O Verdadeiro Nascimento do Cinema

A literatura clássica de Charles Dickens, Alexandre Dumas, ou Shakespeare e o teatro melodramático burguês encontraram no cinema uma fonte de concretização do seu espectáculo, do qual The Birth of a Nation (1915) é exemplo.

David Llewelyn Wark Griffith, ou como ficaria conhecido D.W. Griffith, abandonou a Biograph, em 1913, disposto em conceber o maior filme de todos os tempos pelas suas próprias mãos. Os seus objectivos vinham sendo concretizados, afinal foi quem esteve no comando da primeira longa-metragem, Judith of Bethulia (1914).

D. W. Griffith
D. W. Griffith

Baseado no romance The Clansman, de Thomas Dixon, o custo inicial de O Nascimento de uma Nação seria de 40 mil dólares e a sua duração de aproximadamente 2 horas. Todavia, Griffith preferiu aumentar tanto um como outro aspecto. A inacreditável soma de 110 mil dólares e mais de 3 horas e 5 minutos de duração confirmam esta produção como obra-prima de um visionário que revolucionaria o cinema. Além disso, utilizou 18 000 figurantes e mais de 3 000 cavalos, comprovando o esplendor do novo fenómeno de massas.

A sua primeira exibição foi a 8 de Fevereiro de 1915, em Los Angeles, mas, após essa data, foi imediatamente banida da cidade. De seguida, a 3 de Março de 1915, é exibida em Nova Iorque, no Liberty Theatre com o custo de 2 dólares por bilhete (preço elevado para a época). A Casa Branca também reconheceu a sua estética, sendo o primeiro filme aí assistido, sobretudo, pelo enredo se centralizar no período da guerra civil (1860-1864). A película não foi exibida em Portugal pela falta de meios e só chegaria até nós pela Cinemateca Portuguesa, a 20 de Abril de 1965.

Vejamo-lo agora através de dois pontos de vista. Tecnicamente falando é considerado a base do cinema, enunciado, por muitos autores, como o verdadeiro ‘primeiro filme’. Tudo isto, porque, com Griffith, o cinema nasce como obra de arte. Nada lhe escapa. Com movimentos de câmara, close-ups, ou diferentes tipos de montagem, também adoptados daí por diante. No cinema de ordem de Hollywood, o realizador impressiona o público e ninguém nega a qualidade artística.

Por outro lado, escandalizou os defensores dos direitos da comunidade negra. O filme incrimina os ex-escravos africanos como os grandes culpados pela guerra. Esta visão deturpada dos factos históricos confirma Griffith como profundamente racista, preferindo até filmar com actores brancos com caras pintadas.
O seu conteúdo é ainda hoje fortemente criticado, pois defende a luta da Confederação, durante o período mais sangrento da história americana. Os membros da organização Ku Klux Klan eram tomados como heróis da nação – o que influenciou o seu ressurgimento no estado de Georgia.

Independentemente das suas temáticas, são definidos os princípios fundamentais do cinema. Enquanto que os primeiros anos transmitiam princípios educacionais socialmente aceites, o filme de D.W. Griffith contribuiu, em larga medida, para que o conceito de linguagem cinematográfica estivesse enraizado na sociedade, permitindo também a intelectualização das audiências.
De grosso modo, o cinema torna-se um verdadeiro negócio (o lucro líquido deste filme foi de 4 milhões de dólares, 40 vezes superior ao seu investimento) e o medium que seria responsável por debates e discussões ideológicas por todo o mundo, em todos os momentos das nossas vidas.

Poster do filme
Poster do filme

Ficha técnica
Ano de Produção: 1915/ Título português: O Nascimento de uma Nação/ Título original: The Birth of a Nation/ Realizador: D.W. Griffith/ Argumento: D.W. Griffith e Frank E. Woods/ Elenco: Lillian Gish, Mae Marsh, Henry Walthall, George Siegmann, Miriam Cooper, Mary Alden/ Música: Joseph Carl Breil/ Duração: 165 minutos

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