Marinho, voraz, rápido, inteligente, carnívoro e temido. Pensas-te em qual animal?
Os tubarões habitam no planeta Terra há mais de 450 milhões de anos. Já nadavam pelos mares, quando os dinossauros surgiram, enquanto que nós humanos aparecemos há 200.000 anos. Isto torna os tubarões nas criaturas vencedoras na escala evolucionária.
A nossa insensibilidade em relação aos tubarões, sem dúvidas, deve-se em grande parte, a filmes como O Tubarão, de Steven Spielberg, onde estes animais estão associados a gigantescas quantidades de sangue no mar e a banhistas mutilados. Partindo deste ponto de vista cinematográfico, é difícil ver a importância destas criaturas para o ser humano, mas, se pesquisarmos um pouco, encontraremos factos fascinantes que nos farão ver de forma diferente estes extraordinários animais, distanciando-se a imagem de monstros sanguinários que o cinema de Hollywood construiu nos seus filmes.
Os tubarões pertencem ao grupo de peixes de esqueleto cartilaginoso. Os seus ameaçadores dentes encontram-se enfileirados tanto na mandíbula inferior, como a superior. Os dentes mais externos costumam cair e os da fileira de trás passam para a frente, sendo que, ao longo de toda a vida, o tubarão pode ter até 20.000 dentes. Possuem um olfato extremamente apurado, chegando a sentir uma gota de sangue a 300 metros de distância, em pleno oceano, e podem perceber vibrações de um peixe a mover-se a 1.500 metros. À volta do focinho possuem pequenas ampolas (Ampolas de Lorenzini), que detectam campos eletromagnéticos e esta sensibilidade ajuda-os a encontrar presas escondidas na areia e também a orientarem-se, já que as correntes oceânicas que se deslocam no campo magnético da Terra geram campos eléctricos que guiam aos tubarões. Estima-se que existam cerca de 375 espécies de tubarão e, apesar de se dizer que são “máquinas de comer” que actuam apenas por instinto, são animais com habilidades racionais muito apuradas, como a resolução de problemas, a competência social e a curiosidade.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), entre 100 a 150 milhões de tubarões são capturados todos os anos. Estima-se que a população, em algumas espécies de tubarões, diminuiu cerca de 90% nos últimos anos e muitas espécies estão na lista vermelha de animais em risco de extinção.
Este declínio populacional dos tubarões deve-se vários factores. Entre eles, à continua à poluição das águas, à destruição, modificação e invasão do seu habitat natural, à falta de alimento provocada pela sobre-exploração pesqueira e, vale a pena ressaltar, à prática do chamado finning. O finning é uma prática cruel, que consiste na captura do animal, ao qual são retiradas as barbatanas, sendo, posteriormente, o resto do corpo do tubarão ainda vivo descartado para o mar. Incapazes de se movimentarem, estes tubarões morrem lentamente e em agonia.
As barbatanas resultantes do finning são procuradas especialmente pelo mercado asiático e por restaurantes asiáticos do mundo todo, por causa da famosa sopa de barbatana de tubarão. O consumo desta sopa no mundo oriental teve historicamente um importante conteúdo cultural associado a diversos rituais de tipo social e religioso. Contudo, actualmente, é um luxo culinário, que dá um gosto exótico no paladar dos consumidores, especialmente dos turistas ocidentais. Em Hong Kong, chega-se a pagar 100 euros por um prato desta sopa. O preço pago pelas barbatanas destes animais pode chegar aos 600 euros por quilo.
Cerca de 80% do comércio mundial das barbatanas de tubarão é representado por países como o Japão, a Indonésia e a China, mas sabe-se que, nos últimos anos, o mercado de importações de barbatanas do Japão, por ser tão lucrativo, tem atraído outros países, como é o caso dos Emirados Árabes Unidos, dos Estados Unidos da América, do México e, até recentemente, de Portugal e de Espanha.
Deve também considerar-se, para além de tudo o que foi dito até agora, que o rápido declínio populacional dos tubarões é duplamente prejudicial, principalmente por causa de várias das suas características biológicas. Os tubarões são espécies longevas, que crescem lentamente, amadurecem tardiamente, têm longos períodos de gestação e produzem poucas crias, ao longo da sua vida.
É necessária e urgente a regulação da pesca de tubarão, já para não falar da eliminação de práticas como o finning, e que os sistemas de gestão de pesca tenham em conta a renovação natural das espécies e que se promova o máximo aproveitamento das apanhas. Em 2013, a União Europeia incluiu uma lei que proíbe a prática do finning em águas europeias e, fora destas, proíbe-o para qualquer barco que leve a bandeira comunitária. Contudo, em águas internacionais esta prática não está regulada e não há legislação.
É fundamental, com tudo isto, enfatizar o valor ecológico destes impressionantes animais, pois são perigosas e imprevisíveis as consequências de eliminar um grande número de predadores que se encontram no topo da cadeia alimentar. Os tubarões são responsáveis pelo equilíbrio dos ecossistemas marinhos e, portanto, são também responsáveis pelo equilíbrio de outras espécies de interesse comercial para o ser humano. Para além disso, os tubarões livram o ecossistema de peixes doentes e debilitados, evitando a propagação de doenças marinhas e ajudando na evolução e diversidade das espécies marinhas. Estes caçadores marinhos alimentam-se também das espécies de peixes mais abundantes, equilibrando as populações de diferentes peixes. Muitas vezes os seres humanos esquecem-se de que fazem parte de uma complexa rede e que romper este equilíbrio pode compromete-los também.
Em relação às mortes humanas por ataques de tubarão, ocorrem aproximadamente 5 mortes por ano (como média da última década), pelo que a probabilidade de alguém morrer num ataque de tubarão é de cerca de 1 em 300 milhões. Do total de espécies de tubarões, apenas 12 são consideradas perigosas para o ser humano. Dessas 12, o tubarão branco, o tubarão tigre e o tubarão touro são responsáveis por mais de metade dos ataques. Na Europa, registaram-se, nos últimos 50 anos, apenas 40 ataques de tubarão, quase todos no Mar Mediterrâneo e o último ataque mortal foi registado em Itália, em 1989.
As estatísticas dão o que pensar: 5 pessoas mortas contra 150 milhões de tubarões mortos, anualmente. Se fizermos bem as contas, quem é que é o animal perigoso?