Assinala exactamente neste mês, 30 anos desde que a série “Seinfeld” estreou nas televisões norte-americanas. O sitcom que revolucionou completamente o conteúdo televisivo de comédia e que serviu de inspiração para muitas das séries que conhecemos como: “FRIENDS”, “A Teoria do Big Bang” e “How I met your mother”. Na verdade, quando foi lançada não se esperava que alcançaria o sucesso que teve, mas durante nove temporadas conseguiu criar um diálogo com tópicos interessantes e ainda animar o público. Esta série de culto é ainda hoje uma referência na cultura pop, mas começou por ser uma “série sobre nada”, pois apenas retratava o quotidiano normal de quatro amigos em Manhattan.
Como começou?
Para falarmos da série “Seinfeld” temos que falar primeiro no homem que a criou, Jerry Seinfeld. O mesmo atribuiu o seu nome ao show e além de criar grande parte dos textos, também foi ator principal. Tudo começou em 1976 quando Jerry um rapaz com um jeito natural para a piada com intervenções espontâneas e inteligentes, sobe ao palco para a sua primeira apresentação de stand-up comedy. O sucesso foi crescendo e o seu nome foi recebendo destaque. Em 1988 Jerry foi abordado pela NBC para a criação de um sitcom. Juntamente com o comediante Larry David, Jerry Seinfeld, criou a sua própria série. Ainda nessa altura não sabia que seria das mais vistas de sempre. Tudo começou a ser planeado apenas como um especial de comédia de apenas 90 minutos, mas tópico junta tópico e no total conseguiram ficar nove anos na televisão. Larry e Jerry desafiavam um ao outro com perplexidade sobre os diferentes paradigmas sociais. No final dos anos 80 era poucos os tópicos mais impertinentes que eram comentados na televisão. Esta série desafiou tudo e todos.

Qual é o assunto?
Para um argumento mais completo e fiável, criaram um conjunto de quatro personagens principais que ainda hoje nos lembramos, são eles: Jerry, George, Elaine e Kramer. Cada um com uma personalidade distinta. Jerry (Jerry Seinfeld) interpreta dele próprio. Mais ajuizado, mas sempre com uma palavra sarcástica ou comentário depreciativo na ponta da língua. George (Jason Alexander), o neurótico e demasiado irritável. Mesquinho e desonesto, consegue estar quase sempre em apuros. Elaine (Julia Louis-Dreyfus), ex-namorada de Jerry, inteligente e confiante, consegue ser demasiadamente honesta com as pessoas, algo que lhe traz algumas confusões. Kramer (Michael Richards), o vizinho de espírito livre de Jerry que vive a vida no limite. Interrompe sempre a casa do vizinho para lhe pedir comida, e tem um penteado peculiar. O que foi extraordinário nestas personagens é que todas foram baseadas em pessoas verídicas da vida de Jerry e Larry. Além destas recorrentes, destacam-se outras como o insuportável Newman e o espalhafatoso pai do George.
Sem dúvida que “Seinfeld” mudou a forma como se fazia televisão. Cada episódio começava sempre da mesma maneira. Jerry dava a abertura com um diálogo de stand-up comedy, focando-se em temas banais do dia a dia e questões mirabolantes, mas que realmente fazem sentido. “Seinfeld” não era um sitcom normal. Não existiam personagens heróicas, nem finais felizes. A verdade nua e crua sobre situações reais e dúvidas existenciais, com relacionamentos amorosos falhados, comportamentos sociais e complicações de emprego.
Qualquer fã que conheça a série, sabe que esta é uma série sobre nada. Isto, porque, num dos episódios, George e Jerry discutem sobre a probabilidade de criarem um show. Em conversa, referem que não precisam de uma história fixa, mas criam um show sobre nada, onde cada um deles pode ser uma personagem. Na realidade, foi quase isto que aconteceu. Contudo, Larry afirmou que na verdade esta série é sobre tudo, pois foca-se em todas as situações, que nós como seres humanos nos sentimos familiarizados.
Sucesso
Já referi que “Seinfeld” revolucionou a época da televisão moderna. Temas tabu como orgasmos, métodos contracetivos, aborto e masturbação eram comentados sem pudor e até com episódios dedicados inteiramente ao assunto. A personagem Elaine, foi considerada das melhores personagens femininas da televisão. A sua atitude feminista e o à vontade a falar as relações amorosas que ia experimentado, valeram-lhe esse título. No início dos anos 90 tais assuntos ainda não eram frequentes.
Contudo, não foi só do fantástico texto e frases mediáticas que conhecemos o sucesso desta série. Vários são os episódios que estão marcados na nossa memória. Um dos melhores episódios do show foi “The Chinese Restaurant”, na segunda temporada. Apesar do descontentamento dos produtores com o argumento deste episódio que, durante 20 minutos, se passou num restaurante, enquanto as personagens esperavam a sua vez para conseguir mesa. O resultado final foi de um sucesso enorme, pois em nenhum outro programa de televisão tal aconteceu. Este episódio foi real, apresentado uma situação banal que já nos aconteceu, como esperar para comer num restaurante. Relembro mais episódios como “The Soup Nazi“, na sétima temporada, quando Elaine decide quebrar as regras no restaurante com a melhor sopa da cidade. Porém, a frase “No Soup for you” é aquele ponto alto que ainda nos lembramos. Já o peisódio “The Contest” foi vencedor de um Emmy, onde desafiou as personagens a um concurso para quem conseguia ficar mais tempo sem se masturbar. Um pouco mais polémico mas que conseguiu conquistar a audiência, pela efectividade com que conseguiram retratar o tema.

“Seinfeld” é uma série sem politiquices que merece o seu lugar no pódio dos melhores sitcoms da televisão. Foi o pioneiro em muitos assuntos tabus e conseguiu servir de inspiração para outras séries do género. Ainda hoje conhecemos alguns ensinamentos de Seinfeld sobre temas banais, mas muito presentes no dia-a-dia. O grupo de personagens ficcionais apresentadas conseguiu adequar-se bem à realidade e espelham-se ainda na sociedade moderna. Apesar do que ter falhado foi o desenvolvimento da série, que não crescia com uma história linear, valeu-lhe a imensa piada que tinha e a simplicidade de apresentação dos temas. 30 anos depois ainda deixa a sua marca na televisão.