É do senso comum que o Médio Oriente é detentor das maiores reservas petrolíferas mundiais, cerca de 60% do petróleo provém desta região, o que o torna um ponto de interesse na política e na economia internacionais. Para além disto, é uma importante rota de passagem, num mundo cada vez mais próximo, entre três continentes (Europa, Ásia e África). Talvez por estas razões, a abordagem do Ocidente sempre foi feita a partir de uma perspectiva geopolítica colonialista.
O objectivo do Ocidente sempre foi claro, ter um Médio Oriente “estável” e “manobrável”, a democracia sempre foi secundária. Uma vez que, durante décadas, acreditou-se que esta estabilidade só poderia ser mantida por governos autoritários. Embora já se denotem algumas alterações a esta posição, ainda hoje vários países Ocidentais têm relações amigáveis com regimes deste tipo. Veja-se o caso da Arábia Saudita um dos principais parceiros do Ocidente na região. Segundo Noam Chomsky, filósofo e activista político norte-americano “o que importa de verdade na política dos EUA para os exportadores de petróleo é o controlo, mais do que o acesso a petróleo”, e os regimes autoritários, através da repressão, conseguiram durante algum tempo afastar do poder os partidos islâmicos, os grupos de esquerda bem como os radicais extremistas que certamente alterariam as regras do jogo na detenção, exploração e comércio do petróleo.
Segundo Irfan Ahmad, professor de Antropologia Política da Monash University na Austrália e autor do livro Islamismo e Democracia na Índia: A transformação do Jamaat-e-Islami, desde os anos 40s sempre existiram tentativas por parte de movimentos civis para estabelecer a democracia no Médio Oriente, mas o Ocidente sempre as subverteu com vista a atender os seus próprios interesses. Recentemente, em 2011, assistimos a revoltas, protestos e manifestações em vários países: Tunísia, Egipto, Líbia, Síria, Iémen, Argélia, Iraque, Arábia Saudita, entre outros. O movimento ficou conhecido por Primavera Árabe, mas tomou formas e resultados diferentes para cada um dos países, evidenciando em alguns casos o turbilhão de conflitos internos de cada um. Palestinianos, judeus, curdos, xiitas, sunitas continuam hoje a lutar pelo poder territorial, mas cada um deles é assunto por si só para outro artigo.
A região é hoje palco de guerras que duram há vários anos e que para já não têm fim à vista. A guerra do Iraque começou em 2003 e, apesar dos EUA terem atingido o seu objectivo inicial, passada uma década ainda não conseguiram entregar o poder às autoridades locais, dada as divergências que facilmente originariam uma guerra civil. A Síria é outro exemplo que dura há cinco anos e que já originou a maior vaga de refugiados desde a II Guerra Mundial. Ainda podemos adicionar o conflito Israelopalestiniano, a guerra civil do Iémen e a tensão em redor de possíveis armas nucleares do Irão. Fará sentido falar de Democracia sem antes discutirmos a Paz?