Antes da entrada do Mundo no século XXI, vivia-se um pouco por todo o lado a expectativa da influência deixada por líderes marcantes, na Europa, nos Estados Unidos e na China.
O Mundo político vinha de Bill Clinton, que sucedera a George Bush, com ideias reformistas dentro do seu país, como mudanças no sistema fiscal, coisa que quase sempre sofre alterações alternadas entre Democratas e Republicanos, na sempre acesa discussão e dualidade entre mais ou menos presença do Estado, e outras nunca implementadas como a da Saúde, com a proclamada criação de um Sistema Nacional de Saúde. Vinha o Mundo, ainda antes de 2000, de um líder alemão forte, como o foi Helmut Kohl e do seu parceiro francês na construção europeia, François Mitterrand. Se Clinton representava o mais forte opositor às políticas liberais herdadas de Ronald Reagan, Mitterrand, um socialista, tinha tentando seguir esse exemplo, neo-liberal, aconselhado por outro socialista Jacques Delors, numa tentativa de apanhar o impulso económico de Thatcher e Reagan.
No Reino Unido, Magaret Thatcher havia sido a mais acérrima defensora da liberalização económica e genuína crente da auto-regulação dos mercados.
Na passagem do século, que ainda trouxe uns dias de dúvida pelo Mundo, com as sempre propaladas crenças e superstições, que uma mudança de século e de Milénio acarretaram pelo menos no mundo ocidental, houve o sobressalto do bug informático que poderia pôr em risco computadores por todo o lado, por idiossincrasias informáticas, e a novidade da mudança das moedas na Europa, com o Euro à imagem de um forte Marco alemão a trazer o prazer de uma moeda única e o ainda incerto impacte nos países com moedas mais fracas e voláteis, como os países do Sul. Mas era um tempo de novidade, de expectativa e de uma grande ânsia de mudança.
As convicções de líderes fortes como os já mencionados, não eram uma preocupação numa China que procurava uma abertura económica e, com isso, uma fuga do empobrecimento a que o país havia sido condenado por demasiados anos de maoísmo. Com Jiang Zemin e depois com Jintao, já dentro do século actual, a China pretendia mostrar a força da sua dimensão, alicerçada numa mão de obra muito barata, que era atractiva ao Ocidente.
A Globalização não foi estranha a todo este processo. Por todo o lado as grandes empresas internacionais procuraram, antes e depois de 2000, uma maior implantação em mercados onde ainda não estavam seguras e os processos de fusão e aquisição tornaram-se uma moda que entrou pelo Século XXI, até não mais haver por onde crescer. Por esse prisma, a globalização, deu um grande impulso ao crescimento da economia mundial. Mas nem por todo o Mundo era bem aceite a transformação, ou estavam os países preparados para ela.
Em Espanha, era líder Felipe Gonzalez, em Portugal, Cavaco Silva. Mas na viragem do Século, já António Guterres era Primeiro-ministro e Aznar ira sê-lo em 2004 em Espanha. Assistia-se assim a uma alternância, um pouco por todo o planeta, nos países mais influentes e nos que mais nos dizem pela proximidade. Mas não era, hoje entende-se melhor, uma alternância com marcas permanentes, mas antes algo que foi fazendo derivar e não solidificar uma tendência estável de progresso. Se é certo que na Europa, o Euro seria um dado adquirido e marcante, que levaria recentemente a que fosse visto como o culpado principal dos desequilíbrios entre Norte e Sul, entre países com economias pujantes e sociedades mais estruturadas onde as desigualdades eram também menores, e outros com anos de atraso económico e com economias baseadas em indústrias em decadência e em forte concorrência com a Ásia emergente, e ainda responsável pelo grande endividamento do sul da Europa, pouco mais do que isso se ia conseguindo avançar, económica ou socialmente.
A política europeia herdada de Thatcher, Kohl e Mitterrand iria entrar numa navegação à vista, com recorrentes desorientações, ou pouco consolidadas medidas que fizessem regressar alguma hegemonia ao Velho Continente. Até hoje, a política europeia parece viver muito mais de um centro forte, com a Alemanha como timoneira, do que de uma supremacia civilizacional. E parece ser crescente alguma decadência, ou pelo menos estar a estagnar a antiga liderança europeia. A Europa saída da Segunda Guerra Mundial, que encontrara na Alemanha derrotada na mesma, a âncora do desenvolvimento, iria gradualmente perder essa importância, deslocada em parte, nos primeiros anos do Século para o Oriente, por opções dela mesma e dos Estados Unidos, numa nova tendência de industrialização na China e na Indía e em diversos países à sua volta, um processo que se poderia tornar descontrolável para o Ocidente, e ainda hoje não terminado.
A Rússia, igual a si mesma, um país que ainda não sabe o que é Democracia, apenas se manteve na lista dos líderes mundiais, pela permanente ameaça bélica e pela importância dos seus recursos energéticos, a par de um controlo político dos países saídos de uma liberalização de Gorbatchev. Mas a promessa democrática cedo cedeu à velha tentação centralizadora dos herdeiros do comunismo, antigos activos do KGB, como bem expressa a alternância política entre Putin, Medvedev e Putin, de novo.
A dado momento, em início de Século, o Brasil de Fernando Henrique Cardoso e depois de Lula da Silva entrava na lista das promessas mundiais. Estava-se por volta de 2004. Mas hoje, já o Brasil começa a regressar aos negros anos da inflação a dois dígitos e poucos acreditam já na sua senda para alguma futura hegemonia.
A globalização foi a corrente que mais fez crer na força da Dimensão, das maiores economias e na nova tendência da produção a custos muito baixos, uma novidade chinesa que o Ocidente aproveitou em larga escala e ainda hoje marca o ritmo das produções e do comércio mais activo. O mundo do Século XXI tornou-se diferente com a crescente deslocação da Produção mundial para Oriente.
A política mundial, através dos mencionados líderes das maiores economias e ainda das já estafadas experiências de desilusão em países fracos, económica, social e culturalmente, onde ainda impera muita iliteracia, como em Portugal, em Espanha e na Grécia, não acompanhou a dinâmica das grandes empresas, nem as necessidades dos povos. A perda de orientação não ficou apenas latente, mas foi ganhando espessura e hoje ainda se sente uma falta de liderança, patente nas crises financeiras algo recorrentes, nas medidas de correcção de comportamentos políticos erráticos, que se têm tornado reféns de um sistema financeiro muito comprometido com os Governos de quase todos os países ocidentais, e patente ainda de forma mais gritante nas fracas decisões sobre movimentos migratórios, nas ameaças terroristas e na envergonhada política externa. Na Europa, como nos Estados Unidos, dos anos mais recentes.
Os primeiros quinze anos deste Século ainda são uma sombra do tão agitado e impactante Século precedente. São ainda uma procura de novo rumo, que a globalização, a ameaça terrorista, a deslocação da produção para Oriente e os incipientes crescimentos económicos não deixam sossegar, nem permitiram entender cabalmente um Mundo novo que continua a mudar, sem que se entenda para onde vai e que factores mais poderão trazer perturbações e perda de orientação e liderança política.
A par dos fracos desenvolvimentos políticos destes quinze anos, numa Europa um tanto perdida e um tanto assustada e insegura, alguns países conseguiram ganhar a estabilidade e a serenidade económica e social que a maioria já desconhece e nem quer já entender. São o Norte mais extremo da Velha Europa que mesmo em alternância democrática desistiu da experimentação política irresponsável do Sul, de Portugal, Espanha, Grécia, França e Itália, fundamentalmente. E, com a notória fragilidade do tecido político de muitos países, ganham terreno o populismo e vários extremismos, que ainda mais contribuem para intranquilidade. Acresce, o gradual e lento enfraquecimento da hegemonia americana, com um Presidente que seria uma lufada de ar fresco, mas que para muitos mais é uma desilusão e, em geral, um preocupante rumo para a decadência.
Provavelmente surgirá algo de novo, que permita uma inversão deste enfraquecimento Ocidental, mas tudo é ainda muito próximo e inseguro no tempo e a actualidade não permite grandes previsões.
Das novidades económicas do anterior Século ainda subsiste algum sonho de globalização, como de uma recuperação de relevância de um Ocidente adormecido industrialmente. Ainda subsistem as ideias de Direita e Esquerda, da dualidade Socialista e Liberal, ou da dormente Social-democracia que para muitos deixou de ser promessa.
O sonho ocidental, a liderança tecnológica, começa há algum tempo a ser o sonho asiático. Com ele, ganham força as políticas mais liberais no Oriente e perdem os esforços praticamente inúteis do regresso à social-democracia na Europa, ou dos Democratas americanos que, com Clinton e agora com Obama, pretenderam copiar algum do equilíbrio e bem-estar social do Velho Continente.
Nos primeiros quinze anos deste Século XXI, ainda não se percebe bem que rumo político poderá ser vencedor, ou se surgirá um dia uma nova ideologia, ou uma nova realidade. Este, é ainda um Século politicamente à procura de si mesmo.