Pais viciados nos filhos? Será que existem? A palavra vício não será demasiado pejorativa para classificar a relação que os pais têm com os seus filhos?
A formula mágica de criação, de educação e de passagem de ensinamento que nós pais temos com os nossos filhos é única. Há coisas mais valorizadas nuns e menos valorizadas em outros, mas a sua essência é única. Assim como somos nós pais e como são os nossos filhos. Únicos. Fazemos a diferença na vida uns dos outros diariamente. Influenciamos pelo que comunicamos. Física ou verbalmente. E eles absorvem. Pequenas coisas que nos parecem passar ao lado, muitas são as vezes, que a eles não passam. E surpreendem-nos. Diariamente.
Permitam-me refletir que, se há filhos que são – verdadeiramente – programados e desejados, existem também os que não são assim tão programados e talvez não tão desejados, mas serão aceites e integrados na rotina do dia a dia. Existem pais que se preparam verdadeiramente para a chegada dos seus filhos, ainda que esta preparação seja sempre muito teoria, a verdade é que se preparam. Que param para pensar, refletir e analisar. Que param também para sentir. Que param para ler, para estudar e pesquisar. Enfim… Preparam-se na melhor teoria para mais facilmente passarem à prática. E existem outros pais que não se preparam. Que acolhem os filhos no melhor que sabem, mas sem os “rituais” de preparação.
Quando os filhos nascem, aí a teoria passa verdadeiramente à prática. E tudo se transforma. Tudo. Não sabemos como serão os nossos filhos. Se vão chorar muito. Se vão ter muitas ou poucas dores. Se vão dormir muitas horas ou acordar a cada hora. Não sabemos. Vamos-nos moldando. Vamos acertando ponteiros. E o tempo vai passando. Vamos acompanhando o crescimento e vamo-nos fazendo presentes. Cada um à sua maneira. Cada um com as suas prioridades.
Contudo, não nos podemos esquecer de nós. De nos sentirmos bem na nossa pele depois de tantas mudanças. Depois de tantas adaptações. Há o tempo necessário para isto tudo e para depois retornar à (nossa) base. Ainda que possa ser mais fácil para uns do que para outros, acredito na frase “Os filhos não são nossos. São nos emprestados para depois os darmos ao Mundo”. Dá muito para pensar e refletir. Também em tempos fomos nós os bebés, as crianças e os adolescentes. E também nós fomos dados ao Mundo. E a verdade é que se para alguns isto de os “darmos ao Mundo” é encarado de forma leve. Para outros não.
Projetamos tantas coisas nos nossos filhos. Medos, vontades, ansiedades, sonhos. E eles são, muitas vezes, o nosso maior – e melhor – reflexo, mas eles são nossos filhos. Não somos nós em – novamente – pequenos. Eles têm os medos, as vontades e os sonhos deles. Eles são parte de nós, mas com essência deles. Se os vivermos de forma saudável, será a melhor opção para eles e para nós. Aproveitar cada momento, não será, de todo, um vício. Fazer memórias boas de cada dia é a melhor homenagem que podemos fazer, a eles e a nós, mas vivê-los de forma sufocante, sem lhes darmos asas, sem permitirmos que a essência deles se manifeste, vai impedir que eles sejam o melhor deles. Torná-los dependentes e “cópias” daquilo que eles de verdade não são. Até a natureza nos ensina isso. Nas lagartas que têm que sair sozinhas do casulo para se tornarem lindas borboletas. Nos passarinhos pequeninos em que a mãe – no tempo certo – os “atira do ninho” para que eles aprendam a voar. Sozinhos. Ela fica a observar.
Há sabedoria na Vida e um ingrediente poderosíssimo que se chama Tempo. Em tempos fomos os filhos, hoje somos os pais. Se nós pais nos tornarmos mais conscientes e curados de algumas feridas, passaremos o melhor para os nossos filhos. Eles manterão a sua essência única e nós vamos permitir-nos manter a nossa. Cada um leva o seu tempo. Cada um define as suas prioridades. E nesta sabedoria da Vida, sugiro… E se não houvesse o amanhã, o que iria o meu filho recordar de mim?