Pequenas felicidades

Felicidade, palavra cheia de significados e de tantas alegrias. Ser feliz. Será que não passa de um estado de espírito ou é algo mais? A verdade é que se sente no corpo e sabe muito bem.

Estar feliz é momentâneo. Ser duradouro tem carga forte e faz com que o desleixo se vá instalando e ganhando terreno. Quando se está bem não se quer mudar. E se houver algo ainda melhor? Perde-se essa leve alegria de estar.

Ser feliz é a resposta mais ouvida quando se indaga sobre futuro e os planos. Ninguém quer ter dores de viver e o mundo sonhado, desenhado com ardor, não passa de um desejo que nunca será concretizado.

Felicidade, afinal o que é? Pequeníssimos e refinados momentos especiais que não se podem eternizar ou retalhos de sentimentos que produzem químicos no corpo e lhe passam mensagens de prazer? Haverá mais? Mais, muito mais com toda a certeza.

Definir é limitar e tudo o que seja redutor, retira a pureza ao que possa ter asas para voar. Há algum sentido em encurtar o que possa ser tão longo como se assim o entender? As nuvens servem para aromatizar e não para tapar.

Um livro tem o particular poder de espalhar muitas emoções e imensos pensamentos. Viver vidas que não existem ou ter sonhos com quem não se conhece, é pura magia e acarreta momentos que se congelam no bem-estar.

Ter saudades de lugares onde nunca se foi ou de pessoas que nunca viveram, chorar lágrimas duras de outrem, partilhar planos ou desejar ardentemente que tudo se concretize, é um retalho bem simples de felicidade.

Viajar, conhecer outros lugares, sentir novas culturas, saborear e explorar, são outros tão bons temperos de felicidade, tiras fininhas de coisas muito boas e de fácil arquivamento na memória.

Outras línguas, paladares, paisagens, cenários e histórias, colocam-se com redobrado prazer no velho livro das recordações, aquele que está sempre à mão para folhear ou avivar. Que bom é conhecer novas pessoas que sentem com uma sintonia diferente.

Tudo isto é felicíssimo, estes ternos e muito saborosos detalhes com som de sorrir e com rosto de ainda florir. Há uma memória que não se esgota e vai acumulando dias, minutos e suspiros de bem viver. Que prato tão saboroso…

Cozinhar é um acto de amor, uma receita para chegar ao coração de quem se ama e assim se quer manter. Escolher os ingredientes, cheirar o seu potencial, juntá-los em harmonia e criar o casamento perfeito, é a felicidade que se vê, sente, mastiga e fica interiorizada.

Colocar a mesa com detalhes íntimos, com as mensagens certas, pratos desirmanados e com vidas, copos de mil aventuras, toalha rústica, a fiel testemunha dos desenhos de futuro e a luz perfeita para as confidências. Tudo no ponto certo para que as palavras tenham a liberdade de fluir.

Comer é amor, um lento, intenso e redobrado partilhar de sabores e temperos. Cada pedaço mastigado conta as confidências que foram feitas ao lume, os pensamentos leves e livres e o desejo ardente de que a tal felicidade chegue ao estômago por vias fáceis e aí permaneça.

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