Foi este o momento. O jogo parou em pleno pavilhão da equipa adversária, a bola do jogo foi entregue ao homem do momento, Kobe Bryant. Companheiros e adversários não perderam a oportunidade de cumprimentar e congratular aquele que é o melhor jogador da sua geração. Kobe Bryant tinha acabado de ultrapassar Michael Jordan na lista de melhores marcadores da história da NBA. O jogador dos LA Lakers ocupa agora a terceira posição nessa lista, enquanto a lenda dos Chicago Bulls passa a ocupar a quarta. Porém, se ainda existem mais dois jogadores na frente de Kobe, no que à pontuação diz respeito – Karl Malone e Kareem Abdul-Jabbar -, porque é que este feito foi tão importante para a NBA e para o desporto mundial?
Primeiro, porque Kobe “The Black Mamba” Bryant é mais do que apenas um marcador de pontos e, segundo, porque Michael Jordan é o jogador com mais impacto de sempre na NBA. Foi Jordan que mudou o jogo, antes de outro o conseguir fazer, tornou-o global e delineou caminhos para que jogadores como Kobe Bryant, Tim Duncan, ou, o já retirado, Shaquille O’Neal, pudessem triunfar e ter o reconhecimento que merecem.
“Sinto-me honrado por continuar a jogar. As carreiras dos basquetebolistas não costumam durar tanto tempo. Continuo a ter oportunidade de jogar a este nível e isso para mim continua a ser muito especial”, disse Kobe Bryant, de 36 anos, após o jogo com os Wolves, que marcou a sua passagem para o pódio dos melhores marcadores de sempre.
A imprensa americana, as redes sociais portuguesas e alguns dos fãs de basquetebol e da NBA em particular detém uma obsessão quase doentia, que não lhes permite usufruir e aproveitar os grandes jogadores que têm oportunidade de ver em acção, a realizar coisas fantásticas dentro do campo e que nunca mais serão reproduzidas por outro. Isto, porque todos os jogadores são diferentes, mesmo dentro dos padrões a que só os predestinados chegam. Trata-se da obsessão da comparação, da diminuição de um feito só porque Michael Jordan – discutivelmente o melhor de sempre – já o fez. Não é esse o propósito deste artigo, mas é inevitável não falar de Bryant como o único jogador que, até ao momento, chega perto da herança de Jordan, tanto pelos títulos, como pela liderança, como pela lealdade à sua equipa e, claro, pela qualidade, garra e elegância ímpar que coloca no seu jogo.
É problemático vislumbrar o currículo de Bryant sem deixar escapar nenhum título, nenhum recorde, ou distinção: 5 vezes campeão da NBA (2000, 2001, 2002, 2009, 2010); 7 presenças nas finais (2004 e 2008); 2 vezes considerado o melhor jogador das finais da NBA; 1 vez MVP (Most Valuable Player); 2 vezes melhor marcador da liga; 16 presenças no jogo All-Star (das estrelas); 4 vezes MVP do jogo All-Star; por 15 ocasiões foi seleccionado para a equipa ideal da liga; 12 vezes seleccionado para a primeira, ou segunda equipa defensiva da liga; Campeão do concurso de afundanços na sua época de estreia; 2 medalhas de ouro pelos Estados Unidos da América e, claro, detém a segunda melhor prestação individual de sempre da NBA, com 81 pontos marcados em 2006, algo que seria (e é) impensável na NBA do século XXI.
Assimilaram a informação? Podemos continuar?
Kobe Bryant é, ainda, o jogador com mais triplos concretizados numa só partida (12) – empatado com Donyell Marshall. O único jogador a totalizar mais de 30 mil pontos conjugados com mais de 6 mil assistências na carreira. O único jogador da história a marcar mais de 600 pontos nos Playoffs por três anos consecutivos (2008, 2009 e 2010). O mais novo de sempre a ser titular num jogo All-Star.
Sim, sei que faltam registos e recordes, mas vamos ficar por aqui. Há mais sobre Kobe Bryant que não se observa pelas conquistas, ou pelos números.
Observa-se um pouco mais através deste vídeo. A técnica, a arte de um lançamento perfeito, os passes magistrais que são verdadeiras assistências, valem pontos. Bryant é o jogador exterior mais técnico que a NBA alguma vez presenciou, talvez por ter crescido em Itália, aprendendo também com a escola europeia, mais técnica por excelência, ainda que não tão talentosa e atleta. Kobe teve as duas, é a junção da força temível com a técnica indefensável.
“Black Mamba” é a alcunha perfeita para o nº 24 dos LA Lakers. O miúdo que prescindiu da universidade para ingressar na NBA com apenas 17 anos de idade, tornando-se, ao longo dos anos, num verdadeiro assassino dentro de campo. Isso mesmo, assassino. As situações de pressão extrema são o habitat natural de Bryant, tem veneno para os adversários, todos o temem, tanto pela sua qualidade evidente em todos os minutos de jogo, como pela sua capacidade singular de acabar jogos com um lançamento decisivo, sem restar qualquer tempo no relógio, sem possibilidade de retaliação.
E, já que falo de tempo, aproveitem-no bem. Kobe Bryant está no penúltimo ano daquele que deverá ser o seu último contrato como jogador profissional. Os LA Lakers estão a passar por uma fase difícil, mas, o nível de Kobe, mesmo aos 36 anos, enche pavilhões por si só. Chegar ao 1º e ao 2º posto de melhor marcador já será muito difícil, no entanto, o lugar de notoriedade no corredor da fama de uma das ligas desportivas mais emocionantes do mundo, esse, está mais do que garantido.
Mas, não, Kobe não tem apenas recordes positivos. Também é o atleta dos LA Lakers o jogador que mais lançamentos falhou na história da NBA. Admirados? Tem uma explicação. Bryant está há 19 anos na liga, é da posição que lança mais por definição (Shooting Guard) e, como se não bastasse, já teve algumas temporadas em que os seus colegas não tinham propriamente um talento acima da média. Kobe Bryant tem pelos menos 1500 lançamentos falhados por época, em dez das temporadas que realizou. Mas, será Kobe Bryant um mau lançador? Não. E a percentagem de lançamento de 45,3% prova isso mesmo. Simplesmente lança muitas vezes, porque consegue encontrar boas posições para o fazer. Mais do que qualquer outro, Kobe cria espaço para os seus próprios lançamentos e assume as suas responsabilidades, independentemente das estatísticas.
A NBA não será a mesma depois de Kobe, tal como não foi a mesma depois de Jordan. Não faltarão outros talentos, muitos já jogam na liga, mas não haverá outro Kobe Bryant, tal como não haverá outro Michael Jordan…
A questão aqui é um bocado a questão do ovo ou da galinha, a nível de qualidade podemos debater quem é melhor, até porque tudo está aberto a discussão, a diferença é que o Jordan marcou uma diferença no tipo de jogadores da NBA, para além de ter levado a modalidade para além dos EUA (ainda mais). De qualquer forma, o jogo vai sentir a falta do “Black Mamba”.
É isso Lança,
Um fez o caminho para que o outro pudesse triunfar com mais visibilidade. Mas, e se fosse ao contrário? Se Kobe tivesse surgido primeiro que o Jordan?
Mais um excelente artigo 😉
Quanto ao video acerca do momento em que ele passa o Jordan, apenas tenho a dizer que só mostra o valor de ambos os jogadores nesta Liga. Basta reparar que o Kobe “apenas” (sim, “APENAS” – atenção às aspas!) subiu ao 3º lugar dos melhores marcadores de sempre.
Tudo isto se deve ao facto de ter ultrapassado o Michael Jordan (Greatest Of All Time), com o público (a maioria estava a apoiar a equipa contrária) a fazer um chamado “Standing Ovation”. Isto só mostra o valor que ambos têm!
Respect (tanto para o MJ, como para o Kobe, como também para estes grandes adeptos)!
Olá Miguel,
Foi realmente um momento que define o desporto na perfeição em todos os aspectos. Concordo em absoluto quando dizes que foi um grande marco para a história da NBA, tanto por Kobe ser um dos melhores de sempre mas, também, por ter passado aquele que é considerado o melhor por muitos fãs. Tem outro peso, tem outro significado que não teria se outro qualquer tivesse sido ultrapassado, mesmo que fosse na mesma a terceira posição a estar em causa.
Obrigado pelo teu feedback!
Grande artigo! Sem dúvida que qualquer grande jogador marcou a sua era, neste caso Michael Jordan deu o impulso que a NBA precisava para se expandir de forma absolutamente fantástica – nem vale a pena falar de tudo o que fez e alcançou – e Kobe Bryant foi, quer se queira, quer não, e gostos à parte, o jogador que dominou a liga desde 2000 para diante. Se tivermos em consideração que os LA Lakers são o maior ‘franchise’ da NBA – os Celtics têm mais um titulo de campeões, eu sei, mas nem se compara todo o historial e a consistência de uns com outros, já para não falar em tudo o que envolve as equipas que vai para lá do campo de basquetebol – ver que Kobe, já é claramente, o melhor jogador da sua história, diz bastante acerca de mais um enorme atleta que tivemos – e ainda temos – o privilégio de ver jogar! Como estes não iremos ver muitos mais.
Para terminar, excelente artigo, interessante do inicio ao fim, com uma linha condutora sempre coerente 😉
Muito obrigado pelo feedback! 😉
O teu comentário é uma boa “sidenote” para o artigo. Concordo com tudo, acaba por não ser uma questão de opinião mas de evidências para quem gosta da modalidade e da NBA em particular.