Tempos de crise aguda como a que vivemos exigem, sem sombra de qualquer dúvida, respostas agudas da parte de quem nos governa. Tal é válido internamente como externamente ou não fosse a economia Mundial um tremendo dominó, que tanto pode ser um paraíso como um inferno dependendo da forma como cai – ou não – a primeira peça.
Contudo, num Mundo com tantas diferenças, as respostas à crise provocada pela Covid-19 têm sido, também elas, muito diferentes entre si.
Alguns líderes mundiais (felizmente poucos) optam pela teimosia latente, formas de enriquecimento à custa de placebos que as farmacêuticas tem às paletes nos seus armazéns, apelos ao regresso a ditaduras militares, actos de violência e desrespeito para com os órgão de comunicação social, que se recusam a dar tempo de antena aos seus disparates públicos e por aí adiante.
Outros líderes mundiais, mais concretamente os europeus, optaram numa primeira fase por um confinamento mais ou menos rigoroso (cada país teve o seu “inferno”, pelo que a resposta ao mesmo variou) e, agora que a pandemia parece estar a estabilizar, optam por uma espécie de recauchutagem do sistema. Países há que abrem a sua economia – uns mais lentamente e outros de forma mais célere – para que tudo volte não ao normal de antigamente, mas, sim, ao novo normal.
E é, a meu ver, na nossa Europa que existe um problema. Sendo a União Europeia um espaço comum, de economia comum e, em certos e muitos pontos, de finanças comuns, creio que deveria existir uma estratégia comum de reabertura da economia europeia (mesmo que a Covid-19 tenha afectado mais ou menos certos estados-membros). Não falo aqui numa reabertura unânime, pois tal em Democracia é quase impossível… Recordo que a União Europeia tem 28 estados-membros (o Reino Unido ainda não saiu oficialmente da União), pelo que é de todo impossível que haja uma concordância plena entre todos.
É que estou em crer que esta recauchutagem do sistema – forçada em muitos países – nos primeiros tempos até que pode disfarçar e dar a sensação de que tudo está bem e que vamos ficar bem, mas a economia é travessa tal como a sua “amiga” diplomacia. São muitos e variados os imprevistos que forçam uma viragem rápida do rumo dos acontecimentos. Tal já aconteceu no passado e não estou em crer que no presente e futuro tal não venha a suceder.
É neste cenário que olho com uma certa preocupação para o que está a acontecer na Europa.
França e Alemanha anunciaram publicamente um programa de apoios a fundo perdido a todos os Estados-membros.
Nada que já não tenha sido falado anteriormente, com a Holanda a fazer finca pé com a sua tese de que este programa deverá ser de empréstimos com juros baixos e não a fundo perdido. Na altura, os holandeses acabaram por ver metade das suas pretensões atendidas, pois nem França nem Alemanha tinham grande interesse num tal programa ou não estivessem ambos (especialmente a França) a braços com um crescente caso de cidadãos infectados com a Covid-19.
Contudo, agora que a temática está de novo em cima da mesa europeia, desta vez com o papel de mau da fita a ser interpretado pela Áustria, quem me garante a mim e a qualquer português (a.k.a. cidadão europeu) que alemães e franceses não acabarão por ver nas pretensões austríacas uma forma de fazer valer a sua posição de potências dominantes na Europa impondo, para tal, a austeridade que o nosso Primeiro-Ministro diz repudiar veemente?