O PS do Momento

O PS que hoje temos e conhecemos, foi sempre assim?

Ao tempo da sua fundação, o Partido Socialista era uma organização de combate ao regime de Salazar, mas que pretendia fazer distinção na sua prática, do então muito estalinista Partido Comunista Português. Mário Soares foi desde sempre o líder, até se retirar. Um político com uma imensa parte da sua vida fora da transparência que uma vida pública devia exigir. Boa parte do que havia acusado no regime anterior a 1974, Soares praticou, mas sempre num véu de democrata. Nunca, porém, a Soares se podem acometer acusações do mesmo teor do que nos últimos anos temos vindo a contemplar no PS, após Sampaio, particularmente com Sócrates e agora com Costa.

Um Partido com pergaminho de Democrata, que não respeitou um acto eleitoral e, numa atitude de sobranceria anti-democrata, se apossou, a coberto da Lei, de um Poder que não lhe haviam outorgado. Um Partido com repetidas responsabilidades em problemas de solvência Nacional, que a outros acusa de problemas de progresso e prosperidade do país.

A comparação do Partido Socialista, gerado em contexto de combate contra um regime totalitário, com profundas raízes democratas, e pleno de elementos incontestavelmente tolerantes, com um mesmo Partido que se transformou em alguma coisa indistinguível ideologicamente, mas obviamente comprometido com estratégias de tomada de Poder, é uma comparação custosa, no sentido de confrangedora.

A grande reviravolta do Partido Socialista, para uma organização descaracterizada, onde o interesse em ganhar o Poder a qualquer custo se sobrepôs à luta democrática por uma visão coerentemente defendida até então, deu-se com uma série de atitudes de líderes como Sampaio e mesmo Guterres, mas agravou-se, libertando-se os seus actores de muitos escrúpulos, com Sócrates e bem mais evidentemente com António Costa.

Quando em Democracia se usam de recursos, embora legais, que contrariam de forma ostensiva as opções maioritárias de um eleitorado, alguma coisa está muito mal na organização ou grupo que os utilizam. E o que está mal, desde já, e nunca ficou suficientemente claro para a generalidade dos portugueses, é a confusão entre legalidade e licitude, entre direito e ética.

A quem comete actos e pactos de lesada ética, não pode, nunca mais escapar de um futuro juízo político sem que seja conotado com um oportunismo injustificado. E, bem pior, com um incomensurável desrespeito por uma básica regra da Democracia: o respeito pelo voto expresso. Ainda que a Lei permita o contrário. Desde o inicial momento de tal cometimento ilícito, a transfiguração de uma organização não mais pára.

Se actos de irresponsabilidade maior e gravidade democrática não fossem suficientes, a tentação de negar e reverter acções políticas de um mandato anterior completo, acrescem a tais erros, que um dia todo um país poderá julgar e, ou condenar, ou aplaudir, como resultado de insucesso ou sucesso, para o bem geral.

No momento que transformou o PS, a preocupação não foi, claramente, o progresso, e mais importante a prosperidade, não o crescimento, também necessário quando se é “pequeno” para uma Dívida que se tem com o exterior e pequeno em tanta evolução e modernidade noutras áreas bem evidentes, mas antes terá sido o interesse imediato em ganhar poder e nele se manter a qualquer custo. O que, só por si, perverte o princípio da fundação do PS.

O momento actual é um populismo perigoso e atroz. Populismo perigoso, porque apenas procura satisfazer inconformados ou camadas sociais apegadas a um conforto e segurança de duvidosa sustentabilidade. Populismo atroz, porque não olha a meios e até compromete princípios essenciais de democratas do Partido do actual Poder, com alternativas anti-democráticas que sustentam o seu poder, mas que atacam a sociedade, minando-a com medidas e propostas de carácter contrário ao voto antes expresso e que são meras clonagens de outras tantas tendências no exterior, conotadas com extremismos irresponsáveis e ameaçadoras. O poder com este PS ganha sombras que não parece que o povo português pretendesse sofrer, com propostas do PCP e BE, que não mais desistirão de se implantar, se não de forma directa pela tomada de cargos no Estado, pela transformação de um país europeu e democrático numa utopia marxista e, talvez um dia, numa outra forma de regime totalitário. A sombra cresce sobre a sociedade, as famílias e as empresas. Sobre a Educação mais manipulada e tendenciosa, sobre a Economia mais centralizada.

É a sombra comunista sobre um país que nunca o quis ser, pela mão de um Partido antes democrata que agora dispensa a Ética e a sua própria Fundação, a favor de um poder ganho legal, mas ilicitamente.

O PS do Momento pode vir a ser um PS muito perigoso, um Partido onde todos os meios se justificam para atingir o mesmo fim: o Poder vitalício, mesmo não sufragado.

Um dia este povo português pode despertar para uma realidade que nunca quis e não esperava.

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