Vivemos num tempo em que parece existir apenas a primeira pessoa do singular, esquecendo-nos, muitas vezes, dos demais sujeitos que concordam com outros predicados… Um tempo em que os nossos problemas parecem ser os únicos e os maiores do mundo, numa espécie de olhar umbiguista, que nos cega para uma visão 360 graus da vida e do mundo.
Abrir a janela e olhar mais longe, para além das flores do nosso jardim, com uma visão ampla e panorâmica, permite-nos compreender a nossa real dimensão, não só quanto ao que somos como também ao todo a que pertencemos. Mais: olhar pelos que estão em nosso redor, acrescenta valor, a nós e aos outros. Afinal, sozinhos nada somos e juntos somos melhores e mais fortes.
A empatia surge, assim, como uma [das muitas] formas de conexão com aqueles que nos rodeiam. É que, ligados uns aos outros, a dor pode ser diluída e a alegria multiplicada. E é aí que, por vezes, o que parece ser grande reduz-se a minúsculo e o que parece ser insignificante ganha um renovado valor. Adquirimos, assim, uma maior consciência do sentido da nossa existência e do que na verdade importa, acolhendo as surpresas da vida com maior aceitação, serenidade e gratidão.
Por vezes, damos demasiada importância ao que, comparado com outras realidades, não tem qualquer significado. Outras, menosprezamos coisas ditas menores, mas que perante outras realidades são de um enorme valor. Não quer isto dizer que tenhamos que subestimar as nossas circunstâncias ou estar sempre em comparação [mórbida] com os outros. Até porque, se assim fosse, viveríamos em constante negação a nós mesmos, e também em sofrimento pelos outros. A questão é que, embora tudo comece e acabe em cada um de nós, é preciso olhar, tanto quanto possível, para as 360 partes da circunferência da vida, para outras realidades, pois só assim, quando chegamos a nós próprios, com sentido de justiça e compaixão, compreendemos o real valor da vida e valorizamos o que temos.
Equilíbrio, parece-me ser a palavra-chave desta coexistência. A meu ver, o equilíbrio é o grande desafio para uma convivência harmoniosa entre nós e o mundo. Para que a nossa realidade não seja subestimada em detrimento da dos outros nem a dos outros desconsiderada pela nossa realidade. Sabedoria para distribuir pelos pratos da balança os vários pesos da vida. Equilíbrio interior, acima de tudo. A meu ver este é o maior e mais difícil desafio.
Que não nos esqueçamos que somos apenas uma ínfima parte de um todo. Que o nosso mundo torna-se demasiado pequeno se não nos abrirmos a novos horizontes e paisagens, para uma descoberta em partilha, união, compaixão, solidariedade e alegria. Só assim a nossa existência torna-se mais grandiosa e marcada pela nossa força de desconstruir muros e abrir janelas, para que entre luz e novas brisas e saia o melhor de nós…
Há sempre um mar de oportunidades para que a nossa existência tenha verdadeiro sentido, marque a diferença e seja realmente sentida.
A Manuela Pereira escreve através da alma e daquilo que sente e que leva prática no dia a dia na sua vida, e sempre com muita pertinência e muito bem escrito