Onde não mora a poluição

As responsabilidades pelas manchas ecológicas do nosso planeta, a que vulgarmente se chama poluição, tornou-se tão patética, ao ponto de parecer um jogo antigo, de passar a batata quente. No final, ninguém perde. A batata arrefece e esquece-se o propósito deste “jogo” de acusações, que tão negativamente alteram e afectam todas as formas de vida. E o jogo recomeça vezes sem conta, sem que nada de verdadeiramente preponderante no impacto ambiental aconteça.

A problemática da poluição faz, até, parte dos planos de ensino escolar e pré-escolar. Parece-me bem interessante, propositado e, claro, pedagógico. Pena é, não fazer parte da ética do programa, dizer às pequenas crianças que não têm culpa alguma do estado desta Terra e da escassez de lugares saudáveis e livres de agentes poluentes. E assim, “o mundo pula e avança / como bola colorida / entre as mãos de uma criança” (António Gedeão). Esta bola, cada vez mais monocromática, cada vez mais densa, cada vez mais magoada, como serva do carrasco humano.

As guerras económicas, silenciosas e devastadoras, assolam a salubridade dos ambientes em torno do todo o mundo. Tudo é mote de exploração. Não existe recurso natural que não seja explorado, saqueado à Terra. Se tudo acontece como Lavoisier teorizou, “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”, acontece que aquilo que é devolvido é recheado de agentes nocivos, responsáveis por danos que surripiam nos mais diferentes lugares do mundo, um ambiente livre de poluição.

Pollution-Free, como muito se escreve em inglês e em artigos por todo o mundo, é uma expressão digna de Marketing enganoso. Oferecem-nos paisagens paradisíacas, repletas de encanto em tons de verde e um céu imaculado. Apetece largar tudo. O trabalho, a escola, até a família para um retiro de tranquilidade. Não as cheiramos, não as respiramos, muito menos as pisamos. Giram no nosso mais apaziguante imaginário. Porém, tendo em consideração a evolução tecnológica, nomeadamente no que toca à fotografia, muitas delas não são reais, ou, pelo menos, não exactamente assim como nos são apresentadas.

A expressão pollution-free torna-se tão utópica que, na maioria das abordagens, não se fala de lugares com ausência de poluição, mas de locais onde os níveis de poluição ficam abaixo dos valores recomendados pela OMS (Organização Mundial de Saúde). E assim se vão traindo consciências, colocando sorrisos na cara, ingenuamente deslumbrados com a demagogia de uma ilusão. Anunciam-se as cidades menos poluídas do mundo, os países menos poluídos do mundo. E, lá está, a traição da evidência ao escrever-se a palavra “menos”, em detrimento de “ausência”.

A Terra consiste num organismo de dinâmicas que se influenciam sucessivamente. Muitos solos, livres de agro-tóxicos, por exemplo, veem-se condenados pelo efeito mata-borrão da terra. Com o tempo vão-se acumulando compostos que se vão infiltrando mais profundamente nos solos, alargando, também, o seu perímetro de concentração. O efeito de estufa faz distribuir partículas e poeiras poluentes por vastas áreas.

Tendo em conta a crua realidade, a forma mais leal de falar será de “locais mais saudáveis do mundo”. Será que existem?

Pollution-Free, onde estais?

Levando a resposta à questão ao extremo, a primeira e mais lógica resposta, dirige-se para as poucas tribos primitivas do mundo. Isoladas, sem contacto algum com as sociedades actuais. Vivem dos recursos naturais e restauram-nos, também, num ciclo de respeito de vida harmonioso. Muitas destas tribos não são visitáveis sequer. Vivem sob a protecção de organizações que zelam pelo impedimento de contactos e consequentes influências de outras sociedades ditas modernas.

Ora, se não podemos visita-los, vamos procurar outros locais, onde o íntimo do espírito humano busque o merecido ambiente ausente de poluição, o corpo se retempere, os olhos sorriam num efeito automático e o prazer de pisar e respirar locais saudáveis da Terra mostrem o propósito da vida. Vistas que deslumbram. Exuberantes verdes naturais. Climas aprazíveis. Estes são os ingredientes indispensáveis para a identificação dos lugares mais saudáveis do mundo. Verdadeiros paraísos, que oferecem aos amantes da natureza o ex-libris para saborear a vida.

Além dos requisitos naturais intrínsecos, curiosamente, estes locais destacam-se por fortes vínculos de vida em comunidade, onde impera o optimismo. As estações quentes dominam durante o ano, favorecendo a possibilidade de desenvolver actividades ao ar livre e apreciar a natureza.

Imperam políticas de consciência ambiental, dominando condutas de protecção da natureza e minimização de impacto da vida em sociedade.

Tendo em conta estes conceitos, estão no Top 5 os seguintes locais da Terra, considerados os mais saudáveis (segundo a classificação da International Living)

1 – Península de Nicoya – Costa Rica;

2 – Sardenha – Mar Mediterrâneo;

3 – Vilcabamba ou “Vale da Longevidade” – Equador;

4 – Vale Volcan (província de Chiriqui) – Panamá;

5 – Nova Zelândia.

Apesar das distintas localizações geográficas, estes locais apresentam em comum paisagens idílicas de verdes naturais, contrastes de acidentados geológicos entre montanhas e vales e sempre a existência vital da água.

As vidas dos homens nestes locais correm ao sabor do respeito pelos alimentos entregues pela mãe-natureza, respeitando as suas riquezas locais e vivendo-as como parte integrante da rotina. Imperam políticas de minimização de impacto ambiental da acção da vida em sociedade. Esses princípios, além de respeitados, são essencialmente uma forma de vida.

Um indicador de referência as salubridade destes locais é a longevidade dos seus habitantes. Muitos deles são classificados de “Zonas Azuis”, lugares onde pessoas com mais longevidade de vida residem, destacando-se centenários perfeitamente integrados socialmente e activos nas actividades campestres, dentro das suas possibilidades.

Outros locais no mundo existem de mágica beleza natural, protegidos de construções imobiliárias, mas de exploração turística, muitos deles. Todos aqueles que não são explorados, se encontram esquecidos da especulação económica, se veem à mercê de somente existir, que sejam respirados pelos atrevidos aos desígnios da natureza. Que o silêncio sobre os mesmos permaneça e imaculados de marcas humanas se mantenham. Quanto a esses, respirem-nos, procurem-nos, descubram-nos, respeitem-nos.

Um dos tipos de poluição que domina a vida dos aglomerados urbanos é a poluição luminosa e ruidosa. Não damos quase por ela, mas, quando queremos absorver-nos no deleite de um céu estrelado, percebemos que perdemos muito mais da vida do que conscientemente pensamos. Quase uma hipnose. O céu, as estrelas, a ausência de gases, poeiras, smog, e a companhia dos sons musicais da natureza.

Estão todos convidados a apreciar e renascer o íntimo com este pequeno vídeo!

https://www.youtube.com/watch?v=RFZ-n441EgI

Share this article
Shareable URL
Prev Post

São Miguel, Um jardim no Atlântico

Next Post

Uma música no ouvido

Comments 1
  1. Uma forma inteligente, crua e verdadeira de abordar a realidade da nossa presença neste mundo! Uma abordagem multifacetada com o objetivo de despertar consciências e alertar os espíritos. Parabéns pelo artigo! Recomendo… 🙂

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

Eu ou o Chat GPT?

Depois de 20 anos trabalhando em empresas, eu agora desenvolvo jogos de tabuleiro, tanto para empresas quanto…

O Paradoxo da Inatividade

Há tempos cruzei-me com a simples, mas não por isso pouco importante, ideia de que o comportamento do ser humano…