Primeiro, segundo ou terceiro. É sempre entre o top3 que a Finlândia se encontra, quando se compara indicadores socioeconómicos entre países. Elevados níveis de qualidade de vida, acesso à educação pública gratuito, transparência politica, segurança pública, expectativa de vida, bem-estar social e acesso à saúde pública são apenas alguns dos factores que posicionam este país nórdico no topo do desenvolvimento e crescimento económico sendo o único aspecto, aparentemente, desfavorável o clima. Com excepção do frio, a Finlândia parece ser o lugar onde a perfeição decidiu repousar e onde a interacção entre estado e cidadãos, governos e eleitores é quase imaculada.
Assente politicamente numa república parlamentar, composta por um governo central e governos locais, a Finlândia aparenta saber dominar a arte de fazer funcionar o Estado Social, que muitos teóricos e economistas acreditam ser impossível de suportar. À semelhança dos restantes países nórdicos, o acordo entre cidadãos e Estado funciona como uma aliança inquebrável. Os cidadãos comprometem-se a pagar elevadas taxas de impostos e o Estado compromete-se a retribuir o esforço com uma gama de serviços públicos, desde saúde, educação e serviços de administrativos, ampla e de fácil acesso para a população toda. É nesta cedência de poderes entre Estado e cidadãos que se baseia o sucesso da Finlândia.
Criado entre 1970 e 1990, o Estado Social da Finlândia é um dos sistemas mais eficazes do mundo. Até aos anos 50, a Finlândia era um país predominantemente agrícola sendo o rendimento per capita relativamente baixo. Contudo, a partir da década de 60 deu-se uma rápida industrialização e aí começou-se a desenhar o forte tecido empresarial finlandês que hoje conhecemos, com especial incidência na indústria florestal, produtos químicos e mais recentemente, indústria electrónica e máquinas.
Nesta nova dinâmica de pensar a economia finlandesa, o Estado desempenhou, e continua a desempenhar, um papel determinante para o crescimento da economia e se tornasse numa das maiores da Europa, mesmo após um período de depressão económica no início dos anos 90. Ao Estado é dado o papel primário, actuando como o principal financiador das empresas privadas e detendo um conjunto de empresa públicas, que são geridas de forma eficaz e rentável. Os serviços são todos orientados pelo Estado, mesmo havendo espaço para a iniciativa privada, e revelam uma qualidade extrema, levando a uma preferência por parte dos cidadãos do serviço público em detrimento do privado (98% dos alunos estão inserido numa rede pública e gozam de ensino gratuito).
É graças a esta posição do aparelho de Estado que a Finlândia, embora seja o único país nórdico que integra a Zona Euro, consegue se manter acima da média europeia, promovendo o contínuo rendimento das suas instituições. Assim, a transparência na actuação dos actores políticos e o constante diálogo entre cidadãos e Estado tem-se revelado proveitoso para ambas as partes.
Quando se fala da Finlândia, a palavra exemplo e modelo, quase que surgem automaticamente. Uns admiram e outros perguntam como é possível conseguirem taxas de sucesso tão elevadas. Nas palavras da actual ministra da Educação, Krista Kiuru, “ os serviços básicos bons e gratuitos são o coração da sociedade de bem-estar finlandesa. De acordo com este pensamento, todas as pessoas têm o direito a ter serviços de qualidade, não importando a sua origem familiar ou o local de residência”. O segredo, afinal, é simples e já todos o conhecem: todos têm direito a um serviço público de qualidade e cabe ao Estado saber gerir os recursos para salvaguardar esse direito. Todos conhecem o segredo, mas poucos o fazem como a Finlândia.