Portugal atrás com tretas à frente

1 – Antes de mais há que dizer que nestas eleições legislativas a grande vencedora foi, novamente, a abstenção. Esta ficou-se pelos 43,07%, a maior de sempre registada em eleições legislativas.

Por si só este facto é elucidativo de como todos perdemos e nada aprendemos com o passado. Tal exige uma profunda reflexão da parte de Partidos políticos e Cidadãos, mas neste moimento está tudo muito mais preocupado em como se vai governar daqui para a frente sabendo de antemão que esta mesma governação está condenada ao fracasso no médio prazo. Já lá vamos.

2 – Embora discorde totalmente da forma como tudo funciona na União Europeia/zona euro tenho de olhar para o resultado das eleições legislativas de 2015 e retirar a conclusão de que isto vai correr mal. Muito mal.

Ora bem, o resultado das Eleições ditou uma “vitóriazinha” da Coligação Portugal à Frente. Ou seja; a Coligação terá de formar Governo tendo por base uma maioria minoritária na Assembleia da República. Dito de outra forma se Passos Coelho e Paulo Potras quiserem governar vão necessitar de celebrar acordos sectoriais com o Partido Socialista. E só o poderão fazer com este dado que tanto o Bloco de Esquerda como a CDU (Coligação PCP e Verdes) inviabilizaram, desde logo, a possibilidade de qualquer entendimento com a vencedora das eleições.

Sendo assim tendo por base as recentes experiências e a forma como Bruxelas pensa e age no que á sua zona euro diz respeito e dado que ainda está por surgir medidas que protejam os Estados-membros da especulação das agências de rating, é de esperar que os próximos tempos sejam difíceis. Muito difíceis para todos nós Portugueses porque vai ser de todo complicado Portugal continuar a seguir a fórmula da austeridade bruta de que Bruxelas é adepta se não houver entendimentos na nossa Assembleia da República.

Não creio que venhamos a ter os mesmos problemas dos Gregos mas se vamos ter sobre o nosso País um tremenda pressão a todos os níveis vamos de certeza e quem vai sofrer com tal serão os mesmos de sempre (os Portugueses). Para mais o Sr. Ministro das Finanças da Alemanha já deu o mote: continuar com a austeridade.

3 – Como já aqui disse a Coligação Portugal à Frente (PSD/CDS) alcançou uma “vitóriazinha” nestas legislativas. Perdeu votos, perdeu Deputados na Assembleia da República e viu a Esquerda (especialmente a extrema esquerda) aumentar a sua força e presença política nas bancadas do nosso Parlamento.

Não vai ser nada fácil governar assim. Especialmente se tivermos em linha de conta que, por acordo entre Passos e Portas, desta vez o CDS-PP irá ter mais Deputados na sua Bancada.

Com toda a certeza que o Governo que Passos e Portas irão apresentar ao Sr. Presidente da República terá muitos elementos dos Centristas e poucos dos Sociais-democratas, ou seja; vamos ter um Governo ultra conservador que terá de levar a cabo uma série interminável de entendimentos com a Esquerda moderada (Partido Socialista) e radical (Bloco de Esquerda e CDU).

Tudo indicia, à partida, que este é um Governo condenado ao fracasso no médio prazo. Daí que eu tenha optado pelo título “Portugal atrás com tretas à frente”.

 Tal estado de coisas impunha uma séria, profunda e cautelosa decisão da parte do Sr. Presidente da República mas já todos sabemos que na hora da decisão este vai sacar do seu cartão de militante do PSD e dar posse a um Governo fantasma.

4 – Olhando ainda para o resultado das eleições rapidamente se verifica que uma grande maioria dos Portugueses está cansada das políticas de austeridade mas não farta. Só assim se explica a grande subida do Bloco de Esquerda de Catarina Martins no actual panorama político Português e o desejo da continuidade de Passos/Portas no Poder.

Sempre disse aqui que o Bloco de Esquerda era o único Partido que se dirigiu aos eleitores de uma forma clara. Tão clara que muitos deram a este a sua confiança através do voto relegando para segundo plano uma CDU bafienta dona de um discurso cuja cassete não parece ter mais do que um lado A. Para mais Catarina Martins e seus colaboradores foram os únicos do actual panorama político que expuseram as mentiras do último Executivo Passsos/Portas e colocaram o dedo na ferida no caso BES e PT. Podemos dizer que o Bloco alcançou aqui uma vitória que só não foi maior porque a sociedade Portuguesa ainda sofre de muitos complexos e vê os Partidos como Clubes de Futebol.

Vamos a ver como se vai comportar o Bloco numa legislatura que se prevê curta. È que convêm realçar que não é a primeira vez que os Bloquistas se apresentam como a 3.^força política em Portugal e poderiam continuar a sê-lo, só que no passado patetices como o da criminalização do piropo colocaram o BE no patamar do ridículo.

5 – Olho para o Partido Socialista e vejo o PASOK (Partido Socialista da Grécia). Um Partido completamente á deriva que foi tomado de assalto, por um lado, por uma canalhada que não tem experiência política alguma senão a de crescer nos corredores do Partido e, por outro, por velhos caducos que se deixaram corromper pelo profissionalismo político que acham que devem suceder-se uns aos ouros no Poder ab eternum. E pelo que vamos lendo e ouvindo o PS vai continuar á deriva por muitos e longos anos.

Não creio que António Costa se demita no imediato até porque este quererá “esticar” o seu mandato até às presidenciais, mas pelo caminho terá de enfrentar os velhos do sistema que apoiaram António José Seguro e a canalhada que tanto estará do seu lado como dos “Seguristas” (consoante a maré assim o ditar).

Podemos dizer que o PS perdeu as eleições (como se alguém as tivesse ganho no verdadeiro sentido do termo) mas o que aconteceu realmente foi a eclosão de um Partido que já há muito que vinha prometendo auto destruir-se ou não estivesse este demasiado emaranhado nas suas intriguices.

6 – Por ultimo uma palavra para a CDU e para o PAN (Pessoas-Animais-Naturezas).

O primeiro parece ter ficado satisfeito com o resultado das eleições dado que elegeu mais um Deputado relativamente à legislatura anterior. O normal para uma Coligação que é sempre mais do mesmo, que não inova, que não se renova e que vive completamente fechada em si mesmo. É uma pena que assim seja pois a Democracia Portuguesa deve muito à CDU (especialmente ao PCP) mas um grupo de caducos não deixa que o Partido evolua e como tal é normal que esteja a perder força para o Bloco. Somente um milagre radical poderá salvar a CDU da marginalização da vida política Portuguesa.

Já o PAN conseguiu fazer história pois após 20 anos tivemos um pequeno Partido a conseguir fazer-se representar na Assembleia da República. Tudo fazia indicar que seria o Livre a desempenhar este papel mas não é com um grupo de bons amigos que se consegue chegar lá… Agora convêm não menosprezar a presença do PAN no actual elenco da Assembleia da República até porque Portugal já teve um Governo que recorreu vezes sem conta a um único Deputado para poder colmatar a sua maioria relativa.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

O Assassinato de Roger Ackroyd

Next Post

Esqueci-me que te tinha esquecido

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

A Causa Comum

A propósito de uma reflexão acerca das manifestações em França e na Bélgica dos “coletes amarelos” (gilets…

Um homem singular

A sociedade estipula que existe uma educação de base e que as crianças, em determinada idade, devem frequentar a…

Traçar o caminho certo

“Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade política, a mesma…