“Portugal cai seis lugares no ranking mundial dos países preferidos pelos expatriados para morar e trabalhar”.
De acordo com a organização Internations.org, existente desde 2007 e sediada na Alemanha, na sua edição de 2023, ano em que celebram o 10° aniversário de uma das maiores pesquisas mundiais sobre viver e trabalhar no estrangeiro “Expat Insider Survey” (Pesquisa Interna de Expatriados), Portugal desce do 4° para o 10° lugar.
Estas constatações são baseadas em inquéritos feitos a mais de 12 mil expatriados, espalhados pelo mundo, representando 171 nacionalidades a viver em 172 países e territórios, tendo por base indicadores tais como: qualidade de vida, facilidade de instalações, finanças pessoais, burocracias e perspectivas de carreira.
É, sem dúvida, útil percebermos como nos veem, até porque pode dar-se o caso de alguns desses expatriados já terem passado por muitos outros países e conseguem ter, melhor do que ninguém, um termo de comparação.
Conhecer países quando se está de férias, não será, de todo, a mesma coisa. É preciso passar por essas experiências de arranjar alojamento, de arranjar trabalho, de se integrar para perceber como tudo funciona.
Por seu turno, quem é de cá, quem cá mora, quem veste a camisola de “Tuga” até aos tornozelos, também terá uma opinião/visão sobre essas temáticas.
Vejamos, se pegarmos em cada um dos indicadores usados nos inquéritos, e fizermos uma análise sob o ponto de vista humano, excluindo qualquer tipo de “politiquices económico-financeiras”, e nos focarmos somente na realidade, ainda que de uma forma pueril, no sentido de pura, longe de qualquer incitamento ao racismo ou xenofobia, as constatações/conclusões poderão ser bem diferentes.
Por exemplo, falando do primeiro indicador que é a qualidade de vida: como será a qualidade de vida de um português que ganha um ordenado mínimo? Terá ele condições para obter um financiamento bancário de modo a ter uma tecto minimamente habitável? Terá a possibilidade de adquirir um automóvel tendo em conta o seguro, o preço constantemente oscilante dos combustíveis e ainda as despesas inerentes de manutenção? Quantas refeições por dia conseguirá fazer?
E se tiver filhos? Conseguirá vesti-los, calçá-los, comprar-lhes livros e conseguirá que estes usufruam de actividades extracurriculares, todas elas com uma mensalidade extra e fixa?
A meu ver, a vida de casa/trabalho, trabalho/casa e chegar a meio do mês e não saber como se irá sobreviver até ao fim, de “qualidade” não tem absolutamente nada;
No que diz respeito ao segundo indicador, facilidade de instalações: conforme tive a oportunidade de mencionar acima, é muito difícil conseguir um crédito bancário e ao preço a que se encontram os imóveis, quer para compra quer para arrendamento, se para um casal com dois ordenados está difícil, eu questiono qual a solução para quem quer/tem que morar sozinho…
O terceiro indicador, que nos fala de finanças pessoais, é, no mínimo, hilariante! O dinheiro mal chega até meio do mês, quanto mais equacionar sequer fazer-se uma poupança, por pequena que seja.
O quarto indicador é interessante: Burocracias. Vamos imaginar dois pratos de uma balança: De um lado temos um português, empreendedor, que pretende abrir um negócio. Este terá que se preparar para enfrentar uma panóplia de burocracias. É tanto papel e tão pouca celeridade que muitas das vezes tudo termina em desistência. No outro prato da balança, temos um expatriado e benefícios fiscais. E está praticamente tudo dito.
Por último, mas não menos importante, temos o indicador perspectivas de carreira. Ora bem, este indicador por si só já dava “pano para mangas” para um artigo inteiro. Assim, e de modo a não me alongar em demasia, vamos só recordar o exemplo dos nossos enfermeiros que tentaram (e tentam) a sua sorte no Reino Unido.
Está é, então, a nossa realidade. A realidade portuguesa, aos olhos dos Portugueses.
Seguidamente, vamos ver como nós enxergamos a vida e as oportunidades de quem chega cá.
Acredito que enfrentem dificuldades, a começar pelo SEF (Serviço de Estrangeiro e Fronteiras), e sei também que muitos vivem em condições sub-humanas, mas outros há que conseguem singrar devido ao facto de terem melhores condições e melhores oportunidades do que quem é de cá.
Hoje em dia, vamos a um café ou a um restaurante e mais de metade dos empregados são estrangeiros, nos hotéis e nos trabalhos ligados às telecomunicações idem aspas, e por aí adiante.
Não podemos ainda esquecer-nos das ondas de solidariedade, (que são pontuais, passado uma semana já toda a gente se esqueceu!) Mas que são eficazes! Vejamos o caso concreto da guerra na Ucrânia. Quantas pessoas foram acolhidas em casas particulares, quantos proprietários baixaram os preços dos arrendamentos para que fosse possível alojar estrangeiros, quantos empregos caíram do céu?
Se fizemos mal? Não! Claro que não… Somos nós… Somos portugueses, somos assim, está no nosso ADN ajudar e sermos solidários!
Mas, então, e os nossos? Aqueles que vivem na rua e que mal se alimentam, e há tantos!
E aqueles que passam por imensas dificuldades, mas a vergonha impede-os de se manifestarem?
Por que não dar uma oportunidade aos nossos?
Sermos solidários com os nossos?
Porém, a culpa é “nossa”! Nossa, do povo, porque somos brandos, somos tipo “cão que ladra não morde”, muito se resmunga e critica, toda a gente “sabe” o que está mal, mas ninguém toma atitudes de mudança; nossa porque gostamos de ter empregos, mas não gostamos de trabalhar; nossa porque não nos sujeitamos a qualquer coisa abrindo portas para que outros abracem as oportunidades. E também “nossa” dos nossos (des)governantes porque fomentam a cultura do “não fazer nada” e do “coitadinhos não podem trabalhar” às custas desses subsídios de inserção, rendimentos mínimos e afins, ou seja, às custas dos contribuintes.
Em suma, não sou, de todo, contra a vinda de estrangeiros para Portugal. Somos um povo tradicionalmente emigrante e, se nos acolhem, também nós temos que saber acolher. A fusão de culturas é enriquecedora, e, em boa verdade, é urgente uma inversão da pirâmide etária, é urgente deixarmos de ser um país envelhecido.
Mas peço, não se esqueçam de quem já cá está, de quem cá nasceu e de quem cá mora.
Será pedir muito?
Fonte dos dados estatísticos: CNN Portugal