Uma tão simples pergunta, com resposta de contradições, que não fazem sentido nenhum: “Hoje em dia os pais estão a criar bebes estufa?”
Voltemos um pouco atrás e é visível, como de um dia para o outro, passamos do “8 para o 80”. Sim, a sociedade pediu urgência nisso, a vida moderna, os novos stresses, o tempo que parece ter sido reduzido, a constante insegurança que se nota, o mundo do trabalho mais exigente e competitivo.
Não consigo precisar sinceramente o que me deixa mais perturbada, se os “bebés estufa” se, desculpem a expressão, os “nabos adultos”.
Acredito piamente que a educação vem de berço, desde o primeiro suspiro no mundo real, desde a saída do útero da mãe. Chegam aqui sem nada saber, retendo, tal como uma esponja, toda a informação que lhes é oferecida.
Antes os bebés chegavam e à sua espera estava um modesto berço, num canto modesto do quarto, confortável o suficiente para passarem a maior parte do tempo. Barriga cheia, chupeta na boca, fralda limpa, deixá-los dormir que assim cresciam.
De estímulos tinham um chão fantástico para se arrastarem, rebolarem até gatinharem e sozinhos ganharem coragem para um primeiro passo. “Galos” na cabeça, negras nos joelhos, choro, chupeta na boca e estavam prontos para cair novamente e aprender como levantar. Desde cedo ouviam um “não” que era “não” desde o início até ao fim da birra.
A sociedade permitia que uma mãe fosse mãe a tempo inteiro e mais tempo traduzia-se em mais regras, existia um mundo, uma vida, além de qualquer bebé.
Hoje pára tudo! O bebé vai chegar, berços topo de gama, quartos equipados quase melhor que um hotel 5 estrelas, equipamentos quase à exaustão. Cremes para todo o tipo de pele, desinfetante para a roupa, para o chão, para os brinquedos, para os biberons. A casa transforma-se quase num museu silencioso, porque o bebé tem que dormir, em silêncio. Ao colo da mãe, do pai, entre eles, no sofá, na cadeira do carro, em todo o lado menos no berço topo de gama. Perde- se a noção de tempo, elimina-se rotinas e àquele ser maravilhoso é dada a oportunidade de comandar tudo.
Não quero, de forma nenhuma, que me julguem mal, que de alguma maneira pareça fria ou insensível. O bebé precisa de mimo, de calor humano, de colo, de consolo. Os progressos feitos na pedagogia, na forma que agora olhamos e percebemos um bebé, foi deveras importante, mas tão fundamental como tudo isso são as regras, as rotinas, o saber ouvir um não, sentir a frustração de não ser o centro de tudo. É urgente que lhe expliquem, com rotinas, que existem sítios próprios para dormir, para brincar, para comer e horas para cada coisa. É urgente perceber o limite. É tão bom o sair da “toca”, ficar com os avós, apanhar sol, apanhar chuva, brincar com a chuva, não basta dizer que molha, tem que molhar. Sentir que textura tem a terra, rebolar na relva, chapinhar nas poças, respirar o ar lá fora, sem este isolamento do mundo. É indispensável este contacto para o seu desenvolvimento, sentir a que cheiram os cheiros, conhecer novas cores, diferentes texturas. O contacto com o meio acelera o desenvolvimento dos sentidos do bebé.
O sistema imunitário necessita de conhecer a sujidade, esta sujidade que é saudável.
Infelizmente, alguns especialistas acreditam que estamos perante a “doença da limpeza”, onde tudo é imaculadamente esterilizado, roupas lavadas a altas temperaturas, com detergentes adequados, biberões, chupetas, pratos, talheres… tudo bem desinfectado e guardado em sítio adequado, protegido do mundo.
Chegamos ao extremo, depois é natural que à mínima coisa o bebé fique doente e aí está mesmo o “caldo entornado”. Não há calma, não se dá tempo ao sistema imunitário de reagir. Qualquer febre é motivo para um antipirético. É notável a excessiva preocupação, deixando visível que mesmo havendo maior informação, mais conhecimento, isso não se traduz em mais segurança.
Por todas estas razões, cada vez mais pediatras aconselham a rápida entrada no infantário, que perante as condições a que estão habituados, é tão difícil e desgastante. Saídos de um mundo ultra-protegido e excessivamente centrado neles, é difícil lidarem com a abrupta separação parental, é doloroso não terem um colo só para eles. O simples facto de não terem um adulto sentado ao seu lado é motivo para choro constante.
E é aqui, com entrada no infantário, que encontramos a maior contradição a esta super-proteção. Chegam ao infantário geralmente quando as mães voltam a trabalhar e, como já referi anteriormente, o mundo do trabalho hoje está muito mais exigente, trabalham mais horas e consequentemente têm pouco tempo em casa. Essa ausência, cada vez mais, é colmatada com o milagre do mundo tecnológico, que é dado a conhecer cada vez mais cedo. Os telemóveis, as tabletes, são com certeza a “chucha” dos nossos dias.
São bebés super-protegidos do mundo e demasiado solitários.