Ser pleno naquilo que fazemos não é linear, pois as circunstâncias, os papéis que representamos e as máscaras que usamos nos mais diversos contextos, podem fazer-nos cair na tentação de nos afastarmos de nós próprios, deixando-nos reféns das camadas a que nos impomos e que nos desviam do que verdadeiramente importa, aquilo que Fernando Pessoa tão bem gravado: sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.
Por isso, vejo na simplicidade o essencial para uma vida em coerência entre o que fazemos e o que somos, porque a simplicidade não nos dá margem para grandes desvios, porque é real e não representação. E quando não nos desviamos da nossa verdade, estamos em nós próprios, tal como somos, sem esforço e em segurança. E é nesta coerência que encontro a liberdade. E há lá coisa melhor! Isto é ser. Tal não significa não assumir papéis ou usar máscaras, até porque fazem parte da nossa condição humana e de seres sociais que somos. Mas se os papéis e as máscaras estiverem alinhados com os nossos valores e com aquilo que verdadeiramente somos, estaremos a ser reais nos diversos contextos e circunstâncias da vida, não permitindo que a estrutura do nosso ser seja defraudada e camuflada. Para mim, isto é pôr quanto és no mínimo que fazes.
A meu ver, a liberdade de ser é uma escolha que nos leva a um maior auto-conhecimento e, em consequência, a um maior equilíbrio entre corpo, mente e coração, os nossos três inseparáveis. E viver nesta harmonia é viver num lugar de tranquilidade. Porque, perante os eventos externos, estamos mais bem preparados para os enfrentar e lidar com estes. Essa verdade, que a cada um pertence, relaciono-a também com a entrega, a nós mesmos, às coisas e aos outros, naquilo que é nada mais do que aquela grandeza e inteireza de que Fernando Pessoa falava, porque nada nosso exagera ou exclui. Pois, se formos a versão, consciente, que soubermos ser em cada momento, atingimos o todo, o nosso todo, que é o que verdadeiramente somos. E não importa o quão grandes somos em altura, mas sim a grandeza da nossa essência, da nossa entrega, que é nada mais do que o amor, aquela coisa onde tudo cabe, de onde tudo sai e para onde todos queremos ir e ser.
Parece simples, mas o simples quase sempre é o mais complicado. Mas é neste equilíbrio que reside o desafio e que nos faz ser o melhor que sabemos, mas nunca deixando de procurar ser mais e melhor.
Para ser grande, sê inteiro: nadaTeu exagera ou exclui.Sê todo em cada coisa. Põe quanto ésNo mínimo que fazes.Assim em cada lago a lua todaBrilha, porque alta vive.