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Partido Livre: uma miragem ou o futuro da esquerda?

A criação e crescimento de um novo partido não é um processo fácil, sendo extremamente improvável a criação de raízes no eleitorado de um país. Em Portugal, na década de 2000, o Bloco de Esquerda conseguiu o que não era feito desde a revolução de 1974, eleger deputados fora do quadrado fundador (PS, PCP, PSD e CDS). Neste início de década, o Bloco começou um trajecto descendente. Ainda que várias razões possam ser apontadas para a sua queda (a sua natureza fragmentada, uma fragilizada liderança, a sua incapacidade de se mostrar como alternativa real, as recentes dissidências), o conforto encontrado num nicho de protesto é provavelmente aquela que levará o partido ao seu expectável fim.

Ao quebrar com o BE, Rui Tavares mostrou querer mais do que o “bloquinho” estava disposto a oferecer aos seus militantes e eleitores. Ao fundar o partido Livre, o ex-deputado europeu lançou-se no terreno de batalha – ao contrário da maioria dos restantes dissidentes – e comprometeu-se a ocupar um espaço à esquerda que, segundo o próprio, está ainda por ser explorado. Esse espaço encontra-se no centro da esquerda, num lugar mítico entre o PS, por um lado, e o PCP e BE, por outro. Assim, o Livre distancia-se da esquerda comunista e trotskista, que fundaram o BE, e aproxima-se da social-democracia europeia, adoptando as suas afirmações ideológicas.

Com o passar do tempo, poder-se-á dar o caso de, assim como aconteceu com o Bloco, o Livre se desmantelar ante as suas próprias convicções. No entanto, um elemento central separa os dois partidos, tornando-os casos distintos. Contrariamente ao BE, o Livre procura a acção a partir do poder, não recusando vender a alma ao diabo (leia-se: coligar-se com o PS), para poder fazer valer as suas convicções dentro do sistema, em vez de apenas gritar “não” do seu lugar na Assembleia da República.

É certo que o Livre está ainda longe de ocupar um lugar no parlamento português, não tendo conseguido eleger o seu cabeça de lista para o parlamento europeu. No entanto, teve uma das melhores estreias de sempre de um partido, principalmente se levarmos em consideração os escassos meses em que foi criado, antes das eleições europeias, passando ainda por um processo de primárias abertas a simpatizantes (as primeiras em Portugal, ao contrário do que o PS quis fazer parecer). É ainda promissor a época em que o partido Livre aparece em cena. Com António Costa à frente do PS, as hipóteses do Livre vir a ganhar terreno são grandes. É sabido que o actual secretário de estado do PS gosta da imagem que lhe é conferida ao associar-se a partidos de menores dimensões, ou a independentes, mesmo quando tem a eleição assegurada – como foi o caso com Helena Roseta, na CML.

São vários os factores que mostram um futuro promissor ao recém-criado partido de esquerda. Contudo, considerando o quase imutável panorama político português – nem uma crise como a recente o conseguiu abalar, ao contrário do que aconteceu em países como a Grécia e, até certo ponto, Espanha – as probabilidades do seu crescimento ser travado antes da linha de partida são substancialmente maiores do que o seu sucesso perante o sistema político nacional.

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