Há vinte anos, as crianças eram aconselhadas a não abrirem a porta a estranhos e que nem pensassem em dirigir-lhes a palavra. Nos dias de hoje, a situação alterou-se para que um simples click, ou uma opinião com apenas dez palavras, ligue uma pessoa a outras tantas, que poderão ser colegas de trabalhos, família, amigos e até mesmo desconhecidos. É um fenómeno que aconteceu a todos nós e nem nos apercebemos. Para Nicholas A. Christakis, um físico e cientista social americano, que é professor na Universidade de Harvard com funções também nos Departamentos de Política da Saúde e Cuidado, Sociologia e Medicina, este fenómeno suscitou-lhe interesse e, por isso, decidiu elaborar um estudo sobre o mundo oculto das redes sociais. Para além da clara ligação existente entre as pessoas, descobriu que um estranho pode influenciar-nos a vida e até levar-nos à felicidade.
Segundo uma conferência do grupo TED que o cientista deu em 2010, tudo começou há 15 anos. Christakis encontrava-se na Universidade de Chicago no Departamento de Medicina a cuidar de pessoas que estavam em situações terminais e das suas famílias. Simultaneamente observava o que acontecia aos seus doentes e às famílias, de modo a estudar os efeitos da viuvez na vida das pessoas. O efeito da viuvez assenta na premissa de que, quando uma pessoa morre, a tendência para a sua “cara metade” seguir o mesmo caminho aumenta (muito semelhante a “morrer de coração partido”). O mesmo acontece com as restantes pessoas que conhecem a pessoa que está em fase terminal. Para Christakis, esta é uma das manifestações da rede social: a morte de alguém influencia a vida de outro, caindo no risco de seguir o mesmo caminho.
Para melhor explicar esta situação, Christakis faz diversas analogias recorrendo ao acto de fumar e beber, mas é a analogia com a obesidade a mais curiosa. Acontece que a probabilidade de uma pessoa ser obesa aumenta, se no círculo de amigos, ou na sua família, existirem também obesos. Existe, nesse sentido, uma conexão infinita entre as pessoas e que, a partir desta ideia, podem-se originar outros fenómenos e compreender milhares de emoções. Ou a pessoa ganha peso com os amigos e fica obesa, devido aos costumes que os ligam, ou faz exactamente o oposto – pois não quer ficar como os amigos.
É possível, assim, verificar que pequenos traços, ou situações que ocorrem na vida de um indivíduo, podem-se expandir para outras tantas pessoas e, simultaneamente, o espaço que nós ocupamos numa rede social pode influenciar a nossa vida. O mesmo acontece com as emoções (a felicidade, a solidão e a depressão). Se na rede social da pessoa A, houver alguém extremamente feliz, a tendência será o contagio dessa felicidade para os amigos. Esta é a principal explicação que Christakis apresenta para o facto de ser tão importante para uma pessoa deixar escapar emoções numa rede social e de estas serem tão contagiantes na comunidade nela inserida. As emoções são, por isso, um fenómeno colectivo. Outro exemplo é o simples facto de sorrirmos de volta para uma pessoa num transporte público (em especial nos metros). Pode ser alguém do nosso grupo de amigos ou alguém desconhecido, acontece que é instintivo que sejam transmitidas emoções às pessoas.
Em suma, este estudo realizado por Nicholas A. Christakis faz-nos crer que a tendência é de que comece a existir uma evolução das redes sociais. Está nos genes do ser humano partilhar emoções e as redes sociais, como o Twitter, ou o Facebook (e tantas outras), são apenas mais um meio de realizar esse acto que pertence à nossa natureza. Que existam pessoas que partilham demais, também é verdade, mas da próxima vez que as vir, lembre-se: está no gene do ser humano. Se ficou curioso relativamente a esta teoria, pode ainda ver este vídeo.