A dor é um processo silencioso. Acontece dentro de nós e não está à vista dos outros. Podemos até andar com um semblante triste ou chorar pelos cantos, mas nem assim os outros percebem a nossa dor. Usamos o sorriso como mecanismo de defesa: o mundo não pára só porque estamos a sofrer e, portanto, mais vale encararmos o dia a dia com um sorriso, mesmo que tenhamos deixado a nossa almofada manchada com as lágrimas que chorámos na noite anterior.
Não há uma fórmula que nos ensine a lidar com a dor. Sabemos que temos de a guardar numa gaveta quando vamos trabalhar, quando vamos para as aulas, quando falamos com os que estão à nossa volta. Não podemos deixar que a dor nos faça ser amargos com os que não têm culpa que nos sintamos assim. Por todo o lado vemos as pessoas fazerem a sua vida normal: fazem compras, passeiam, riem, cantam, dançam, vão trabalhar, vão ao ginásio ou à natação, saem com os amigos, jantam com a família, fazem tudo o que costumam fazer porque, para eles, a vida continua.
Contudo, para nós, a vida parou, os relógios teimam em andar mas nós estamos parados no meio da nossa dor, e tudo o que mais queríamos era que o mundo parasse de girar e nos permitisse sentar no chão e chorar toda a mágoa que trazemos no peito, sem que ninguém nos olhasse com desdém nem tentasse saber, com demasiadas perguntas, o que se passa dentro de nós.
Quando o peito nos dói, quando trazemos connosco uma ferida aberta que não pára de sangrar, andamos em guerra connosco mesmos. E o grande desafio é conseguirmos que essa guerra aconteça só dentro de nós, porque os outros não têm culpa. Talvez o segredo seja chorar quando ninguém vê e sorrir quando assim tem de ser. E, se repetirmos esse ritual várias vezes, talvez tenhamos a sorte de o começarmos a fazer de forma automática, enquanto caminhamos, aos tropeções e sem certezas, pela vida fora.
Sempre em frente, claro, olhar para trás não é opção.