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Saudade

Tão enigmática e intraduzível que é a saudade, esse silêncio que chama por um presente passado, que às vezes vai e vem como as ondas do mar e outras surge de forma tão brusca como uma tempestade, mas sempre a rimar com felicidade. Felicidade de um tempo que passou.

Com o tempo, parece que a saudade vai ocupando cada vez mais terreno no nosso coração. Saudade da mais diversa ordem. Talvez porque, muito embora o tempo nos traga muitas coisas boas, é também o tempo que nos vais tirando outras tantas…

Quase sempre, é com a morte de alguém que amamos que a saudade nos vem lembrar da nossa finitude, tirando-nos bocados como se nos amputasse membros do corpo, sem recuperação possível. E é esta a saudade que mais dói… É difícil de explicar e também de entender, principalmente por quem nunca sofreu o embate deste tipo de perda. Todavia, ao mesmo tempo que a morte nos tira bocados de nós, também nos vai deixando vida. Pois, perante a perda e a falta da pessoa ausente, a saudade pode ser diluída e transformada através das nossas acções e no caminho que temos que prosseguir, mesmo com dor, mas com o legado de quem já tivemos fisicamente presente.

A vida e a morte andam sempre de mãos dadas. Porém, a vida faz questão de nos mostrar que há mais vida para além da morte. Parece confuso, mas é assim que as coisas são. Basta-nos sentir a presença de alguém que já partiu, através das nossas atitudes, dos nossos valores, dos retratos das molduras, das acções que praticamos, das brisas que cheiramos, dos sons que ouvimos, das coisas, dos lugares que frequentamos… É aí que a saudade reside e que sentimos a vida de quem já partiu. Talvez seja uma forma de vida da saudade.

Cada um de nós tem o seu sentir, e nisto de emoções ninguém é especialista em coisíssima nenhuma. Agora uma coisa é certa: quando sentimos saudades, é porque outrora sentimos felicidade. Isso ninguém nos tira. No entanto, penso que é impossível não sentir a dor da saudade. Faz parte da vida e temos que saber aceitá-la e dissolvê-la com os pacotes de açúcar que vamos encontrando pelo caminho, transformando-a em agridoce. Claro que custa e não somos todos iguais. Mas a verdade é que o que perdemos não volta e, de todos os caminhos possíveis, parece-me que o do sentido único é o mais certo. Ou seja, seguir em frente. Caso contrário, andamos em contramão, arriscando-nos a perder o controlo da nossa condução.

No documentário Caminha Comigo, há uma parte em que uma criança diz ao mestre budista Thich Nhat Hanh que não sabe como não ficar triste com a morte do seu cão. Ao que o monge lhe responde assim: “olhas para o céu e vês uma bonita nuvem. A nuvem tornou-se chuva, e quando bebes o teu chá, podes ver a tua nuvem no chá.” Julgo que esta é a forma mais simples de aceitar e conviver com a saudade.

Desde 2016 que vivo com a saudade mais profunda que alguma vez a vida me trouxe. Com essa saudade tento fazer limonada…

É a vida.

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