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O Retrato de Manuel da Fonseca

Manuel da Fonseca (1911-1993)

Manuel da Fonseca foi um escritor importantíssimo e por muitos considerado um dos melhores do movimento neo-realista português, tendo marcado profundamente, a literatura portuguesa, enquanto poeta, contista, cronista e romancista. Detinha o grande sonho de criar uma literatura nova e foi, também, alguém que, muito lutou contra o regime Salazarista e contra todos os ditames da sociedade. Foi e é um dos escritores neo-realistas mais marcantes da Literatura Portuguesa.

A infância de Manuel Lopes Fonseca, conhecido como o escritor Manuel da Fonseca, é realmente importante, para a sua vida e para a sua decisão em tornar-se escritor. Nasceu a 15 de Outubro de 1911, em Santiago do Cacém, e morreu a 11 de Março de 1993, em Lisboa. Apesar de ter deixado Santiago do Cacém ainda muito novo, pois os pais queriam e foram para Lisboa, Manuel da Fonseca acabava sempre por voltar à sua terra natal. A sua infância ficou marcada pela morte do irmão, que era mais novo quase três anos, uma tragédia que inspirou o seu conto O Primeiro Camarada, Que Ficou No caminho, e o livro Aldeia Nova.

Os seus pais vão para Lisboa, assim que Manuel acaba a escola primária, ainda em Santiago, em 1923. Aquando dos pais residirem já em Lisboa, abrem uma fábrica no Arco do Cego, depois mudam-se para a Rua Almirante Barroso, onde formam a firma Fonseca & Fonseca Lda.. Manuel fica ainda mais algum tempo a viver em Santiago do Cacém, com o avô. Quando foi morar com os pais, vai morar para a Estefânia, mas as férias eram sempre passadas em Santiago do Cacém. Treze anos mais tarde, nasce o irmão Artur, também em Santiago, porque a família assim queria.

Carlos Augusto, o pai, oriundo de Castro Verde, filho de camponeses, é ferreiro de profissão e tem uma acentuada vocação para as artes. Grande conversador, apreciava contar uma boa história, gostava que Manuel herdasse e cultivasse este dom com grande sucesso. O pai de Carlos Augusto, seu avô, foi viver para Santiago do Cacém, por causa dos conflitos sociais e políticos na sua terra de origem. Era um óptimo profissional, com espírito empreendedor, tinha muito jeito para o desenho e fazia magníficas ilustrações e retratos, incluindo de pessoas da sua família e da família da mulher, que são dignos de nota. A mãe Maria Silvina e o pai encorajaram sempre o filho a ler e a escrever, com sucesso comprovado.

Manuel da Fonseca, desde pequeno, que ouvia o pai falar da sua família e da família da mãe, contando as respectivas histórias e outras tantas de outros. Desde pequeno que se familiariza com o ambiente social que o rodeia, com a agitação da vida política e com a vida em geral. No prefácio à edição de 1984 de Aldeia Nova, conta que, em ambas as famílias, sobressaem “indivíduos arrebatados, plenos de desamor à vida. Que eram os que mais profundamente amavam a vida, no contar de meu pai”. Acrescenta, ainda que, definiam exemplarmente os dois ramos: as casas e os livros, que por lá haviam, como Livro de Horas, Os Lusíadas, Frei Luís de Sousa, O Amor de Perdição, entre muitos outros. Na outra casa havia livros de feição educativa, política e história das civilizações: Karl Marx, Victor Hugo, Nordeau, Zola, Alexandre Herculano, Júlio Verne, Oliveira Martins, Eça de Queirós, etc..

A presença de Maria Silvina, sua mãe, é uma constante na vida de Manuel da Fonseca. Não é, com certeza, por acaso, que é ela quem preside ao jantar de homenagem, que lhe ofereceram na Casa do Alentejo, promovido por amigos e vizinhos da Parede, em 1959, logo a seguir à publicação de Seara de Vento, no meio de tantas figuras ilustres da vida cultural e política. O pai falece em 1955.

Manuel chega a frequentar a Escola de Belas Artes mas, entretanto, começa a trabalhar. Tem vários empregos, numa drogaria e na indústria farmacêutica, na Bayer, onde faz a revisão das bulas dos medicamentos. Vende artigos para escritório, como pracista. Começa a trabalhar em publicidade, na Fábrica de Máquinas de Costura Oliva, em São João da Madeira, e em diversas agências, incluindo uma por que passaram, também, Fernando Pessoa e Ary dos Santos. Começa a colaborar regularmente em jornais e revistas, o que fará ao longo de toda a sua vida. Dos arquivos da PIDE/DGS, cerca dos anos sessenta, constam informações de que tem a profissão de escritor e de que vive exclusivamente dos rendimentos do seu trabalho.

Casa pela primeira vez em 1937. Nasce o seu único filho. Este terá problemas de saúde, que Manuel refere no prefácio à edição de Cerromaior de 1981.

Assim, se foi talhando a carreira de Manuel da Fonseca escritor, que o foi toda a vida e toda a vida foi um militante da causa do povo, intervindo politicamente sem esmorecer e com sacrifício pessoal assinalável. Foi membro do Partido Comunista Português (PCP) e fez parte do Novo Cancioneiro. Toda a sua obra espelha realidades duras, impregnadas em paisagens alentejanas. Diz a certa altura, que tem uma ”obstinada recusada de ser feliz num mundo agressivamente infeliz”, numa luta constante contra os interesses mesquinhos, o egoísmo, a conivência e tudo o que no mundo está podre. Nos dois últimos livros e contos o ambiente é lisboeta, no entanto, quase toda a sua obra tem a marca do espaço físico, social e psicológico do Alentejo rural.

Paralelamente à sua actividade literária desenvolveu, intensamente, a militância cultural, social e política, chegando a ser preso pela PIDE em 1965.

A sua obra literária tem um cariz autobiográfico, onde se podem ler oposições como apaixonado/violento, desgraçado/herói, cidade/vila, e onde podemos sempre observar a sua luta por uma sociedade mais justa, a sua luta contra os preconceitos mesquinhos, que sempre desvirtuam o ser humano. Entendia a vida como livre de imposições, mentiras, ou outras condicionantes impostas pela sociedade.

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