Há dias em que certas verdades não nos ocorrem, outros há, em que nos batem forte como um autocarro em contramão.
Nascemos. Crescemos. Morremos. Entre estes três pontos, vivemos.
Na infância, o mundo parece-nos infinito. Rasgos de contrariedade são rapidamente esquecidos, os dias sucedem-se numa alegria imensa entre birras «eu quero», «és má» e «não gostas de mim». As sete cores do arco-íris enchem-nos as medidas e o verão nunca acaba.
Com o espoletar das hormonas a vida começa a criar novas tonalidades, mais preto e branco, muitos cinzentos. Não sabemos o que queremos e definitivamente, ninguém gosta de mim. Entre desgostos relativamente traumáticos, o corpo ganha centímetros, com sorte, o cérebro acompanha-o.
Sair do ninho, voar sozinho, mais longe, sem rede. És meu, sou tua. Hoje sim, amanhã, talvez não. As incertezas fazem parte do caminho, as pedras também. Avancemos.
Descobrimos a beleza de novas formas de existir; deambulamos entre pedras, calhaus, flores silvestres, cidades. O nosso reflexo começa a emergir.
Por vezes, os calhaus transformam-se em montanhas intransponíveis. Solução? Contorná-las. Dói. A distância é maior, os músculos enrijecem. Olhamos para o lado e alguém de sempre já não caminha ao nosso lado. Continua a doer, o vazio acompanha-nos. Vejo-te noutros sorrisos, ecos do passado. É preciso avançar, de preferência, sem titubear.
Há realidades difíceis de admitir. Os verdadeiros tumultos nem sempre são externos. O teu sorriso engana. Grandes lutas acontecem entre o sono e a vigília, quando a almofada absorve a transpiração, nada mais. Cada um vive, decide por si, por mais complexas essas escolhas nos possam parecer. Cada alma dita o caminho da auto-salvação.
Tudo muda, a impermanência é lei.
Tudo o que existe, de uma mosca a um icebergue, de um pensamento a um império passa pelo mesmo ciclo de existência: nascimento, crescimento, decadência e morte.
«Só a vida é contínua, ainda que procurando autoexpressão em novas formas. A vida é um processo de fluxo e aquele que se apega a qualquer forma, por mais esplendorosa que seja, irá sofrer por resistir ao fluxo.» Dizem os Budistas, parece-me acertado.
«A vida é uma ponte, não construas pois casas sobre ela. Atravessa somente… ».
Há dias assim.