A sua calma alentejana, a sua escrita real, mágica e poética ao mesmo tempo, que nos faz pensar “é exactamente isto!”. Fantástico. Todos os livros que li até agora fizeram-me querer ler mais, querer ler o seguinte e os anteriores.
Gosto muito da maneira como José Luís Peixoto consegue abordar a velhice e como as suas origens parecem estar sempre presentes. Quando lemos um livro deste autor, parece que lemos as suas vivências, que as histórias – por mais surreais que sejam – são dele, são verdadeiras, são “da terra dele”. É muito, muito interessante ler como escreve algo tão tipicamente português, tão tipicamente alentejano e, ainda assim, tão universal e intemporal. É um autor com uma escrita que consegue ser extremamente directa e ao mesmo tempo muito poética, envolta numa espécie realismo mágico, que costuma fazer parte de quase tudo o que escreve e que, curiosamente, dá um toque ainda mais bonito e real.
José Luís Peixoto tem uma forma muito peculiar, mas igualmente muito natural de escrever. Não custa a ler, é fluído. É possível que ao princípio possamos ter de voltar a ler algumas frases, não por não as entendermos, mas por prazer, porque fomos apanhados de surpresa por algo que não esperávamos e que explica perfeitamente aquilo que o autor quer dizer. É quase como se o autor tivesse uma percepção sobrenatural da natureza humana. A sua escrita é assim em qualquer género que escreva.
José Luís Peixoto é de leitura obrigatória:
* Nenhum Olhar – com este livro, o autor ganhou o prémio Saramago. Com a sua forma única, descreve várias histórias, vários personagens e várias gerações, entrelaçando. Vários personagens, várias tragédias. Um livro com a calma alentejana que nos agita a alma com os seus sofrimentos. Muito português. Uma tragédia. Várias tragédias. E, porque não, um apocalipse.
* Morreste-me – que é tão pessoal e toca tanto na pele e no passado. Um pai que morre doente, quando ainda é cedo demais, deixando a família perdida e devastada. Morreste-me é um desabafo, uma catarse, uma forma de tentar lidar com o sofrimento, a perda e a vida que é preciso “levar adiante”, mesmo que nos pareça tão estranha.
* Cemitério de Pianos – a saga semi-verdadeira (com este livro ficasse a conhecer um pouco da história de Francisco Lázaro) de uma família unida, mas, ao mesmo tempo, desunida, lutadora, com os seus fantasmas e dificuldades, amiga, inimiga. Um livro que retrata tudo o que a palavra “família” engloba.
* Livro – um relato sobre a emigração, o amor, o sacrifício e o desencontro, com muitas brincadeiras que o autor faz consigo mesmo, com o leitor e com o livro. Com uma conclusão simplesmente enternecedora.
* Abraço – um livro de crónicas, de vivências, sejam verdadeiras, ou não. Crónicas perfeitamente normais, realistas, em que muitas das quais podiam acontecer, ou aconteceram a José Luís Peixoto. É possível existirem crónicas favoritas, mas nenhuma delas – aliás, nem nenhum livro – é tão marcante como as três últimas frases deste livro. Três pequenas frases que são, pura e simplesmente, tudo o que precisamos de saber na e sobre a vida.
* Cal – o especial desta obra é o facto de ser um livro com contos, poemas, teatro. Plural. José Luís Peixoto escreve todos os géneros nesta sua obra. Adoro um bom livro e, quanto maior, melhor (para a história durar e durar e durar), mas a verdade é que este é um livro de contos como se fosse composto por vários pequenos livros bons, com duração suficiente para sabermos o essencial e com grande intensidade. Os meus preferidos? Confesso que senti um arrepio na espinha quando li “O grande amor do mudo”, “Febre” e “A viúva junto ao rio”.
* Antídoto – o livro que José Luís Peixoto lançou e uniu ao CD da banda Moonspell e que fez com que eu conhecesse este autor. O livro captou perfeitamente o ambiente do CD, a força, a tristeza, a melancolia, a tragédia, a luz e as trevas que adivinhamos ao ouvir e ao ler. Duas histórias que estão tão perto e que ao mesmo tempo aparentam nunca se tocar.
Sei que ainda me faltam vários livros, mas com calma. Com calma chego lá e escrevo sobre todos. Ah! E para os curiosos, as últimas frases de Abraço foram:
“Tu tens direito à felicidade. Agora, vai. Tens a vida à espera de abraçar-te.”