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Quarenta e três anos

Quarenta e três anos. Num indivíduo, esta quantidade de vida seria suficiente para que se esperasse dele a maturidade, a sensatez, o razoável discernimento, a formação e o reflexo de tudo isso e outras coisas mais, no sucesso evidente aos olhos de outros. Num país, pode acontecer, ou não. Países houve em que bem menos do que os quarenta anos, chegaram para que dessem uma volta na sua vida e no seu sucesso, uma volta à sua história. História, essa, em tais países, com passado bem menos estável do que Portugal. Portugal faz este ano 874 anos oficiais, o tempo que medeia entre o 5 de Outubro de 1143 e a assinatura do Tratado de Zamora, e o Outubro de 2017.

Para uma Suíça, invadida por todos os povos que pela Europa foram conquistando e sendo conquistados, não foram necessários os quarenta anos, para passar de país em constantes crises recessivas a um caso de sucesso e respeito unânime a título internacional. Não foi apenas a Suíça, que ainda beneficiou de uma Cultura europeia numa fase de hegemonia mundial. Uma Coreia do Sul, um Japão, Suécia, Noruega, Canadá, Austrália e tantos outros, no mesmo espaço de tempo que percorremos desde 1974, a comemorar-se no próximo dia 25 de Abril, alteraram o rumo pouco auspicioso do seu futuro, angariando sucessos com casos económicos ligados a tecnologias que antes não dominavam. Como nós também não dominávamos. No entanto, tempos houve em que a hegemonia portuguesa perdurou bem mais do que toda a História dos Estados Unidos da América. Uma hegemonia que deixámos perder.

Em mais de quarenta anos de Democracia, que aproveitou Portugal com a Liberdade de que se via arredado? Seguramente que em mais de quarenta anos, Portugal construiu avanços sociais e tecnológicos que nos anteriores não possuía e não conseguia prever vir um dia a possuir e deles usufruir. Infraestruturas básicas e novas foram alterando Portugal, na rede de salubridade pública, na assistência médica, na formação escolar, a que mais portugueses tiveram acesso e podem hoje sentir-se mais próximos de padrões de desenvolvimento avançados, europeus e que nos permite uma nova janela sobre o futuro. Tantos destes avanços, contudo, se fizeram à custa de ajuda exterior e sempre com a promessa de nos estarmos a preparar para não mais termos esta mesma dependência em relação a outros, e ainda a promessa de tais estruturas e reformas nos virem permitir novos caminhos e possibilidades económicas e outra posição no panorama mundial, mesmo que nunca mais o regresso ao lugar cimeiro que um dia tivemos.

Porém, nestes mais de quarenta anos, o que aconteceu ao mais essencial da esperança de um povo que sai da obscuridade? O que aconteceu à nossa Liberdade, dita como conquistada em 1974? Onde está a Liberdade de um jovem que gostaria de escolher um curso adequado às suas características intrínsecas e ao seu potencial? Pode um jovem escolher assim livremente uma formação superior, se o mercado de trabalho lhe irá retirar logo à saída da Escola Superior, as possibilidades de exercer uma profissão onde venha a utilizar os seus melhores recursos intelectuais? Ou corre o risco, que sabemos que mais de noventa por cento dos jovens corre, de nunca vir a exercer uma profissão próxima sequer, aparentada que seja, da formação escolhida? E quem lhe retirou essa Liberdade? Não é uma economia dominada por interesses oligopólicos e por uma rede nunca intencionalmente construída, mas real, de interesses pessoais e, bem pior, políticos, que sonega a um qualquer jovem o futuro, mais do que sonhado, mais adequado ao seu potencial?

E que Liberdade existe hoje para um eleitor? Se se reciclam constantemente as mesmas personagens, que nos estafaram e nos fizeram duvidar do sistema que um dia nos prometeram, há quarenta e dois anos? E que liberdade assiste a um português eleitor, perante cenários de inutilidade do seu voto, já que acordos pós-eleitorais podem contrariar a escolha da tal maioria que dizem ser a voz do Poder máximo numa Democracia?

E que liberdade tem um povo que assiste passivo e sereno à delapidação dos princípios democráticos mais básicos e essenciais, como o de ser respeitado nas suas escolhas políticas, e até da desobediência a decisões que contrariam essas mesmas escolhas? E a liberdade económica dos indivíduos, das famílias e mesma das empresas? Perante um país vizinho onde as opções são em geral mais económicas, desde bens essenciais, como electricidade, gás, combustíveis, bens alimentares básicos, que esteve Portugal a fazer em quarenta e dois anos, anos que nunca parecem chegar, recursos que nunca serão suficientes, extorsão de bens e recursos individuais e familiares, nunca bastantes para pagar um Estado, ou uma Administração do Estado que nunca sabe gerir, que nunca consegue demostrar um só sucesso na sequência das decisões dos seus gestores políticos, que nos impõem sempre algo mais e que nunca temos liberdade suficiente e eficiente de dizer que não? De dizer que basta.

Onde está a nossa história que agora parece quererem que se resuma a estes quarenta e dois anos, quando para trás temos outros oitocentos e trinta e dois, e que nos fizeram cá chegar. Muito antes dos comunistas e socialistas que hoje pretendem reescrever a história do país mais antigo do mundo, reeducando para um presente marxista, efectivamente demonstrado por uma Constituição que nunca foi garante de Liberdade, mas apenas da Liberdade desviada à Esquerda, e todos os dias comprovado pelo comportamento de Governo e Presidente da República, que pretendem fazer que ignoremos que a nossa liberdade se perde, a cada dia, um pouco mais.

Porque a outros estes mesmos quarenta e dois anos foram mais do que suficientes e a nós são sempre demasiado poucos? Talvez porque recusemos reflectir, porque tenhamos medo de perceber que não se reforma um país de forma essencial e radical para o sucesso democrático saudável, comprometendo as nossas opiniões com a voz constante e ainda mais audível de inimigos da democracia e da nossa própria história longa. Talvez porque recusemos o esforço de aperfeiçoamento cultural e intelectual individual, para que cheguemos ao colectivo um dia, e ganhemos uma genuína liberdade, onde não se permita que alguém que foi vergonhosamente derrotado em eleições, nos altere o futuro e o condene, de novo.

Um povo que se recuse a evoluir, desde já pela culturação e evolução crítica, como os outros exemplos que acima mencionei fizeram, não pode clamar uma Liberdade, que efectivamente ainda não veio a possuir. E passaram quarenta e dois anos!

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