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O Tempo da Nossa Saúde Mental

Que tempo temos nós amanhã? Quanto tempo prevemos demorar? Será que conseguimos controlar o Tempo?

É sabido que, desde sempre, o Homem tentou controlar a natureza e a sua força infinita com inúmeros testes, experiências, estudos e investigações, tudo em favor da procura de uma melhoria na qualidade de vida e maior segurança. Estou certo de que na maior parte das vezes nos esquecemos de que o maior feito seria conseguirmos parar o Tempo. Sem esse objetivo alcançado, pelo menos até aos dias que correm, passamos os dias numa correria frenética e vem-nos frequentemente à memória o porquê de o dia não ter mais de vinte e quatro horas. Os dias deveriam ter de facto não mais, mas menos minutos e devíamos dedicar-nos a tudo aquilo que verdadeiramente é importante no nosso Tempo: a busca de um equilíbrio entre o que somos (pessoa individual) e onde nos inserimos (grupo). Uma harmoniosa esfera de um ecossistema, do qual todos os seres viventes fazem parte, revelar-nos-ia uma natureza predestinada e tendencialmente perfeita.

Nessa busca de comportamentos equilibrantes, todos nos deparamos com os denominados acontecimentos de vida, que nos poderão ajudar ou não a encontrar a almejada tranquilidade no meio de tanta competição e pressão diárias. Contudo, será que temos Tempo para parar e poder refletir sobre o que tal significa para cada um de nós? Como é que poderemos melhorar a nossa saúde mental, preocupando-nos em entender a extrema importância de adotarmos comportamentos que favoreçam o seu equilíbrio? Urge falarmos mais de saúde mental e menos em doença mental, no sentido de podermos promover a nossa saúde mental. É necessário consciencializarmo-nos deste facto.

Assim sendo e considerando que a saúde mental está presente em cada indivíduo, desde logo no meio intrauterino, quando falamos na ligação que se estabelece entre a mãe e uma nova vida, não faz sentido deixar de lado a saúde mental naquilo que representa o “todo” que é uma pessoa. Podemos constatar que, em cada passo que damos e no modo como socializamos, a questão da saúde mental está presente, refletindo-se em qualidade ou na sua ausência.

Com esta presença constante daquilo que ela significa, é necessária a mudança de mentalidades, nomeadamente em redor daquilo que foi e o que constitui agora o modus operandi dos profissionais, das associações e de todos os anónimos que se dedicam a fazer entender aos outros que o equilíbrio não passa somente por estarmos bem do ponto de vista orgânico, mas também pelo bem‑estar mental e social. Ou seja, não devemos dividir o que é indivisível.

Hoje, não faz sentido a segregação, isolamento e discriminação sociais das pessoas que têm algum tipo de problema em saúde mental. Dotar a comunidade de uma melhor literacia em saúde mental é parte imprescindível do caminho. O cuidar e os tratamentos hoje são outros, muito distintos daqueles de tempos que já lá vão. Preconiza-se a adoção de atitudes contra o estigma, que nos sirvam de motivação para construirmos estratégias individuais e junto da comunidade para promovermos a saúde mental, algo que é e se reflete em todos nós.

Termos capacidade de enganar o Tempo e retirarmos minutos àquelas vinte e quatro horas, para ter tempo que direcione o pensamento para outras atividades, momentos de descontração e descompressão, são formas de higienizar a nossa mente. Procurar algo simples que esteja ao alcance de cada um como seja caminhar, ler, desenhar, praticar desporto, cozinhar ou simplesmente parar e fazer silêncio, focando-nos apenas numa inspiração e expiração profundas. Desafio-vos: quantas vezes ao longo do vosso dia fazem isto? Pois, eu sei, não temos aquele Tempo, não é verdade? Ou será que nos desculpabilizamos com este mesmo argumento?

Depois de uma noite mal dormida sem o repouso favorecedor do sono equilibrador, porque ocupámos o tempo que deveríamos ter utilizado com preocupações de trabalho ou assuntos que temos de resolver no dia seguinte, acordamos. De seguida, corremos para preparar os nossos filhos. “Rápido, porque já estamos atrasados!” Até de pequeninos já herdam o nosso stress e correria pelas manhãs. “Vá, veste-te e come rápido!”. Não percebemos que também eles precisam de Tempo! Em dois minutos, enfiamo-los na cadeira do carro… “Papá, hoje é dia de escola?” Quase sem conseguir responder à pergunta, deixamo-los na escola num ápice. Depois daquele beijo e abraço com os quais nos despedimos, cruzam-se olhares que ninguém consegue descrever e ainda bem que assim é, porque há emoções que são para se guardar e não para revelar. Tamanha cumplicidade aquela! A passo largo até ao carro, fica-se com a sensação de que falta algo. O Tempo, claro está! O tempo para conseguir estar com eles mais Tempo! Entretanto, como numa espécie de misturadora que usamos na bancada da cozinha lá de casa, ideias saltitam na viagem até ao local de trabalho. Aquela máquina misturadora faz demasiado ruído, entre o abraço e o olhar deixados para trás na escolinha e a construção na nossa mente do plano para o dia laboral que se segue. Com o decorrer da manhã, mal temos tempo para parar e tomar um café de meia jornada. A hora do almoço quase não existe (ou quando existe é fora de horas). Chega o final do dia de trabalho e vamos apressadamente à escola em busca do tal abraço e do olhar que deixámos de manhã, mas que nos perseguiu o dia todo… Chegamos a casa à hora do banho, de seguida janta-se e, apesar de tanta correria e da exaustão sobrelevada, ainda nos conseguimos enganar de forma propositada. A contagem do número de colheres de sopa que já foram comidas para ver se comem mais um pouco da sopinha. “Uma… Duas… Duas e meia… Três!” A hora do deitar chega galopante assim como a história do cavalo a correr pelas planícies do pintado imaginário no teto do quarto. Adormece-se quase sem dar por isso. E o sono agitado regressa novamente.

No final, pensamos que faltámos ao prometido. Faltou-nos Tempo para brincar! Tempo para respirar e encontrar um minuto para aplicar estratégias que tanto nos fazem falta, na autopromoção da saúde mental.

Esquecemo-nos de nós próprios. Não temos em conta a importância de fazer uma pausa. Pausa. Perceber até que ponto toda esta correria vale a pena. Grande parte das vezes, apenas toda a pressão exercida pelos pares que nos é imposta no mundo em que vivemos ocupa lugar e tempo. Obviamente que temos as nossas obrigações e deveremos cumpri-las de forma responsável, mas até que ponto conseguimos compreender, na nossa condição de Humanos, a necessidade redentora da procura de um equilíbrio holístico?

Preocupa-me o facto de cada um de nós se esquecer de si próprio, do seu Tempo, do seu silêncio que tão necessário é para encontrar o equilíbrio mental e poder ser eficaz e útil para si e para os demais. Ninguém pode e consegue ajudar o outro se não estiver bem consigo próprio. É o que nos ensinam quando na vida experienciamos “situações limite” que nos levam a ficar dependentes de outros.

É inegável que cada um de nós, em algum momento, possa estar sujeito a algum tipo de problema na área da saúde mental. É inquestionável que os problemas em saúde mental existem. Uns evoluem para patologias graves superáveis com ajuda técnica especializada, enquanto outros se conseguem superar usando outras diferentes estratégias. Quando tal situação se verifica, em todo o processo e como parte integrante de uma família e comunidade que a pessoa é, nunca deveremos colocar de parte o grupo que a rodeia e no qual se insere. Quando alguém sofre de um problema em saúde mental, toda a dinâmica do grupo onde se insere é afetada. Surgem diversos estados emocionais, que poderão ou não assumir diferentes formas de exteriorização, e que podem ser difíceis de compreender por completo numa primeira abordagem. Neste sentido, as nossas intervenções terão de ser programadas também tendo em conta a família / o cuidador informal e o grupo de pertença, percebendo que todos sofrem com o problema.

Fazendo uma breve análise retrospetiva da história da saúde mental e das intervenções nesta área, percebemos que muito já foi feito, mudado e melhorado. No entanto, existe um largo caminho ainda pela frente. As medidas que deveriam ser implementadas e mais direcionadas para o respeito da individualidade de cada pessoa, parte integrante de uma comunidade, estão cada vez mais presentes, porém não são ainda suficientes. As respostas desejáveis e eficazes não devem estar só pendentes das decisões políticas, são também da responsabilidade de cada um de nós. O cidadão tem a opção de, individualmente, adotar atitudes proativas, ao invés de comodamente assumir atitudes e pensamento que direcionam estas preocupações a outros.

Para além de um plano individualizado, se queremos trabalhar a pessoa como membro de um grupo integrado numa comunidade são necessários mais investimentos e apoios de ordem económica, criação de novos grupos de trabalho, elaboração de mais protocolos entre estruturas já montadas e associações locais ou a nível nacional. Planificar toda uma ordem de trabalhos no sentido não só de criar novos programas que favoreçam a nossa saúde mental, mas também na passagem de informação e implementação real no terreno desses programas que visam melhorar estilos de vida, a favor de uma vida mais saudável, fazendo com que a nossa Saúde na sua globalidade melhore. Para esse fim, será necessário haver um maior envolvimento e interesse dos decisores políticos sobre estas temáticas, dando oportunidade à existência de representantes nos grupos de decisão, pessoas que trabalhem no terreno e que tenham experiência e conhecimento dos problemas reais que a pessoa enfrenta em termos de saúde mental. Os media têm conjuntamente um papel fulcral, no ensejo de reestruturar a informação que fazem passar nomeadamente em relação à saúde mental. A imagem do indigente e do louco, como pessoa que tem um problema em saúde mental, terá de ser substituída pela imagem de pessoas comuns integradas numa sociedade, capazes de produzir.

Consegui prever o tempo, mas não consegui parar o Tempo!

Lembrem-se de, quando vos perguntarem qual é a coisa mais preciosa que temos, responder que é o Tempo… O Tempo que nos escapa, que não conseguimos controlar ou enganar. O Tempo de que precisamos para encontrar o equilíbrio holístico. O Tempo que se traduz a favor de uma qualidade de vida melhor. O Tempo que a nossa saúde mental pede e precisa. O Tempo que vai e não volta. Assim como a vida, assim como os momentos de quando fomos nós as crianças e precisámos, também, de Tempo para brincar entre aquelas inocentes gargalhadas. Lembram-se?

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