os Los Angeles Clippers de Chris Paul ou os Cleveland Cavaliers, actuais vice-campeões da NBA, do mundialmente conhecido LeBron James? Se tinhas 10 anos quando começaste a seguir a NBA ou se apenas consomes aquilo que os nossos canais com os direitos da liga te colocam à frente, então é provável que estejas a pensar que isto só pode ser um ataque de algum pirata informático, mas não. Assim sendo, prepara-te pois a bola vai agora ao ar!
A origem dos Sixers data do ano de 1946 – uma das equipas mais antigas da NBA – em Syracuse. Na altura, e até 1963 quando se mudaram para Philadelphia, eram conhecidos como Nationals e só passaram a chamar-se de 76ers (Sixers) quando se mudaram para a cidade actual. Foi ainda como Nationals que conquistaram o primeiro de três (3) títulos de campeões da liga norte-americana em 1955, sendo que o segundo foi conquistado em 1967 e o último em 1983. Além disso, os Sixers contam no seu palmarés com nove (9) títulos de Conferência Este [a NBA está dividida em duas Conferências Este e Oeste] e cinco (5) títulos de Divisão [além das Conferências ainda estão subdivididas em seis Divisões, Atlântico, Central, Sudeste, Noroeste, Pacifico e Sudoeste], além de 47 apuramentos para os Playoffs [a última presença foi na época 2011-12].
Posto isto, conhecem aquela equipa chamada de Cleveland Cavaliers, que na temporada passada foi derrotada nas finais da NBA pelos Golden State Warriors, onde joga um senhor chamado LeBron James? Pois os tão falados Cavaliers, fundados em 1970, em 45 temporadas conseguiram 19 apuramentos para os Playoffs, nunca foram campeões da NBA, venceram a sua conferência por duas vezes e a Divisão por 4 vezes. Num ‘ranking’ que junta todos os títulos conquistados pelas actuais formações da NBA (30), os Sixers surgem como a 7ª equipa com um total de 17 conquistas, apenas suplantados pelos Los Angeles Lakers (70), Boston Celtics (59) – são a equipa que mais vezes venceu a NBA (17), com mais um titulo que os Lakers – San Antonio Spurs (31), Chicago Bulls (21), Detroit Pistons (19) e Miami Heat (19). A equipa da moda, e actuais campeões, os Golden State Warriors de Stephen Curry, aparecem como a 9ª equipa mais conquistadora com 14 bandeiras no tecto do pavilhão [sim, os americanos não gostam só de içar a bandeira do seu país, mas igualmente de assinalar as conquistas com bandeiras a condizer].
Equipas que têm sido mediáticas e capazes de conquistar adeptos nos anos recentes como os LA Clippers – os “patinhos feios” de Los Angeles – contam apenas com 2 conquistas na sua Divisão e ambas nos últimos anos (2013 e 2014). Nets, Magic, Suns, Jazz, Pacers, Hornets, Nuggets, Grizzlies, Timberwolves, Pelicans e Raptors fazem companhia às equipas de Cleveland e Los Angeles (Clippers) no grupo dos que nunca içaram uma bandeira no seu pavilhão a dizer “NBA WORLD CHAMPIONS”.
Se é verdade que historicamente os Sixers até entram no top 10 dos melhores ‘franchises‘ da Liga, não é menos verdade que de facto nos últimos 10 anos têm sido uma das piores com apenas 4 presenças nos Playoffs – a última em 2011-12 – e este ano já é oficial que também não vão atingir esse objectivo, sendo nesta altura a grande candidata a registar o pior registo de vitórias/derrotas na NBA (seguem com 9 triunfos em 66 jogos, faltando 16 partidas para terminar a época regular).
Podemos marcar o início da queda dos Sixers no ano de 2006, quando ainda contavam com uma das estrelas da NBA dessa altura, Allen Iverson, que viria a fazer um ultimato à direcção, “ou fazem algo para tornar a equipa capaz de conquistar algo ou então troquem-me!”.
Exacto, os Sixers trocaram Allen Iverson, a sua última grande estrela, para os Denver Nuggets e nunca mais apareceu em Philadelphia outro jogador com semelhante estatuto, sendo que daí para cá é o cenário que já foi falado.
Muitas indefinições na própria direcção da equipa, com saídas e entradas de dirigentes e equipas técnicas, muitas trocas sem sentido, más escolhas nos Drafts [processo de selecção dos melhores jogadores vindos das universidades] estão igualmente na origem desta travessia no deserto de uma equipa que tem um palmarés bastante rico e com uma história da qual fazem parte grandes nomes da NBA como Wilt Chamberlain, Julius Erving, Moses Malone, Charles Barkley, Dikembe Mutombo, Hal Greer (o melhor marcador da história da equipa) e o já citado Allen Iverson (o último MVP da equipa que os guiou à última final em 2001, perdida frente aos Lakers de Kobe Bryant e Shaquille O’Neal).
Tendo em conta que nas últimas duas temporadas, mais os números da época a decorrer, registam apenas 45 vitórias em 228 jogos realizados, seria fácil dizer que as perspectivas de futuro são poucas ou nenhumas, no entanto há pontos que merecem destacar e que dão ainda algum alento aos fãs da equipa de Philadelphia.
Se há uma coisa boa que as más temporadas dão às equipas é a possibilidade – em teoria – de serem das primeiras equipas a escolher jogadores que saem das equipas universitárias para a NBA. Sendo os primeiros têm maiores probabilidades de “pescar um peixe graúdo” – novamente, em teoria – e a partir daí começar a construir uma base que terá de ser complementada com outros jogadores mais experientes, sendo o ideal atrair alguma estrela com vontade de mudança, sendo este último caso ainda pouco provável para os Sixers.
Nesta altura, caso a direcção não decida tomar alguma medida louca, os Sixers contam com um leque de cinco jogadores que já dão garantias de poder formar uma boa base para o futuro composta por Jahlil Okafor (primeiro ano na NBA), Nerlens Noel, Jerami Grant, Ish Smith e Robert Covington. Há ainda uma incógnita muito grande de nome Joel Embiid, jogador de quem muito se espera(va?), mas que as lesões ainda não deixaram demonstrar nada.
Se tivermos em conta que nos EUA anda tudo ‘louco’ com um jogador da Universidade de LSU de nome Ben Simmons, que é já comparado a LeBron James, e que os Sixers têm grandes possibilidades de vir a ser a primeira equipa a escolher no próximo Draft, parece fácil fazer as contas, certo? Veremos. Mas uma coisa é certa, nunca mais digam que os Sixers são a pior equipa da NBA, porque a história existe para nos relembrar que por vezes há gigantes que andam adormecidos e quem sabe daqui a pouco tempo não ocuparão o lugar dos Warriors que até há meia dúzia de anos ninguém os conhecia e que ostentavam a reputação que agora pertence à equipa de Philadelphia.