+1 202 555 0180

Have a question, comment, or concern? Our dedicated team of experts is ready to hear and assist you. Reach us through our social media, phone, or live chat.

I must not fear. Fear is the mind-killer!

O ritual do cinema é muito mais do que assistir a um filme. É a magia dos detalhes da tela gigante, do som perfeitamente articulado e desenhado para nos provocar emoções. Regressar a tudo isto após mais de ano e meio de pequeno ecrã e Netflix, seria por si só fantástico… No entanto, regressar com Dune, revelou-se ainda mais especial.

Não sendo grande fã de filmes de ficção científica nem tendo lido a obra que originou o filme,  fiquei com uma enorme curiosidade, desde que foi lançado o primeiro trailer desta adaptação de Denis Villeneuve. Seja pelo elenco, pelo diretor ou pelo génio de Hans Zimmer, a forma como este Dune de 2021 nos é apresentado mostra-se totalmente singular e promissora.

Esta é a primeira parte da adaptação do romance de ficção científica com o mesmo nome, do escritor americano Frank Herbert, publicado em 1965. Considerado o livro de ficção científica mais vendido no mundo e a obra que influenciou todo o género, é um dos pilares da ficção científica moderna. O próprio universo Star Wars deve muito da sua existência a Dune, uma vez que o seu criador, George Lucas, se inspirou na obra de Herbert para desenvolver a sua narrativa. No entanto, a primeira adaptação do livro ao cinema estreou em 1984, por David Lynch, numa abordagem algo confusa e que até hoje divide opiniões.

Dune passa-se num futuro distante, num império intergaláctico em expansão, dividido por feudos controlados por Casas Nobres, aliadas à Casta Imperial.

Arrakis – mais conhecido por Duna ou Dune – é o planeta deserto e a única fonte da substância mais poderosa do universo, a Especiaria, uma droga poderosíssima capaz de prolongar a vida, expandir a consciência e viajar entre planetas. A trama inicia quando o imperador retira o domínio de Arrakis à Casa de Harkonnem para o entregar ao Duque Leto Atreides (Oscar Isaac). Apesar de prever ser uma armadilha obscura dos seus adversários, o Duque aceita a missão e muda toda a Casa de Atreides do planeta Caladan para Arrakis, na tentativa de assumir o controlo do planeta e forjar alianças com os nativos Fremen. Este é o ponto inicial de um esquema que tem como objetivo virar as casas aristocráticas contra Atreides, o qual será traído em segredo pelo imperador e atacado pelo repugnante líder dos Harkonnem, o Barão Vladimir (Stellan Skarsgard). Paul Atreides (Timothée Chalamet) é a personagem central de toda a história, filho de Leto Atreides e da sua concubina Lady Jessica (Rebecca Fergunson), cujo nascimento marcou o fim de um plano levado a cabo pela ordem das Bene Gesserit.

Os sonhos proféticos e o teste do Gom Jabbar, uma das cenas mais bem conseguidas desta primeira parte, marcam a ascendência de Paul à plenitude dos seus poderes – um messias cuja missão é libertar o povo, os Fremen. Bravos guerreiros que desde sempre lutam contra o domínio dos opressores de Arrakis, num estilo de vida e cultura que é fruto da resiliência e da capacidade de adaptação para a sobrevivência.

Numa história que explora as complexas relações humanas, a intriga política, a religião, a tecnologia e a sustentabilidade ambiental, Dune apresenta-nos uma perspectiva diferente de outros filmes do género. Denis Villeneuve, que leu Dune pela primeira vez aos quinze anos e que encontrou na obra uma enorme fonte de inspiração para o seu trabalho, quis recriar o filme tal como o imaginou na adolescência e totalmente fiel ao livro. Sem grandes saltos no tempo ou inovadores eclipses tecnológicos, o filme recria o género na sua essência, através da associação de conspirações Shakespearianas e de um certo heroísmo, que troca a tecnologia pela emoção humana – em todo o filme não existe um único computador, existindo tecnologia e maquinaria inovadora, em mecanismos analógicos ou biológicos. 

Villeneuve traz-nos um filme de ficção científica que vai beber muito do que é a história ancestral da humanidade e das suas raízes. Da paleta cromática aos majestosos interiores, passando pelos incríveis efeitos sonoros e pelos duelos que resultam numa espécie de dança com ritmos e intensidade díspares, nenhum detalhe é deixado ao acaso na procura da ampliação dessa dualidade de perspetivas e conceitos que acaba por orientar todo o filme – digital e analógico, presente e passado, bem e mal.  

Curiosamente o filme estreia numa semana em que estamos a braços com aquilo que se prevê ser o início de uma crise energética, sendo o petróleo, as energias renováveis e a sustentabilidade ambiental assuntos que estão na ordem do dia. Dune apresenta-nos uma dimensão radical desta problemática, não fosse a moeda de troca em Arrakis, a água! Será esta história a representação de aspetos políticos e humanos que ainda não aconteceram?!
Dune é a primeira parte de uma promissora história sobre a capacidade de adaptação, resiliência e humanidade. O triunfo do espírito humano sob o medo. É apenas o início.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico
Share this article
Shareable URL
Prev Post

O homem que se escondeu da memória

Next Post

Grátis

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

Cultura em extinção

A cultura e as histórias dos países e das gentes estão profundamente ligadas. Diria mesmo que a cultura é uma…

Sabor a água

Persianas fechadas a sequestrarem o escuro da sala. Os intensos feixes do sol não eram bem vindos. Uma cerveja…