Como diria Aristóteles, “o Homem é um animal político” e, como tal, tem no sangue a sede de fazer política e a necessidade de se envolver nessa actividade que é, tantas vezes, polémica.
Tendo como base a noção de que a política e as reformas adoptadas por quem nos governa afectam, em primeiro lugar, os cidadãos, seria importante que a participação destes nas decisões tomadas a nível político fosse incrementada, não se limitando apenas aos votos em época eleitoral.
Para resolver os problemas actuais das democracias e de acordo com o pensamento de Manuel de Arriaga, o autor do livro Reinventar a Democracia, não basta substituir os governos por outros – “Não se trata apenas de um problema de casting. Se a peça é má, substituir os actores não a tornará melhor.” Achei relevante citar Manuel de Arriaga, pois este fala-nos, no seu livro, de um conceito importante para a questão da participação política por parte dos cidadãos: a deliberação cívica.
Segundo o autor, a deliberação cívica consiste na nomeação aleatória de um painel de cidadãos, convocados para tomar uma decisão política. Este método assemelha-se com o sistema de jurados dos julgamentos americanos e já foi testado na Colúmbia Britânica (Canadá) e em Oregon (um estado americano).
O método proposto por Manuel de Arriaga é aquele que, a meu ver, permitiria, mais do que os outros, uma maior participação política por parte dos cidadãos e, consequentemente, a implementação de medidas que iriam ao encontro da vontade e das necessidades dos mesmos.
O sistema eleitoral actual, no qual votamos no fim de cada legislatura, no partido que, à partida, vai ao encontro dos nossos ideais, não é, de todo, suficiente. Votar num partido, eleger deputados e esperar quatro anos para ver resultados não nos satisfaz enquanto cidadãos e não nos garante que as nossas necessidades sejam suprimidas. Precisamos, enquanto membros de uma sociedade organizada, de ter uma palavra a dizer em relação ao que o governo do partido X ou Y quer fazer com o nosso país – e essa palavra não pode passar apenas pelo acto de colocar uma cruz num papel e esperar para ver o que acontece.
É urgente impedir que quem nos governa faça o que quer, quando quer e porque lhe apetece, apenas porque lhe demos o poder para isso, através do nosso voto. Assim, podermos eleger aleatoriamente um painel de cidadãos que, enquanto nossos representantes, serviriam de intermédio entre as nossas preferências e as medidas que o governo quer implementar, seria uma solução agradável para toda a sociedade.
Quem nos governa não nos representa, no sentido em que nem sempre representa a nossa vontade e nós, enquanto cidadãos, assistimos passivamente a decisões que nada têm a ver com aquilo de que precisamos ou com o que procuramos. Perante esta realidade, precisamos de nos impor e de tentar adoptar um sistema (seja o que referi, seja outro semelhante) que nos permita participar e ser uma voz activa nas decisões políticas tomadas pelo nosso governo.