Maquiavel

Marcelo é um hábil operador político. Dizem. Após um período apagado como presidente do PSD, brilhou como comentador político da TVI. Até recomendava livros. Onde já se viu, um político culto? O Santana estava na televisão, mas era só futebol e festas. O Marcelo é inteligente. Dizem.

Por isso não embarcou no barco furado que o Cavaco Silva tentou lançar para a PAF. Por isso apoiou e empurrou o Costa para estados de excepção e emergência. Para conter as responsabilidades do que poderia correr mal nas costas do Costa. Movimento inteligente. Dizem. Mas o Costa surfou as vagas com habilidade, sem os excessos autoritários de outros governos europeus, sem ter sido verdadeiramente prejudicado pela maior crise da democracia. Costa ganhou. Então o Marcelo apostou no cavalo que ganha. Movimento inteligente. Dizem.

Quando a esquerda e o PS estavam ali a puxar a corda, à espera de quem poderia revindicar uma vitória, o Marcelo viu uma oportunidade. Quando o Bloco disse que não aprovava o orçamento e o PCP viu que era a sua vez de ceder, foi procurando negociar. O PS não precisava da força dos argumentos, tinha o argumento da força.
Eis a brilhante ideia de Marcelo, vou ameaçar deitar abaixo a geringonça. Se o PS ceder, podemos acusá-lo de ser um capacho do PCP. Porque isto dos comunistas ainda mete muito medinho. Se o PCP ou Bloco cedem, ficam ainda mais fragilizados. O Costa decidiu “pagar para ver”. Apostou mais alto contra o bluff do PCP e Marcelo. Quando o PCP retirou a sua mão, Marcelo encontrou-se encostado à parede, com um PSD fragilizado e com eleições. O Marcelo é um hábil operador político. Dizem.

Marcelo achou bem receber e preparar o Rangel, esse grande vendedor europeu… não me lembro agora de quando e nem vale a pena pesquisar. Aquele que perdeu para um Rui Rio desgastado por anos de oposição. Um Rui Rio que fez uma campanha tão desgastada e vazia como ele. Em eleições (que puniram as forças da esquerda por não cederem a um acordo) com sondagens em cima do acontecimento para meter medo acerca da volta do papão do PSD, temos as eleições que Marcelo criou, mas foram nos termos de Costa.

Costa ganhou mais 4 anos, uma maioria absoluta e a possibilidade de investir fundos europeus para deixar obra e história. O Costa já está eleito como Presidente da República no futuro. Ele não é capaz da incompetência necessária para evitar isso, mas o Marcelo é um hábil operador político. Dizem. Ainda podia influenciar a composição do Governo, claro. Contudo, houve uma fuga para a imprensa, infelizmente, ninguém sabe como. Marcelo ainda podia fazer o seu papel institucional, mesmo concordando com este elenco. Porém, recusou, amuou. Como já era público, ele defendeu que era inútil reunir. Ou seja, Costa tem a maioria, faz o que quer e nem tem de passar pela “seca” de se reunir para formalidades.

Mas o Marcelo é… dizem.

Por isso, quando, há meses, surgiu o rumor de que o Costa iria ter um cargo europeu, como o Barroso, ele guardou essa informação. Na tomada de posse, fez da hipótese de Costa se demitir um facto político. Claro. Demitir-se da maioria absoluta e fundos europeus extraordinários para se tornar o pária em que se tornou Barroso. Claro que o Costa não apostou tudo nestas eleições a 4 anos para se ir embora a meio, mas o Marcelo fez dele “refém”, segundo algumas notícias. No entanto, se faz o Marcelo sentir-se melhor, se serve para que se veja como um hábil operador político, tudo bem. O Costa deixa.

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