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O que é para mim o 25 de Abril?

Seria normal e expectável que respondesse, logo assim, sem pensar muito: Liberdade, mas não. Julgo que mais do que Liberdade, para mim, 25 de Abril significa Poder. A conjugação absoluta do verbo que hoje se faz com um sentido prático e tecnicamente perfeito do que o mesmo significa. Eu posso, Tu podes, Ele pode, Nós podemos, Vós podeis, Eles podem tudo, se podem…

Sou mais novo do que ele. Temos uma diferença de 9 anos e uns mesitos. Já o conheci, quando estava, por isso, na idade da traquinice, quando ainda não era uma memória tão vincada, mas sim uma lembrança, uma recordação seguramente inesquecível para todos os que a viveram. Pensar em 25 de Abril é, no meu caso, sempre isto: um recordar convicto das muitas e tantas histórias que fui ouvindo ano após ano, à medida que os anos iam passando por eles, não por mim. Eu sonhava e imaginava. Quando sonhas não cresces tão depressa. Muita história. Sobretudo, muita memória, daquela que fica, para sempre lá. Ao longo dos anos (meus e não dele) fui ouvindo dos “mais crescidos”, que hoje em dia os jovens não dão valor a nada. “Têm tudo de mão beijada e depois não sabem o que custa a vida, é o que é. Isto agora é uma rebaldaria… Ai se isto fosse no tempo da Ditadura… Ai aí é que eles iam ver o que era bom prá tosse. Malandros.” De facto, talvez não tenha mesmo a capacidade de perceber, ao certo, o que significa não ser Livre. Talvez não entenda o que significa não ter nas costas a ideia de que, se quero e posso, logo, faço e vou. Como não ver a vida assim? É estranho para quem não sentiu. Quer-me parecer que sentir, ou ter sentido é capaz de ter muita importância nesta história toda.

Sentado no sofá, pernas “à chinês”, portátil na frente, persianas levantadas em dia de folga e a árvore que procura livremente o encosto na proximidade da minha varanda, (a marota) e, no meio de tudo isto, estou para aqui a tentar encontrar algo de significativo para escrever sobre o 25 de Abril e só me vêm à memória (lá está) as comemorações, as reivindicações, as opiniões, os prós e os contras, as histórias que se contam, essas sim, de verdadeiro valor (lá está novamente). O contrabando. O desafiar das regras. A clandestinidade. Os namoros à varanda. É, assim, que a vida manda. A busca incansável pela suprema e, até ali, aparentemente utópica ideia de Liberdade. É certo que a Liberdade não tem sabor, cheiro, cor, peso, forma, ou qualquer outra mundana parecença, mas tem, de forma inegável, associada a si uma grandeza superior ao entendimento humano. Uma sensação extrema que extravasa dos poros para o cheiro que traz o vento, para o toque, para o olhar, para a verdadeira razão de ser de cada um de nós.

A vida. A escolha. Mais, ou menos condicionada, mais ou menos livre, mas Liberdade é tanto mais do que o marco de um dia só. No fundo, conquistou-se muito e ter-se-à perdido outro tanto, conquistou-se o direito de se ser livre, para falar, ou estar calado, fosse em pé, ou sentado, dormindo, ou fingindo estar acordado, sem passar por malcriado. Uma ideia. Um conceito. Um acontecimento histórico. Um marco. Uma revolta. Uma revolução. Ou a fuga, ou a rendição. Ou talvez não, que neste dia mudou-se a convictamente a face a uma Nação.

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