“Tens Facebook?” é, provavelmente, a pergunta mais frequente que fazemos a alguém que acabámos de conhecer, a seguir a “como te chamas?”. Aliás, muitas vezes fazemos primeiro a primeira pergunta e só depois perguntamos o nome para podermos, então, pesquisar essa pessoa no Facebook. Com este simples exemplo, reconhecido como verdadeiro por qualquer leitor deste texto, percebemos facilmente a forma como o Facebook está entranhado nas nossas vidas.
O poder das redes sociais nas nossas vidas cresce a cada dia que passa. No entanto, o Facebook tem um papel de destaque. Com mais de um bilião de usuários a nível mundial, esta rede social é indispensável para a grande maioria da população. Por isso, e para poder ser mais precisa, vou falar apenas dele, embora seja claro que o mundo das redes sociais é bem mais vasto.
Quem somos nós se não tivermos um perfil no Facebook? Provavelmente seremos descritos como aquela pessoa muito porreira, aquele grande amigo, com determinadas qualidades e outros tantos defeitos. No entanto, haverá sempre um “mas” após essa descrição – “mas não tem Facebook”. E por que razão surge este “mas”? Porque na hora de contactar este amigo, torna-se difícil fazê-lo de outra forma que não seja o Facebook. Criar grupos de conversa entre amigos, fazer planos nesse mesmo grupo e conversar sobre as banalidades do dia a dia torna-se algo interdito a esse ser que não possui um perfil no Facebook.
No Facebook somos quem quisermos ser. Não é necessário sermos apenas o Manuel. Podemos ser o Manuel que tem umas fotos porreiras, manipuladas em programas de edição de imagem. Podemos ser o Manuel que passou o dia na praia a apanhar uns banhos de sol (quando, na verdade, nem chegou a sair de casa). No Facebook podemos dizer ter o mundo nas mãos quando, na verdade, não temos nada. O Facebook é como um palco, onde somos actores e representamos papeis, sejam eles fictícios ou não. Além disso, temos uma voz activa na sociedade. Basta fazermos um simples post a dar opinião sobre qualquer assunto da actualidade para termos tanta legitimidade como qualquer comentador de televisão. Ao publicarmos algo somos, definitivamente, alguém.
Li algures que a Internet aproxima quem está longe mas afasta quem está perto. De facto, ferramentas como as redes sociais permitem-nos comunicar instantaneamente com aqueles que estão longe de nós, mas faz-nos desviar a atenção de coisas importantes que estão a acontecer ao nosso redor. Quantos de nós já não se distraíram de uma conversa presencial com alguém por estarem a falar, simultaneamente, com alguém via Facebook?
Acredito que a Internet e as redes sociais nos tragam grandes benefícios e, sobretudo, algum comodismo. Contudo, como tudo na vida, também tem o seu lado mau. No Facebook podemos cometer o erro de expor demais a nossa vida privada, de publicar coisas das quais nos poderemos arrepender. Podemos, inclusive, ver coisas que nos chateiam, publicações que nos chocam, informações desnecessárias e muito “lixo humano”.
Com todas as suas vantagens e desvantagens, o que é certo é que as redes sociais e a Internet são uma constante nas nossas vidas. Aceder à Internet ao acordar ou antes de adormecer para aceder aos e-mails e às redes sociais tornou-se uma rotina, algo tão natural como tomar o pequeno-almoço. Vivemos envolvidos numa nuvem de tecnologias cada vez mais sofisticadas, de aplicações cada vez mais eficientes e de que redes sociais cada vez mais indispensáveis.
Se isto nos levará ao isolamento é a questão fundamental pois, tal como escreveu Millôr Fernandes, “só depois de a tecnologia ter inventado o telefone, o telégrafo, a televisão e a Internet é que se descobriu que o problema de comunicação mais sério é o de perto”.