Música: a arte que toca no coração

Em cada forma de arte podemos descobrir um pouco de nós mesmos. Se encontrarmos magia numa representação artística, é porque algo de nós se identifica com aquela forma de expressão. É o caso da música, que tem o poder de nos proporcionar momentos de felicidade, de nos juntar a causas e ideais, de nos transportar para determinados eventos da vida e de nos iluminar e elevar o espírito, levando-nos, por vezes, a um maior autoconhecimento.

A música ajuda a criar ambiente e a intensificar momentos. Desperta-nos memórias e transporta-nos para agoras de outrora. Insisto, por isso, na disponibilidade como modo de estar. Disponibilidade para prestar atenção, para escutar o que a vida nos oferece e para nos deixarmos levar pelas ondas subtis das horas felizes, ou até mais melancólicas ou saudosas, que a música nos pode reavivar. É assim esta primeira arte, que começa pelo som, mas que ultrapassa fronteiras e trespassa todas as artes e sentidos.

Apurar a nossa sensibilidade para as subtilezas da vida, aqueles lugares-comuns cheios de sentido, que nos conectam uns com os outros, eis que é também um dos poderes da música, um instrumento que também pode ser um impulso para extrair a nossa capacidade de audição dos lugares e do nosso lugar no mundo; de nos ajudar a abrir horizontes; de aumentar a nossa cultura, inspiração e criatividade; de escutar e ver as coisas de um modo mais intuitivo e até mais optimista, mesmo que envolva algum romantismo. Afinal, o que é a vida sem romance? Não se trata de viver num mundo de fantasia, mas estar desperto para as várias possibilidades da vida, da qual a música faz parte. A começar pela natureza, o expoente máximo da música.

Há música para todos os gostos e também há músicas que nos apuram o gosto. Para cada momento pode existir uma melodia especial, podendo uma música ajudar a compor determinada circunstância ou nos dar força em certas ocasiões. Pode, também, transportar-nos para certos eventos da vida e, simplesmente, eternizá-los. Em tudo há música. Basta estarmos atentos. No meu caso, por exemplo, a gaivota leva-me até ao meu pai, que adorava Amália Rodrigues; blowing in the wind leva-me para os acordes de viola da minha irmã mais velha; o anel de rubi leva-me para as paixões dos anos 90; já o lobo-hombre en Paris leva-me até às minhas noites académicas; o cisne leva-me para os palcos da minha filha; tu és mais forte leva-me para uma altura muito delicada em que o meu filho me dedicou esta música. E a música clássica traz-me inspiração para o presente da vida. É o caso de cânone em Ré Maior, de lullaby ou da valsa das flores. E da exaltação da alegria em primavera ou divertissement, que também me dão a perspectiva de que a vida é maravilhosa!

E é este o poder que a música exerce sobre quem se mostra disponível para abraçar a vida e ouvir os sons subtis que em cada canto estão à nossa disposição para que os apreciemos, nos inspiremos e criemos também as nossas obras de arte. Sim, porque acredito veemente que cada um de nós é artista, acima de tudo, artista de si próprio.

Cada música tem tantas histórias quantos os pares de ouvidos de quem a ouve. É esta a beleza daquela que está em primeiro lugar de todas as artes. E quando tiramos um bocadinho para ouvir as nossas músicas, estamos a eternizar momentos e a ganhar vida e atrair felicidade, mesmo que nos tragam recordações mais melancólicas. Outrora já foram vida. Agora são vida no nosso coração…

Em nasci p’ra música, José Cid canta que a música faz sorrir e sonhar e, se escutarmos com atenção, temos o bater do nosso coração… É isto.

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