De manhã, ele desperta-nos com o nosso toque favorito, mostra-nos as horas, os nossos compromissos para o dia e dá-nos a previsão do tempo. Chama-nos o Uber que nos leva à estação, o Moovit dá-nos a melhor opção de transportes, ou o Waze, o percurso otimizado tendo em conta o trânsito em tempo real.
Este mordomo dos tempos modernos, pelo caminho leva-nos ao banco, onde fazemos os nossos pagamentos ou consultamos os nossos movimentos financeiros. Envia-nos a leitura atual de eletricidade, informa-nos do saldo do nosso cartão refeição e mostra-nos os serviços que temos ativos no nosso operador de telecomunicações, aproveita para nos mostrar a próxima factura. Tudo isto sem sair do objeto mais imprescindível do século XXI.
Obrigações feitas, durante a viagem, está na hora de jogar o nosso jogo favorito, nos intervalos aproveitamos para interagir nas redes sociais e pôr a conversa em dia com os nossos familiares pelo Facebook ou Instagram, sem esquecer de dar um olá a alguns amigos pelo WhatsApp.
Já no trabalho, consultamos a nossa agenda e tarefas do dia, pesquisamos um termo novo no Google ou na Wikipédia, e deitamos o olho às gordas nos tablóides. Na hora de almoço o Zomato diz-nos o melhor local para almoçar e o Maps como lá chegar.
No caminho para casa, diz-nos qual a farmácia de serviço para aviar a receita, lemos um livro, colocamos os auscultadores e escutamos a nossa playlist do Spotify, aprendemos mais umas palavras de uma língua nova com o Duolingo, vemos mais um episódio da série favorita da Netflix. Consultamos os produtos do dia em promoção no nosso supermercado de eleição.
No sossego do lar, o Uber-Eats traz-nos o jantar, planeamos a próxima viagem, o Momondo encontra-nos o voo ao melhor preço e marcamos a estadia com o Booking ou Airbnb. Atualizamos o nosso perfil profissional no LinkedIn e salvaguardamos as nossas fotos na cloud. Aproveitamos para ver as novas tendências da moda e mandamos vir o último grito da tecnologia da Amazon. E onde fomos? Tudo isto, sem sair deste nosso dispositivo indispensável!
É inútil argumentar com as consequências, que o uso intensivo deste acessório possa trazer, problemas de visão, de coluna, insónias, dores de cabeça, depressão, etc… Pois é altamente improvável conseguir viver na presente sociedade, sem esta mobilidade. Muitos sofrem de nomofobia, o medo da eventual incapacidade de aceder ao seu smartphone.
Em jantares, na sala, na cozinha, no metro, nas aulas, no trânsito, no trabalho, no hospital, no comboio, concerto, na praia, olhamos para o lado e dificilmente vemos alguém que não esteja em uso constante do smartphone. No Japão 90% destes equipamentos são á prova de água, dado que a maioria dos adolescentes usa-o mesmo no banho.
Já não é só um telefone, nem uma máquina fotográfica, nem um rádio, um GPS, um leitor de áudio, uma câmara de vídeo, é um novo apêndice do nosso corpo, um acessório incontornável, que se apoderou do nosso quotidiano e nos serve permanentemente, garantindo a nossa ligação ao mundo!
Estamos tão dependentes, que em média, por dia o utilizador de um smartphone faz o lock ou unlock do mesmo cerca de 110 vezes. É um objeto tão presente no nosso dia a dia que, na Finlândia, o lançamento do telemóvel já é um desporto oficial!
O meu mundo está todo ali, concentrado naquele objeto. O smartphone engoliu a televisão, o rádio, o computador e paralelamente a isso, reinventou os momentos com amigos e em família, não há roolback possível.