Uma das coisas que mais acredito e defendo é que uma boa gargalhada, daquelas que saem espontaneamente, bem de dentro de nós, de coração, é um dos remédios mais potentes contra grandes males que assolam a nossa vivência, nomeadamente a nossa mente, constantemente envolta e bombardeada, diariamente, com problemas, violência, desânimo e tristeza. A alegria, genuína, pura e intensa, é uma fonte fantástica de energia, como um adubo especial que colocamos em cada semente plantada pelas nossas mãos na nossa vida.
Muitas vezes vejo as pessoas com projectos, ideias, objectivos e visões sobre as suas vidas, sobre os seus caminhos, mas quando observo a forma como encaram tudo isso, noto que não há entrega, não há dedicação, não há, na verdade, qualquer alegria em seguir algo que definiram, que sonharam ou idealizaram, que acreditaram, de alguma forma, ser um preenchimento de uma parte importante das suas vidas. Rapidamente, o balão se esvazia e todo o entusiasmo se transforma em memória e nostalgia, remetida para o interior da nossa mente, alimentando as nossas frustrações, os medos e as dúvidas.
Acredito que também é importante não confundir alegria com optimismo, assim como, da mesma forma, não o podemos fazer em relação a pessimismo face a derrota ou realismo a resignação. Alegria é um modo de ser e de estar, um alimento para a alma, que nos leva a construir caminhos onde, aparentemente, eles não eram possíveis, mas que exige, a cada momento, um abrir profundo de olhos para o mundo que nos rodeia, não só para o ver, como também para o compreender, para saber o que é necessário para essa mesma construção.
Quando olhamos para o mundo que nos rodeia, vemos a generalização do medo, da derrota e do conformismo. A alegria é vista como, praticamente, um pecado, como falta de responsabilidade, de foco ou de consciência, como se os problemas não existissem – e todos têm problemas! Contudo, acredito, se todos vivêssemos mais a alegria, efectivamente, maior parte dos problemas não existiriam ou nunca haveria a necessidade de se manifestarem como forma de transformação e crescimento das nossas vidas.
Viver a alegria é a expressão constante e pura da gratidão, e todos nós temos algo pelo que agradecer, nem que seja a própria vida, que nos dá a força para nos levantarmos depois de cada queda, que nos dá a vontade, se assim quisermos, de irmos mais longe. Até os mais difíceis desafios, quando encarados desta forma, nem sempre fácil de se fazer, é verdade, tornam-se plataformas de crescimento, degraus que podemos subir na nossa evolução. No entanto, a vida, a sociedade, o mundo, a nossa família e tudo o que nos rodeia ensina-nos, em cada momento, que perante o problema temos de viver na dor, na angústia, temos de nele nos focar para o resolver, e tal é um desgaste tão grande e profundo que nos faz e destruir todo o nosso potencial.
O poder da alegria está no resgate do melhor que existe em nós e, no fundo, neste momento, no mundo que nos rodeia, mais longe e distante ou mais perto, bem coladinho a nós, é apenas isso que é necessário. Podemos não mudar o mundo todo, podemos nem sequer influenciar qualquer grande ou pequena situação, mas quando a alegria invade-nos e passamos a torna-la um modo de ser e de estar, permitimo-nos ser no nosso melhor, na nossa essência, no verdadeiro brilho de quem somos e de quem viemos ser. O mundo precisa mais de alegria, não porque vivemos dias sombrios, mas sim porque, acredito, o mundo preciso, mais do que nunca, da beleza e da unicidade que cada um contém em si.