Nos últimos dias não conseguia deixar de pensar naquilo que é verdadeiramente determinante na nossa vida. Sempre pensei que a sorte era uma invenção dos fracos para justificar a sua falta de trabalho, persistência e determinação. O will power, estímulos pessoais, objectivos, metas era tudo quanto bastava para sermos bem sucedidos. Depois, bem, digamos que pensei melhor.
Sei que há pessoas que acreditam que até para nascer é preciso sorte: fomos o resultante daquele espermatozoide em concreto penetrar naquele momento certo o óvulo determinado. Custa-me acreditar que nascer seja um dos acontecimentos em que a sorte seja determinante e, sem querer deixar-me envolver noutro milhão de outros assuntos filosóficos e meta-fisicos, que a vida seja apenas uma boa conjugação de factos.
No entanto, deixar que a nossa crença na sorte seja o factor determinante do nosso quotidiano poderia levar-nos a acreditar que não precisaríamos de fazer nada para que o sucesso nos batesse a porta, entrasse e tomasse conta do nosso destino. Alias, quanto mais penso no tema, mais me apercebo que deixar a sorte comandar as nossas escolhas seria desresponsabilizar os nossos actos, esperar que o juíz fosse mero conselheiro e aguardar pacientemente que melhores dias chegassem, se assim o universo escolhesse.
Continuo num impasse, pois não consigo descobrir que proporção a sorte tem na nossa vida, tendo a certeza que só a força de vontade talvez não chegue para traçar o meu caminho. E porquê que isto se tornou tão importante? Porque ter 19 anos significa que os passos da nossa vida têm de ser dados, agora e já, rumo a alguma coisa certa. Pior é aperceber-me que esta urgência da sociedade vai-se agravando conforme os anos passam, por mim e por todos os outros, enclausurando-nos em lugares que não queremos estar, profissões que não passam de fardos e frustrações escondidas por sorrisos amargos.
É suposto saber o que vamos fazer da nossa vida profissional, ter sonhos a concretizar e um monte de outros “blá, blá, blá”! Mas, no agora e no já, tudo o que eu sei é aquilo que já me ensinaram, que aprendi aos bocadinhos ou que percebi depois de errar. Se ninguém me ensinou, deixou aprender nem já tive a possibilidade de errar, como vou saber o que fazer a seguir e os passos que DEVO dar? Impossível…a não ser que tenha muita sorte! E é aí que se encaixa esta conversa no meu cérebro!
Esqueçam a vossa sorte, o vosso trabalho e lembrem-se apenas da vossa obra-prima, o grande mapa que vos orienta, o destino que nasce connosco, qual estrelas qual quê! Com ou sem crises existencialistas, a verdade é que somos cada vez mais um trabalho inacabado que só é conseguido com sangue, suor, lágrimas e, sim, muita sorte! Mas isso não significa que, se lutamos por algo e até conseguimos atingi-lo, o nosso trabalho está concluído! Ainda não me conheço bem o suficiente, ainda não descobri o mundo e, definitivamente, não sei aquilo que acontecerá no futuro, mas uma certeza já tenho: eu vou mudar. Mudar para melhor, pior, progredindo, retraindo-me, tornando-me mais dinâmica, outras vezes mais introvertida, tudo conforme os dias, as horas e os segundos se passarem! Todavia, sei que não sou uma árvore que precisa de estar eternamente no mesmo sitio, crescendo na mesma direcção e que não tardará a perecer. Quero ir mais longe e se tiver que atirar a sorte ao chão, tentar 5x para ter o trabalho de sonho que desejo, mesmo depois de ter desistido duma carreira segura, duma casa espectacular e de muitos outros benefícios…sei que valerá a pena! Tudo porque me permite crescer, evoluir e não estar morta de espirito aos 60, 70 ou 80 anos. Não quero viver bem, quero viver maravilhosamente feliz e isso só se consegue com sangue, suor, lágrimas, sorte e um ocasional recomeçar de novo, desta vez, diferente!