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Game of Thrones Round 4 – Fight!

A quarta temporada de Game of Thrones começa com uma reinvenção: uma velha espada a ser refeita em algo novo. Qual é a mensagem presente nesta cena? Em Westeros, nada pode travar o progresso e a evolução. É um relembrar da escala e da falta de remorsos que servem de força condutora para a série, desde o seu início, levando ao assassinato de três personagens centrais para o desenvolvimento da história, durante o Red Wedding, no final da terceira temporada. Porém, no primeiro episódio desta nova temporada, mal temos tempo de notar as suas ausências. Em pouco mais de 10 minutos, somos postos a par sobre Daenerys, Jon Snow, Jaime, Tyrion, Sansa, Arya e a mais recente personagem a juntar-se à trama, Oberyn Martell. Afinal de contas, este quarto tomo de Games of Thrones ainda tem uma invasão de selvagens para impedir (ou, no caso de Daenerys, começar), casamentos para planear e desenvolver as várias vinganças que estão a ser preparadas em vários pontos de Westeros.

A estreia da quarta temporada é um excelente relembrar do que Game of Thrones tem de melhor. Existem cenas imaculadamente coreografadas e de lutas violentas, diálogos inteligentes e mais certeiros do que uma espada, visuais deslumbrantes, cenas repletas de tensão sexual… ou seja, o de costume. Este é também um dos episódios com a melhor componente gráfica apresentada até à data, sendo que o CGI usado para criar os dragões é, particularmente, bem executado. Os exércitos aparentam não ter fim, quando vistos do alto. A cena em que as espadas são forjadas tem uma componente de fotografia de tirar o fôlego. O que comprava, mais uma vez, que, com o fim de Breaking Bad, Game of Thrones é a melhor série de televisão a ser exibida actualmente.

A grande nova adição à série é Oberyn Martell, personagem representada por Pedro Pascal, cuja importância advém não só do facto de ser mais um peão nesta luta pelo poder, mas também por ser o primeiro vislumbre que temos da cultura de Dorne, de que só haveríamos ouvido falar até agora. Dorne é possivelmente o mais peculiar de todos os Sete Reinos de Westeros, já que foi o único reino que não caiu perante o poder conquistador de Aegon, the Conqueror, tornando-se parte dos Sete Reinos graças a um casamento forjado para criar uma aliança, há mais de 200 anos. Como tal, Dorne manteve uma identidade distinta dos restantes reinos e têm o costume peculiar de permitirem às mulheres herdarem títulos dos seus maridos, irmãos e pais (por exemplo, o lobo de Nymeria foi baptizado com o nome de uma das rainhas guerreiras de Dorne).

Contudo, de todos os personagens que demonstraram as diferenças que a temporada passada trouxe, a história que consegue ser mais poderosa é a de Arya. Na terceira temporada, conseguimos ver a forma como a personagem mais carismática de Westero foi caindo, cada vez mais, nas trevas em que se encontra, ao ser capturada pela Brotherhood Without Banners e, depois, raptada pelo The Hound. Fomos testemunhas da forma como muitos personagens lhe fizeram mal, desfazendo a sua alma no processo, e como esteve tão próxima de voltar a estar próxima da sua mãe e do seu irmão mais velho, apenas para ser novamente testemunha de um massacre familiar. Em “Mhysa“, o episódio final da terceira temporada, apunhalou o homem de Lannister que havia cozido a cabeça de um lobo no corpo do irmão, num momento simultaneamente satisfatório e triste. Satisfatório, por Arya, finalmente, ter expressado toda a dor que sente e ter conseguido ganhar algum sentido de retribuição com essa expressão. Triste, por estar gradualmente a mudar a sua personalidade, enquanto personagem.

Em “Two Swords“, a sede de sangue que foi libertada em “Mhysa” leva Arya a um local ainda mais negro. A caminho do Vale, onde reina a irmã de Catelyn, Lysa, Arya e o The Hound encontram Polliver, o homem de Lannister que roubou a espada de Arya na segunda temporada e que a usou para matar Lommy, algo que lhe garantiu um lugar destacado na Lista de Mortes da jovem princesa. Ao encontrarem Polliver numa pousada, uma luta começa entre o The Hound e todos os homens presentes no estabelecimento. Enquanto que o raptor de Arya se defende, partindo umas quantas cabeças, esta refugia-se na parte de trás da pousada, mas, ao ver uma abertura em direcção a Polliver, decide agarrar uma espada quase do seu tamanho, mata um Lannister de forma gentil, tal como havia sido ensinada por Syrio Forel, e recupera a espada que lhe havia sido roubada. Dirigindo-se a um Polliver caído no chão, Arya debita as mesmas palavras que este disse a Lommy antes de o matar e decide trespassar a espada pelo seu pescoço, conseguindo, desta forma, a vingança que tanto desejava. Contrariamente à maioria das mortes apresentadas em Game of Thrones, que se focam no sangue derramado, desta vez a câmara recua, mostrando uma Arya a apresentar-se superior ao homem que acaba de matar, numa silhueta iluminada pela luz que entra por uma porta aberta, enfatizando não só a morte que acaba de acontecer, mas principalmente no que é que esta ocorrência faz a Arya. Se compararmos o prazer que ela tem em matar Polliver com a reacção que teve, quando realizou a sua primeira morte, é possível ver a sua evolução. Ou o seu recuo como ser humano, depende do ponto de vista.

Este episódio de estreia é simplesmente maravilhoso. Onde muitos dos episódios mais fracos de Game of Thrones têm problemas com a velocidade em que a sua narrativa se desenvolve, este episódio sabe controlar perfeitamente a sua narrativa, começando com uma cena misteriosa, recorrendo a uma construção lenta de alguns pontos individuais do enredo de algumas personagens e terminando com uma das cenas mais intensas e gratificantes de toda a série. Seria de esperar que um novo episódio de Game of Thrones deixasse os fãs satisfeitos, depois de uma espera de dez meses, mas “Two Swords” deixou qualquer um a salivar por mais.

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