Para sempre

Tenho três filhos e o trabalho de uma mãe não acaba nunca.

Desde o primeiro dia, em que soube que estava grávida, tudo mudou. As preocupações próprias de uma gravidez de primeira viagem (seja lá o que isso quer dizer realmente), em que queremos fazer tudo “by the book”, em que lemos tudo e pesquisamos ainda mais, em que ouvimos todos os conselhos e mais um, começam logo por nos dar o panorama que nos espera a maternidade.

Para mim, foi um pesadelo. A primeira gravidez foi também uma vitória num problema de infertilidade que durou cinco longos anos e, por isso, considerada uma gravidez de risco. As restrições e as recomendações choviam de todo lado e a determinada altura senti-me a diminuir e a questionar-me se, de facto, estaria preparada para ser Mãe.

Durante a gravidez, cheguei a ter pesadelos em que me esquecia de alimentar o bebé, tal era a ansiedade e o medo de falhar nas minhas novas responsabilidades. Eu intimamente sabia que estas novas responsabilidades seriam as mais importantes de toda a minha vida futura. E seriam para sempre.

Tudo correu bem, dentro do que seria expectável num parto rapidíssimo. E, felizmente, nunca me esqueci de alimentar o meu bebé, ainda que a inexperiência me tenha pregado algumas partidas pelo caminho.

Tudo feito como deve ser. Rigorosa com horários, mudas, banhos, etc. Tudo foi passando intensamente, até acontecer uma segunda gravidez, três anos depois. Voltaram os cuidados, releram-se alguns livros. Felizmente, sem pesadelos de maior. Mais um parto natural e, desta vez, a experienciar as famosas dores tortas e para aprender a lidar com xixis de repuxo. Novas aprendizagens.

Enquanto lidava com o segundo recém-nascido, tinha de lidar com uma menina a aprender a ter um irmão. Nada de extraordinário, mas passível de cuidados que poderiam ter “traumatizado” aquela que tinha sido até ao momento “o centro” da família.

Mais preocupações. Mais trabalho, menos tempo para mim. Eis que um descuido me ofereceu nova gravidez, esta uma completa surpresa.

A terceira gravidez coincidiu com a entrada na escola da mais velha, com a ida do segundo para o infantário. Não é fácil. Muita coisa para pensar e os procedimentos antes complicadíssimos desta vez bem mais mecanizados e simplificados. Como tudo.

Agora a descomplicar, tornar as tarefas e responsabilidades bem mais práticas, utilizando os exemplos e a experiência já adquirida como bússola, tornaram esta última gravidez e primeiros meses do novo bebé numa maternidade bem mais descontraída.

Mas é um trabalho que não tem fim. Podemos dizer que compensa pela parte afetiva, mas a realidade é que, uma vez mãe, mãe para toda a vida.

Muito mais complicado que os biberões, fraldas ou choros indecifráveis, é mesmo a vida e o crescimento destes seres que precisam de nós para se desenvolverem saudáveis física e mentalmente.

Aceitar que cada filho é uma pessoa com traços psicológicos completamente distintos dos irmãos, que tem a sua própria identidade e as suas próprias necessidades, aceitar que cada filho tem o seu tempo e as suas próprias dificuldades, pode não ser fácil, mas é essencial para que não haja a tentação de fazer comparações entre eles.

A função de educadora é tão difícil como gratificante e é cheia de dúvidas e inseguranças. É uma constante aprendizagem, que nos leva por caminhos bastante escuros e tortuosos.

É uma missão para a qual não fomos previamente treinadas e que não tem fórmulas corretas.

É um desafio gigante tentarmos moldar os filhos para se tornarem adultos com valores e ética, sabendo de antemão que o mundo “lá fora” corrompe e sabota constantemente os nossos ensinamentos.

O trabalho de mãe jamais acaba porque somos, bem ou mal, os pilares daqueles a quem um dia demos vida.

O trabalho de mãe será mesmo exercido após a nossa morte, na memória que puder restar do que um dia tentámos ensinar ou de todo o amor que conseguimos dar.

Ser mãe é o trabalho mais rico, mais difícil, mais desafiante, mais desgastante e ao mesmo tempo mais compensador que alguém pode ter.

E é para sempre.

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